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Professores denunciam grupos discriminatórios na UFRJ

Estudantes e professores denunciam o surgimento de grupos autodeclarados de direita, que discriminam gays, negros, mulheres e pessoas de esquerda

Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ): foi assassinado, no sábado, o aluno Diego Vieira Machado, de 30 anos (Wikimedia Commons)
DR

Da Redação

Publicado em 5 de julho de 2016 às 21h59.

Rio - Estudantes e professores da Universidade Federal do Rio de Janeiro ( UFRJ ), onde foi assassinado, no sábado, o aluno Diego Vieira Machado, de 30 anos, no campus da Ilha do Fundão, denunciam o surgimento, nos últimos dois anos, de grupos autodeclarados de direita, que discriminam gays , negros , cotistas, mulheres e pessoas com orientação política de esquerda.

Esses coletivos compartilham, nas redes sociais, comentários preconceituosos e os intimidam também pessoalmente. Depois de ouvir colegas e amigos de Machado, a Polícia acredita que a provável causa do crime foi homofobia, uma vez que ele era gay e conhecido por seu ativismo.

A família dele, que é do Pará, espera hoje a liberação do corpo para o sepultamento.

No Facebook, um grupo de alunos que se autodenominam de direita debochou do crime e da motivação investigada: "O camarada foi achado morto, no Fundão, com sinais de espancamento. (...) A escumalha fascistoide se prendeu só ao fato da vítima ser um gay. Pronta e morbidamente começaram a capitalizar o crime em prol da agenda viadista que defendem. Já brotam, em várias páginas, comentários que mais parecem fanfics, dizendo que foi crime de ódio, homofobia, blablabla...", escreveram integrantes do grupo intitulado UFRJ da Opressão. Em outra postagem, foi compartilhada a piada: "Morreu um gay: suspeita de homofobia.

Morre um negro: suspeita de racismo. Um cara se explodiu dizendo `Allahu Akbar' ("Deus é grande" em árabe, frase usada por terroristas): não vamos nos precipitar".

"Todas as minorias estão vulneráveis na UFRJ, especialmente quem estuda à noite e quem mora no alojamento universitário", disse a professora Georgina Martins, da Faculdade de Letras, onde Machado estudava.

"Os gays são ainda mais vulneráveis, assim como os negros, os cotistas, os pobres e as pessoas de esquerda. O Diego se enquadrava em tudo isso. É como se essas pessoas dissessem: `voltem para a senzala, esse lugar não é seu'". A professora tem um filho homossexual e teme pela sua segurança.

Aluno desde 2012 e morador do alojamento, por não ter residência no Rio e vir de família pobre, o estudante morto é descrito como militante pelos amigos.

Posicionava-se abertamente sobre sua orientação sexual e travava embates com quem o discriminava. Mantinha amizades na Escola de Belas Artes, fazia performances, escrevia poesia e participava de atos políticos, como os que tomaram a reitoria da UFRJ ano passado por melhores condições de ensino e moradia. Os mais próximos o ajudavam com alimentação e roupas.

A amiga e vizinha Pérola Rodrigues, de 22 anos, contou que Machado tinha transtorno de personalidade borderline, o que o fazia instável emocionalmente e impulsivo.

Ele vinha fazendo terapia num serviço gratuito oferecido pela universidade. "Ele era rebelde e batia boca mesmo, não deixava passar. Recebia ataques racistas e homofóbicos, porque seu comportamento livre incomodava essas pessoas que propagam o ódio. Existe um avanço do conservadorismo na sociedade, e na UFRJ não seria diferente", lamentou Pérola, da Escola de Comunicação da UFRJ.

Ela não acredita que uma pessoa sozinha fosse capaz de dominar e agredir Machado, que tinha 1,85 metro, era forte, tinha boa condição física e noções de autodefesa.

"Isso seria impossível de acontecer." Machado foi visto pela última vez às 10 horas, quando saía para correr. Seu corpo foi encontrado por volta das 17 horas, perto do edifício da Educação Física, já rígido, o que indica que a morte ocorreu bem antes. Ele estava com marcas de agressão no rosto e sem calça, só de camiseta - mais um indicativo de crime de homofobia. A Delegacia de Homicídios identificou suspeitos, entre eles, alunos.

