PSL, de Bolsonaro, dá espaço a descontentes, dizem analistas
Partido do candidato à Presidência abriu as portas para setores que almejavam maior representatividade, sem necessariamente ter ideologia definida
Estadão Conteúdo
Publicado em 14 de outubro de 2018 às 10h36.
Última atualização em 14 de outubro de 2018 às 10h36.
São Paulo - Na carona da popularidade do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), candidatos de sua sigla transformaram um partido considerado nanico até o domingo da eleição na segunda maior bancada da Câmara, com 52 deputados. No Senado, a sigla estreia já com 4 assentos. Na avaliação de analistas, o PSL abriu as portas para setores da sociedade que estavam descontentes e almejavam maior representatividade, sem necessariamente ter uma identidade ideológica definida.
"Essa eleição revela o desejo de segmentos da população de renovar a composição do Congresso. Eles encontraram um canal no PSL e na proposta de Bolsonaro, por fazerem uma crítica muito séria contra os outros partidos e o modo tradicional de fazer política", avalia o cientista político da USP José Álvaro Moisés. O analista considera "evidente" que a bancada faz parte de uma onda conservadora, mas, em sua opinião, "isso não quer dizer que não seja também uma renovação".
Para Moisés, o fato de Bolsonaro ser um capitão reformado que elogia as Forças Armadas deu alternativa a certos grupos descontentes. Os militares, afastados da disputa de poder político desde a redemocratização, encontraram no PSL um canal para viabilizar sua participação. Empresários também.
Joyce Luz, cientista política e professora da Fundação Escola de Sociologia (FESP), segue linha semelhante para explicar o perfil dos bolsonaristas. "Renovação, neste sentido, é aquilo que não tem nada a ver com a política anterior. O PSL parece ter aberto as portas para esses candidatos", afirma.
Diversidade. Para os analistas ouvidos pelo Estado, o fato de a diversidade do perfil dos bolsonaristas estar praticamente na mesma proporção que nos demais partidos é uma casualidade. A professora da FESP não vê relação entre o perfil dos eleitos e as prioridades do eleitorado nesta disputa. Joice Hasselmann, a deputada federal mais votada do País, por exemplo, não explorou o fato de ser mulher em sua campanha.
"É difícil pensar que o eleitor que escolheu os candidatos do PSL tenha pesado que eram mulheres, negros, pardos, etc. Não que sejam racistas, machistas, essas coisas. Mas talvez esse fator não seja decisivo para o voto", argumenta a professora da FESP. O discurso fortemente militarizado, de privilégio da segurança, provavelmente é a principal bandeira deles, complementou José Álvaro Moisés. Os militares são 25% dos deputados federais da legenda.
O fato de mulheres e negros terem sido eleitos no partido de um candidato que ofendeu negros e mulheres não significa que os interesses desses segmentos estarão representados no Congresso. A análise é do professor de Ciência Política da USP Glauco Peres. Para ele, é preciso observar se os parlamentares terão espaço de liderança nas bancadas e no partido, entre outros elementos.
Uma hipótese para o patamar ter sido, mais ou menos, o mesmo na eleição de mulheres pode ser atribuído à cota estabelecida neste ano pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de reserva de 30% de recursos do fundo eleitoral e do tempo de rádio e TV. "O fato de ter uma legislação que proporciona espaço para que as mulheres fossem votadas, de algum jeito, pode ter levado a uma maior representação das mulheres", afirma Glauco.