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PSDB arquiva processos de expulsão por "infidelidade"

Decisão aprovada por executiva nacional do partido beneficia, entre outros, Aécio Neves e desafetos do governador de São Paulo, João Doria

PSDB decidiu arquivar todos os pedidos de expulsão protocolados contra integrantes da legenda (Gerdan Wesley/PSDB/Divulgação)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 21 de fevereiro de 2019 às 11h35.

São Paulo - Em reunião realizada nesta quarta-feira, 20, em Brasília, a direção executiva nacional do PSDB decidiu arquivar todos os pedidos de expulsão protocolados contra integrantes da legenda. A medida beneficiou o deputado e ex-senador Aécio Neves (MG) e desafetos do governador João Doria.

Tratado com discrição pela cúpula tucana, o encontro foi comandado pelo ex-governador Geraldo Alckmin, presidente nacional da sigla, e não teve a participação de João Doria, que passou o dia em Brasília.

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Partiu de aliados do atual governador paulista a iniciativa de pedir a expulsão de vários quadros do PSDB por "infidelidade partidária" nas eleições do ano passado.

Entre outros, foram arquivados os pedidos contra o ex-governador Alberto Goldman, o ex-secretário de governo Saulo de Castro e o prefeito de Santos, Paulo Alexandre Barbosa.

Todos foram acusados de ter apoiado Márcio França (PSB) na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes e boicotado a campanha de Doria, que foi eleito no segundo turno. Aliados do governador paulista foram até Brasília no ano passado pressionar o partido pela expulsão.

Já a representação pedindo a expulsão de Aécio do PSDB foi protocolada na executiva nacional pelo deputado Wherles Fernandes da Rocha (AC), sob alegação de quebra de decoro parlamentar por parte do ex-senador. Na representação, Rocha afirma que, após Aécio ter sido obrigado a se licenciar da presidência do PSDB, em 2017 - na esteira do escândalo envolvendo a divulgação da gravação de uma conversa na qual o então senador pedia R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista, um dos sócios da JBS -, houve perseguição àqueles que pediram o seu afastamento.

A executiva tucana, porém, arquivou o pedido sem nem mesmo enviá-lo ao Conselho de Ética, o que abriria um longo processo interno. O entendimento da cúpula do partido foi de que o atual estatuto só prevê punições quando a condenação já ocorreu em última instância. Procurada, a assessoria do deputado Aécio Neves não quis comentar a decisão.

Apesar de ter poupado seus quadros, a executiva do PSDB reconheceu que o atual estatuto ficou obsoleto após o Supremo Tribunal Federal decidir que é possível a prisão após condenação em segunda instância.

Em janeiro, o ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB) foi preso no apartamento onde mora, em Curitiba, na 58.ª fase da Operação Lava Jato. Ele foi acusado de supostos crimes na concessão de rodovias do Estado, mas já foi liberado.

Em novembro do ano passado, o então governador de Goiás Marconi Perillo, que integra a executiva do PSDB, foi preso enquanto prestava depoimento no âmbito da Operação Cash Delivery, que investiga o pagamento de R$ 12 milhões em propina da Odebrecht para campanhas eleitorais do tucano. A Justiça Federal, porém, concedeu, um habeas corpus a Perillo.

Já o ex-governador de Minas Gerais Eduardo Azeredo (PSDB), condenado a 20 anos no caso do mensalão tucano, segue preso. Em nenhum desses casos houve qualquer tipo de punição por parte do partido.

Há uma forte pressão no PSDB, sobretudo no grupo ligado a Doria, para que o estatuto seja mais duro.

Racha

O arquivamento dos casos de expulsão por infidelidade partidária foi mais um capítulo na disputa interna entre o atual governador, que prega uma renovação da executiva, e a corrente da "velha-guarda" tucana alinhada a Alckmin.

"O arquivamento foi uma derrota para o Doria. Não fui fiel ao candidato (ao governo), mas fui fiel à minha consciência", afirmou Goldman. O ex-governador paulista, que fez campanha aberta contra Doria em 2018, disse que "lamentou" o fato de o pedido de expulsão não ter sido sequer enviado ao Conselho de Ética. "Se fosse, eles me dariam um palanque", brincou. Goldman reconhece, contudo, que o estatuto tucano está "defasado" e precisa de uma nova redação. Procurada pela reportagem, a assessoria do governador João Doria disse que ele não iria se manifestar.

Aliado de Doria, o prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando, foi quem deu voz ao sentimento do grupo. "O PSDB será passado a limpo quando a nova direção assumir. Essa carta de alforria tem prazo de validade e será curta", disse. Ainda segundo o prefeito de São Bernardo do Campo, o PSDB "não suporta traidor" e Goldman "não representa ninguém" no partido.

Guinada

O grupo de Doria no PSDB pretende eleger o ex-deputado e ex-ministro Bruno Araújo (PE) como presidente nacional da legenda, em maio, no lugar de Alckmin. A ideia é promover uma guinada conservadora no partido e aproximar a legenda da administração do presidente Jair Bolsonaro (PSL).

Alckmin não foi localizado até a conclusão desta edição para comentar o resultado da reunião da executiva.

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