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Rio tem um terço dos internados com coronavírus em estado grave

Rede do SUS tem 447 internados, sendo 159 em CTIs. Para Lígia Bahia, nesse ritmo "sistema não vai dar conta"

Coronavírus: 71% dos leitos em UTIs destinados a pessoas com covid-19 já estão lotados (Fabio Teixeira/Getty Images)
AO

Agência O Globo

Publicado em 14 de abril de 2020 às 10h02.

Última atualização em 14 de abril de 2020 às 21h14.

Um terço dos pacientes infectados pelo novo coronavírus internados nos hospitais públicos da cidade do Rio está em Centros de Tratamento Intensivo (CTIs). Dados do Painel Rio Covid-19, mantido pela prefeitura da capital, mostram que, dos 447 doentes hospitalizados na rede do Sistema Único de Saúde (SUS), 159 se encontram em unidades destinadas aos casos mais graves. A proporção é parecida se observada apenas a rede municipal: nesta segunda-feira, dos 195 internados, 62 estavam em CTIs.

Além do agravamento, o rápido crescimento do número de casos preocupa. Em uma semana, a quantidade de pessoas hospitalizadas nas unidades da prefeitura dobrou. No último dia 6, eram 86. No domingo, chegou a 170. Com isso, o Hospital Ronaldo Gazolla, em Acari, adaptado para ser referência no tratamento do coronavírus, por exemplo, já está com 117 de seus 150 leitos ocupados. Na tarde desta segunda, só havia seis vagas no CTI, que tem 50 lugares.

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Na rede estadual, metade das enfermarias e 71% dos leitos em UTIs destinados a pessoas com covid-19
já estão ocupados. Diante desse cenário, especialistas se preocupam com a possibilidade de a rede pública entrar em colapso antes que os hospitais de campanha fiquem prontos.

"Nesse ritmo, não vai dar tempo de prover leitos, respiradores e profissionais de saúde suficientes", afirmou Ligia Bahia, especialista em saúde pública da UFRJ. "Por mais que haja esforços para hospitais de campanha e reserva de leitos, acho que o sistema não vai dar conta. E, mesmo se conseguirmos, faltam respiradores e pessoal".

Mais vagas no Gazolla

O prefeito Marcelo Crivella anunciou nesta segunda-feira que o hospital de campanha no Riocentro ficará pronto no domingo, mas não deu prazo para entrar em funcionamento. O Ronaldo Gazolla, por sua vez, deve ganhar mais leitos, passando de 150 para 381. Já a promessa do governo estadual é abrir pelo menos 2.200 leitos provisórios até o fim do mês. Além disso, a rede tem reservadas 500 vagas em unidades como o Instituto Estadual do Cérebro e o Hospital Universitário Pedro Ernesto.

O Estado do Rio já contabiliza 3.221 casos de pessoas com Covid-19 e 182 mortes, sendo 12 em apenas 24 horas. Na capital, são 2.322 casos confirmados e 115 óbitos. Em apenas um dia, foram 356 registros de pessoas contaminadas, o maior número desde a chegada da doença. Para a subcoordenadora de saúde da Defensoria Pública, Alessandra Nascimento, a rede disponível nunca foi suficiente para atender a demanda mesmo sem o coronavírus:

"Se efetivarem as quase quatro mil vagas extras, como prometem todas as redes, vai dar uma folga, mas o fato é que os leitos sempre foram escassos para a demanda natural. Acrescentando, então, o problema do coronavírus, sabemos que os hospitais não darão conta. Então, precisamos criar logo novos leitos".

A Defensoria Pública estadual tenta desbloquear leitos fechados por problemas técnicos, como a necessidade de obras. Atualmente, há a esperança, por exemplo, de liberar 20 vagas na Coordenadoria de Emergência Regional (CER) do Leblon e 20 no Hospital Albert Schweitzer, em Realengo. O presidente do Sindicato dos Médicos do Rio, Alexandre Telles, disse que também há a expectativa de reabertura de 40 leitos da Santa Casa. Números, porém, tímidos, levando em consideração que o Estado do Rio fechou 1.002 leitos nos últimos quatro anos em hospitais de referência, de acordo com números do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES).

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