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PSDB escancara disputa interna nos votos

A votação da bancada do PSDB na Câmara sobre a denúncia contra o presidente Michel Temer refletiu a disputa interna vivida no partido

Aécio Neves: nega ter influenciado a votação da bancada, dizendo que o assunto é "exclusivamente da Câmara" (Evaristo Sa/AFP)

Aécio Neves: nega ter influenciado a votação da bancada, dizendo que o assunto é "exclusivamente da Câmara" (Evaristo Sa/AFP)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 3 de agosto de 2017 às 13h49.

Brasília - A votação da bancada do PSDB na Câmara sobre a denúncia contra o presidente Michel Temer refletiu a disputa interna vivida no partido. Mesmo licenciado do comando da legenda, o senador Aécio Neves (MG) trabalhou para obter maioria pró-governo entre os tucanos. Do outro lado, o senador Tasso Jereissati (CE) e o governador Geraldo Alckmin (SP) foram as principais forças aglutinadoras contra Temer.

O placar entre os tucanos ficou apertado: 22 foram contra o prosseguimento da denúncia e 21 a favor. Houve ainda quatro ausências, das quais três eram considerados votos certo contra Temer: Shéridan (RR), Pedro Vilela (AL) e Eduardo Barbosa (MG) - este último faltou por causa da morte de sua mulher em um acidente.

As movimentações começaram no início do dia, quando o Planalto exonerou dez dos 12 ministros com mandato de deputado. Ficou de fora Ricardo Barros (PP-PR), da Saúde, cujo suplente é Nelson Padovani (PSDB-PR). O Planalto sabia que ambos votariam a favor de Temer, mas optou por não fazer a substituição para garantir um voto a mais do PSDB.

A ala tucana pró-desembarque atribuiu a estratégia a Aécio. Outro foco de atuação do senador mineiro teria resultado na ausência da deputada Shéridan, que era contabilizada como voto contrário ao governo. Aos colegas, ela teria prometido desembarcar em Brasília até o meio-dia, mas não atendeu mais às ligações.

Aécio, no entanto, nega ter influenciado a votação da bancada, dizendo que o assunto é "exclusivamente da Câmara". Nos bastidores, a ala mineira acusou Alckmin de pressionar os deputados paulistas a votarem contra o governo.

"Agora o racha é evidente. Não tem mais ninguém em cima do muro. Não tem nada pessoal, mas há uma disputa partidária de dois grupos. A discussão sobre o desembarque anda com a escolha do presidente do partido", disse o deputado Daniel Coelho (PSDB-PE), um dos líderes do grupo que defende a eleição permanente de Tasso para o comando da legenda.

Sem unidade

Do lado de Tasso, as movimentações foram feitas na reunião da bancada na Câmara. O encontro, feito antes do início da sessão, foi esvaziado pelos simpáticos a Temer, mas o líder do PSDB na Câmara, deputado Ricardo Tripoli (SP), decidiu orientar a bancada pelo prosseguimento da denúncia.

Na prática, a decisão significava recomendar voto da bancada contra o relatório do próprio partido, uma vez que o deputado Paulo Abi-Ackel (MG) assinou parecer recomendando a rejeição do pedido de investigação.

"Faço uma consideração ao meu colega, a quem estimo e respeito, mas cujo parecer não representa o partido, nem foi respaldado previamente pelos colegas", disse Tripoli. O líder é visto como um aliado de Tasso, presidente interino do partido, e admitiu que conversou com o senador cearense sobre o posicionamento da bancada. Entre os paulistas, 11 dos 12 votaram pelo prosseguimento da denúncia.

"Isso pegou a bancada de surpresa e não reflete o sentimento da maioria do partido", afirmou o deputado Domingos Sávio (MG), aliado de Aécio. A medida também foi vista como uma forma de constranger os ministros tucanos - Antonio Imbassahy (BA), da Secretaria de Governo, e Bruno Araújo (PE), das Cidades.

Antes de o resultado da votação ter sido proclamado, Aécio e Tasso já tinham combinado de se encontrar hoje para discutir o comando do PSDB. A reportagem apurou que Aécio quer seguir como presidente licenciado até maio de 2018, enquanto Tasso não aceita mais permanecer como presidente interino.

'Vitória momentânea'

Após a derrota no plenário, deputados da oposição afirmaram que o governo obteve uma vitória momentânea, mas reconheceram que terão de mudar de estratégia para aprovar uma nova denúncia que poderá ser apresentada contra o Michel Temer pela Procuradoria-Geral da República. "O desafio é mobilizar a população pelo 'fora, Temer'", disse o deputado Paulo Teixeira (PT-SP).

Deputados também afirmaram que o governo gastou todas as armas para barrar a denúncia e, se tiver de enfrentar nova acusação, não terá mais o que oferecer. "Temer vai ter dificuldade de se manter no governo, porque o custo político vai ficando cada vez maior", disse o deputado Ivan Valente (PSOL-SP). Para a deputada Jandira Feghali (PC do B-RJ), novas denúncias vão recair sobre Temer. "Esse processo não acaba aqui."

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