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Da Redação
Publicado em 14 de junho de 2013 às 19h22.
Brasília - Um protesto de movimentos sociais em Brasília se uniu nesta sexta-feira às manifestações maciças ocorridas por causa dos reajustes do preço dos transporte em São Paulo e Rio de Janeiro, que geraram um clima de tensão antes da Copa das Confederações.
No caso de Brasília, a manifestação foi justamente contra o torneio promovido pela Fifa e, apesar das medidas extremas de segurança que existem na cidade, aconteceu em frente ao estádio Nacional Mané Garrincha, no qual este sábado Brasil e Japão disputarão a partida de abertura da competição.
O protesto foi convocado por movimentos sociais que reclamavam contra o elevado gasto público com o evento esportivo e as desapropriações causadas por ele em cidades sedes.
No Brasil, segundo denunciou o Movimento dos Sem-Teto, um dos organizadores do protesto, cerca de 50 mil pessoas vivem na rua e "não recebem nenhuma atenção de um Governo que gasta milhões em um campeonato de futebol".
O protesto coincidiu com a divulgação de um comunicado da relatora da ONU sobre o Direito à Habitação, Raquel Rolnik, que afirmou que "experiências passadas demonstram que os grandes eventos esportivos acabam muitas vezes em desalojamentos forçados".
"Isto, infelizmente, não é diferente no Brasil", disse Raquel na nota, divulgada pelo escritório nacional da ONU e na qual afirmou que essa situação "atenta" contra o direito à moradia.
As autoridades não souberam explicar como, apesar das medidas de segurança, as quase 500 pessoas que participaram do protesto puderam bloquear o trânsito e levar cerca de 200 pneus em que atearam fogo em frente ao Mané Garrincha, no qual será jogada a primeira partida da Copa das Confederações.
O secretário de Segurança de Brasília, Sandro Avelar, admitiu que as autoridades foram "surpreendidas", mas garantiu que "isso não voltará a acontecer" e disse que se amanhã, durante a partida, acontecer alguma desordem, se agirá com "todo o rigor".
A Polícia não pôde prevenir o protesto apesar de a partir desta sexta-feira ter começado a operar a plena capacidade um centro de segurança inaugurado na quinta-feira pela presidente Dilma Rousseff, que recebe imagens em tempo real de câmeras instaladas nos arredores do estádio de Brasília e em helicópteros que sobrevoam a região de forma permanente.
O ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, descartou que a onda de protestos que o país vive possa afetar o desenvolvimento da Copa das Confederações.
No entanto, esclareceu que no Brasil, assim como existe "o direito de manifestação", o Estado conta com "instrumentos para conter qualquer abuso dos manifestantes ou da repressão a eles".
Rebelo pareceu se referir a ação da Polícia em São Paulo, onde nesta quinta-feira um forte protesto contra uma recente alta de tarifas do transporte foi reprimida com uma severidade incomum.
Os confrontos no centro paulista se prolongaram durante quase cinco horas, deixaram dezenas de feridos e, segundo dados oficiais, foram detidas provisoriamente 237 pessoas, entre elas alguns jornalistas que cobriam os fatos.
Outra manifestação contra a alta do transporte foi registrada também na quinta-feira no Rio de Janeiro, onde os distúrbios foram de menor intensidade, mas causaram a detenção de 34 pessoas.
O ocorrido em São Paulo alarmou a organização Anistia Internacional, que expressou sua preocupação com a violenta ação policial.
"É preocupante o discurso das autoridades defendendo uma maior radicalização da repressão e a detenção de jornalistas e manifestantes, que em alguns casos foram acusados de formação de quadrilha", disse a Anistia em comunicado.
Os protestos foram organizados pelo Movimento Passe Livre, nascido nas universidades e que tem apoio de diversas forças políticas, entre as quais a Juventude do PT, da presidente Dilma.
O movimento convocou novas manifestações para a próxima segunda-feira em São Paulo, cidade alheia à Copa das Confederações, que será disputada em Brasília, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Fortaleza e Salvador.