Brasil

Rio tenta impedir confrontos nas praias depois de arrastões

Os jovens de favelas norte ameaçam levar facas à praia. Já os justiceiros querem combatê-los com objetos caseiros, como fitas adesivas e paus de barracas de sol


	Os jovens de favelas da zona norte ameaçam levar facas à praia e justiceiros querem combatê-los com objetos caseiros
 (Alexandre Macieira/ Riotur)

Os jovens de favelas da zona norte ameaçam levar facas à praia e justiceiros querem combatê-los com objetos caseiros (Alexandre Macieira/ Riotur)

DR

Da Redação

Publicado em 26 de setembro de 2015 às 11h59.

Rio - Moradores da zona sul organizados em grupos para reagir aos arrastões na orla de Copacabana e de Ipanema e os adolescentes que praticam esses assaltos prometem para este fim de semana um embate à beira-mar.

Os jovens de favelas da zona norte ameaçam levar facas à praia. Já os justiceiros querem combatê-los com objetos caseiros, como fitas adesivas (para "algemar") e paus de barracas de sol (para bater).

Para evitar os roubos e impedir a ação dos "defensores", a polícia anunciou a montagem, hoje e amanhã, de 34 barreiras para revistar ônibus que vão à zona sul e o reforço na segurança com 700 policiais. A meteorologia prevê para hoje tempo nublado e calor de 40ºC.

O confronto entre adolescentes que participam dos arrastões e justiceiros ganhou as redes sociais ao longo da semana. Moradores mais exaltados, alguns frequentadores de academias, organizados em grupos de WhatsApp e do Facebook, marcaram pontos de encontro para seguir à praia.

"Eles crescem em bando, vamos em bando também", escreveu um. "Ninguém vai apanhar quieto. Se vierem de pau, a gente vai de faca", disse ao Estado um dos integrantes do "coreto", como se intitulam os adolescentes que roubam na zona sul.

Jacarezinho

Os ônibus que fazem o trajeto zona norte-Ipanema ou Leblon se tornaram símbolo da crise nas praias. O 474 parte do Jacarezinho, complexo de favelas da zona norte, em que vivem 40 mil pessoas; 40% delas com renda mensal entre meio e um salário mínimo.

Em 2012, recebeu uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Os confrontos entre policiais e traficantes diminuíram, mas a relação de moradores com a polícia continua tensa.

Num dos episódios mais graves, três PMs foram denunciados à Justiça pelo estupro de duas mulheres e uma adolescente, em 2014.

"A chamada pacificação trouxe muita expectativa para os moradores, houve muita promessa. Mas nada de concreto foi feito. Não tem creche. Não tem UPA (posto de saúde de atendimento imediato). O lixo não é recolhido nas casas, só na rua principal. A meninada continua solta nas ruas, sem perspectiva de vida. É evidente que essas ações na praia são uma busca por visibilidade. Esses jovens querem ser vistos", disse o padre Dário Ferreira da Silva, de 63 anos.

Ele chegou à favela em 2011, quando os tiroteios frequentes o obrigavam a fechar a escola que atende a 500 alunos do ensino fundamental.

A aposentada Andreia Lopes, de 65 anos, que mora há 48 no Jacarezinho, discorda. "Criei meus três filhos aqui e nenhum deu para bandido. A polícia tem mais é que parar os ônibus e pegar esses garotos que estão roubando cordão na praia."

Os jovens do chamado "coreto" costumavam exibir nas redes sociais cordões, relógios e celulares roubados na praia. Os perfis foram desativados, e os grupos se tornaram fechados. Também publicam funks no YouTube.

Leonardo, de 19 anos, morador do Jacarezinho, se revolta com a atuação dos justiceiros. "Eles vieram batendo com mão, com pau, quebrando janela de ônibus. Se fosse (sic) nós, tava agarrado (preso)."

Ele conta que costuma participar do "blocão", como também são chamados os grupos de adolescentes que vão para a praia fazer arrastão. "A gente vai pra curtir a praia. Quando a polícia começa a sufocar, a gente junta uma galera e parte pra dentro (dos banhistas)." Ele disse que já apanhou nas abordagens policiais nos ônibus.

"Eles já entram batendo. Bate em nós, bate nas meninas, bate nos menor (sic) que não são do coreto. Isso revolta a gente, bater em inocente."

Defesa

O policial civil Maurício Bellini, de 43 anos, que publicou texto no Facebook defendendo que síndicos de edifícios neguem para a polícia imagens do sistema de câmeras que mostrem justiceiros atacando suspeitos nas ruas, disse que o objetivo do grupo não é "cometer crimes", mas afirma que "matar seria legítima defesa".

"A polícia está impedida de trabalhar na sua essência. (Os adolescentes) vêm sem um tostão no bolso, já cometendo o crime de pular a roleta, perturbando o sossego alheio, quebrando o ônibus. Vêm com o único objetivo de assaltar."

Em razão dos arrastões e dos confrontos com os moradores, a Secretaria de Segurança antecipou a Operação Verão. Nos fins de semana, 700 PMs e 300 guardas reforçarão o policiamento - entre eles, profissionais de batalhões especiais da PM, como o Choque, Ações com Cães, Grandes Eventos e Polícia Montada. Os ônibus passarão por 17 pontos de bloqueio pela manhã e outros 17 à tarde.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acompanhe tudo sobre:cidades-brasileirasFavelasMetrópoles globaisPoliciaisRio de JaneiroTráfico de drogasViolência urbana

Mais de Brasil

PM afasta policial que atirou à queima-roupa em rapaz em São Paulo

Tarifa de ônibus em SP será de R$ 5,00; veja quando passa a valer

Alexandre de Moraes mantém prisão do general Braga Netto

Chega a oito o número de mortes confirmadas após queda de ponte