Segundo Matheus Carvalho, de 23 anos, aluno da Faculdade de Direito e um dos administradores de um grupo no Facebook para pessoas LGBT da UFRJ, são comuns relatos LGBTfóbicos.

"As pessoas LGBT não se sentem confortáveis em ambientes da UFRJ onde são feitas piadas homofóbicas, como festas e nas aulas de alguns professores preconceituosos. Existem muitos espaços em que essa opressão é reproduzida, e a UFRJ não se manifesta institucionalmente".

No banheiro da Escola de Comunicação, no campus da Praia Vermelha, a pichação "Morte aos gays da UFRJ" foi coberta por um desenho de arco-íris. Em outro banheiro, este no Centro Técnico da Engenharia, no Fundão, foi escrito "Só tem viado nessa porra" (sic).

Em maio, a universidade lançou a campanha "Não se Cale", "para combater opressões e violências na UFRJ", encorajando denúncias de casos de machismo, homofobia, assédio moral, racismo e outras formas de violência muitas vezes naturalizadas.

Nesta terça, 5, foi ampliada a cobertura de câmeras de vigilância no câmpus do Fundão, com a instalação de dezessete novos equipamentos perto do alojamento, três delas, capazes de girar 360 graus. As imagens são monitoradas em tempo real. Quase todos os 5,2 quilômetros quadrados do câmpus estão cobertos hoje pelas câmeras, segundo o reitor, Roberto Leher, com poucos pontos cegos. A Polícia está analisando os registros referentes a sábado.

Leher decretou luto oficial e se posicionou tachando o crime de "perverso e bárbaro". "Não podemos admitir que qualquer integrante da comunidade universitária sinta-se sob ameaça", afirmou, em carta divulgada no site da universidade.

A família de Machado, que quer enterrá-lo em sua cidade natal, Acará, a cem quilômetros de Belém, está sendo assistida.

"Meu irmão não brigava fisicamente com ninguém, só argumentava, mas acabou virando alvo por isso. Desde os 16 anos era gay assumido, e chegou a ser atacado e ter os cabelos cortados por alunos da nossa escola por isso", contou o irmão, Maycon Machado, de quem o estudante se mantinha próximo, apesar da distância física.

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Esses coletivos compartilham, nas redes sociais, comentários preconceituosos e os intimidam também pessoalmente. Depois de ouvir colegas e amigos de Machado, a Polícia acredita que a provável causa do crime foi homofobia, uma vez que ele era gay e conhecido por seu ativismo.

A família dele, que é do Pará, espera hoje a liberação do corpo para o sepultamento.

No Facebook, um grupo de alunos que se autodenominam de direita debochou do crime e da motivação investigada: "O camarada foi achado morto, no Fundão, com sinais de espancamento. (...) A escumalha fascistoide se prendeu só ao fato da vítima ser um gay. Pronta e morbidamente começaram a capitalizar o crime em prol da agenda viadista que defendem. Já brotam, em várias páginas, comentários que mais parecem fanfics, dizendo que foi crime de ódio, homofobia, blablabla...", escreveram integrantes do grupo intitulado UFRJ da Opressão. Em outra postagem, foi compartilhada a piada: "Morreu um gay: suspeita de homofobia.

Morre um negro: suspeita de racismo. Um cara se explodiu dizendo `Allahu Akbar' ("Deus é grande" em árabe, frase usada por terroristas): não vamos nos precipitar".

"Todas as minorias estão vulneráveis na UFRJ, especialmente quem estuda à noite e quem mora no alojamento universitário", disse a professora Georgina Martins, da Faculdade de Letras, onde Machado estudava.

"Os gays são ainda mais vulneráveis, assim como os negros, os cotistas, os pobres e as pessoas de esquerda. O Diego se enquadrava em tudo isso. É como se essas pessoas dissessem: `voltem para a senzala, esse lugar não é seu'". A professora tem um filho homossexual e teme pela sua segurança.

