Eduardo Campos e Marina Silva durante evento do PSB para anunciar a chapa presidencial (Ueslei Marcelino/Reuters)
Da Redação
Publicado em 27 de junho de 2014 às 16h47.
Brasília - O PSB lança oficialmente neste sábado a candidatura de Eduardo Campos à Presidência da República, tendo como vice a ex-senadora Marina Silva, numa chapa que surge com o discurso de que representa um novo modo de fazer política, em um momento em que a população mostra amplo desejo de mudanças.
Ainda assim, a candidatura que se propõe como via alternativa, e aposta no desgaste da polarização PT x PSDB, ocupa um distante terceiro lugar nas pesquisas eleitorais, com Campos oscilando ao redor dos 10 por cento das intenções de voto.
O patamar é praticamente o mesmo que tinha Marina nessa mesma época da corrida presidencial há quatro anos. Na reta final da campanha do primeiro turno de 2010, porém, ainda que tenha terminado em terceiro lugar, Marina obteve quase 20 milhões de votos e forçou a segunda rodada entre a petista Dilma Rousseff e o então candidato do PSDB, José Serra.
Agora, Dilma, que busca a reeleição, lidera a corrida, tendo até o momento como principal adversário novamente um candidato do PSDB, desta vez Aécio Neves.
Mas como as pesquisas mostram que a população quer mudanças e lembrando a arrancada de Marina há quatro anos, líderes do PSB mantêm o otimismo.
"Há um sentimento muito forte na sociedade brasileira... quem representa a inovação, quem representa essa esperança de mudança em direção a um novo futuro é o Eduardo Campos, junto com a Marina", disse o líder do PSB no Senado e candidato ao governo do Distrito Federal pelo partido, Rodrigo Rollemberg.
O senador acredita que ainda há tempo para mudanças no cenário eleitoral, uma vez que a atenção do eleitor não está, no momento, focada nas eleições. Especialmente nestes tempos de Copa do Mundo.
Para ele, assim como para outros socialistas, há perspectiva de crescimento, ainda que a coligação formada também pelo PPS, PPL, PRP e PHS tenha poucos minutos de televisão, algo considerado essencial pelas campanhas adversárias.
"Essa é mais uma questão importante, o modelo da política brasileira baseado em tempo de televisão e estrutura de campanha. Se o desejo é real de mudança, é possível que uma nova estrutura de campanha sintonize isso", disse o deputado Walter Feldmann (PSB-SP), porta-voz da Rede Sustentabilidade, partido que Marina tentou criar, sem sucesso, antes do prazo limite para disputar a eleição deste ano.
O deputado, próximo da ex-senadora, aposta no uso das redes sociais e nas campanhas nos Estados para apresentar as ideias dos candidatos, a exemplo da campanha de Marina em 2010.
"Será uma campanha de tablado, e não de palanque", disse o deputado à Reuters. "Tem um sentimento, um fluxo, tem um vento favorável a essa terceira via."
O PSB deve tentar aproveitar ao máximo a presença de Marina como vice de Eduardo Campos, mas ainda é incerto a capacidade da ex-senadora de atrair votos para o cabeça de chapa.
Daí surge outra frente de batalha que a campanha de Campos deverá travar: a de torná-lo mais conhecido e colar no candidato a imagem de um bom gestor, respaldada por altos índices de aprovação de suas duas gestões à frente do governo de Pernambuco.
"Tem que divulgar o trabalho que ele fez no Nordeste, mostrar que ele é um grande gestor para que a população brasileiria venha a saber o que ele fez em Pernambuco", disse o senador Antônio Carlos Valadares (PSB-SE).
Tensão Interna
A filiação da ex-senadora ao PSB surpreendeu muita gente e causou rebuliço nos meios políticos. Ex-petista e ministra do Meio Ambiente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Marina vinha se esforçando para criar o Rede Sustentabilidade depois de deixar o PV, partido pelo qual disputou a Presidência em 2010.
Mas tendo frustrada sua tentativa de criar o Rede, filiou-se ao PSB, partido que já tinha um nome praticamente certo para concorrer ao Planalto. Campos, presidente nacional do PSB, deixara suas intenções bem claras com a saída de seu partido do governo Dilma, que ele integrou até setembro do ano passado.
A filiação de Marina ao PSB foi acompanhada por aliados seus que trabalhavam na criação do Rede.
Se a aliança entre Marina e do sua ainda inexistente Rede com o PSB inovou do ponto de vista de previsibilidade no campo nacional, por outro lado também tem gerado ruídos, às vezes bem altos, nas negociações estaduais.
Em pelo menos dois importantes colégios eleitorais, o compromisso ideológico e programático pode ter sido deixado de lado para viabilizar alianças do PSB, com o PSDB, em São Paulo, e com o PT, no Rio de Janeiro, justamente partidos a que a dupla se contrapõe no âmbito nacional.
Esses acordos estaduais causaram tensão entre militantes e lideranças da Rede e do PSB. A ponto de, na última quinta-feira, o Rede, que apesar de não ser formalmante um partido, tem estrutura própria, soltar uma nota procurando mostrar sintonia dentro da campanha.
A nota argumenta que tanto a Rede como o PSB são "independentes" e têm "autonomia política", garantindo, no entanto, que Marina participará de atos da campanha em todos os Estados.
O documento, porém, faz questão de lembrar que "os militantes da Rede têm data para deixar o PSB, conforme compromisso firmando entre os partidos no fim do ano passado”, explicando que isso ocorrerá quando a Rede obtiver seu registro como partido na Justiça Eleitoral.
Rusgas à parte, pelo menos no campo nacional, a estratégia será a de qualificar o modelo atual como "desgastado" e taxar a oposição, encabeçada pelo PSDB, como mero "contraponto desse modelo".
"Essa é uma via aternativa, uma coligação que se propõe a ter uma posição em relação ao Brasil que modifique sua agenda, o modelo político e o modelo de gestão do Estado", disse Feldmann.
"A gente não se diz nem de oposição nem de situação. A gente recolhe pontos positivos do PT e do PSDB. Mas reconhece que o salto que o Brasil precisa não está mais ligado ao modelo atual", afirmou.