Aluno desde 2012 e morador do alojamento, por não ter residência no Rio e vir de família pobre, o estudante morto é descrito como militante pelos amigos.

Posicionava-se abertamente sobre sua orientação sexual e travava embates com quem o discriminava. Mantinha amizades na Escola de Belas Artes, fazia performances, escrevia poesia e participava de atos políticos, como os que tomaram a reitoria da UFRJ ano passado por melhores condições de ensino e moradia. Os mais próximos o ajudavam com alimentação e roupas.

A amiga e vizinha Pérola Rodrigues, de 22 anos, contou que Machado tinha transtorno de personalidade borderline, o que o fazia instável emocionalmente e impulsivo.

Ele vinha fazendo terapia num serviço gratuito oferecido pela universidade. "Ele era rebelde e batia boca mesmo, não deixava passar. Recebia ataques racistas e homofóbicos, porque seu comportamento livre incomodava essas pessoas que propagam o ódio. Existe um avanço do conservadorismo na sociedade, e na UFRJ não seria diferente", lamentou Pérola, da Escola de Comunicação da UFRJ.

Ela não acredita que uma pessoa sozinha fosse capaz de dominar e agredir Machado, que tinha 1,85 metro, era forte, tinha boa condição física e noções de autodefesa.

"Isso seria impossível de acontecer." Machado foi visto pela última vez às 10 horas, quando saía para correr. Seu corpo foi encontrado por volta das 17 horas, perto do edifício da Educação Física, já rígido, o que indica que a morte ocorreu bem antes. Ele estava com marcas de agressão no rosto e sem calça, só de camiseta - mais um indicativo de crime de homofobia. A Delegacia de Homicídios identificou suspeitos, entre eles, alunos.

Segundo Matheus Carvalho, de 23 anos, aluno da Faculdade de Direito e um dos administradores de um grupo no Facebook para pessoas LGBT da UFRJ, são comuns relatos LGBTfóbicos.

"As pessoas LGBT não se sentem confortáveis em ambientes da UFRJ onde são feitas piadas homofóbicas, como festas e nas aulas de alguns professores preconceituosos. Existem muitos espaços em que essa opressão é reproduzida, e a UFRJ não se manifesta institucionalmente".

No banheiro da Escola de Comunicação, no campus da Praia Vermelha, a pichação "Morte aos gays da UFRJ" foi coberta por um desenho de arco-íris. Em outro banheiro, este no Centro Técnico da Engenharia, no Fundão, foi escrito "Só tem viado nessa porra" (sic).

Em maio, a universidade lançou a campanha "Não se Cale", "para combater opressões e violências na UFRJ", encorajando denúncias de casos de machismo, homofobia, assédio moral, racismo e outras formas de violência muitas vezes naturalizadas.

Nesta terça, 5, foi ampliada a cobertura de câmeras de vigilância no câmpus do Fundão, com a instalação de dezessete novos equipamentos perto do alojamento, três delas, capazes de girar 360 graus. As imagens são monitoradas em tempo real. Quase todos os 5,2 quilômetros quadrados do câmpus estão cobertos hoje pelas câmeras, segundo o reitor, Roberto Leher, com poucos pontos cegos. A Polícia está analisando os registros referentes a sábado.

Leher decretou luto oficial e se posicionou tachando o crime de "perverso e bárbaro". "Não podemos admitir que qualquer integrante da comunidade universitária sinta-se sob ameaça", afirmou, em carta divulgada no site da universidade.

A família de Machado, que quer enterrá-lo em sua cidade natal, Acará, a cem quilômetros de Belém, está sendo assistida.

"Meu irmão não brigava fisicamente com ninguém, só argumentava, mas acabou virando alvo por isso. Desde os 16 anos era gay assumido, e chegou a ser atacado e ter os cabelos cortados por alunos da nossa escola por isso", contou o irmão, Maycon Machado, de quem o estudante se mantinha próximo, apesar da distância física.

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