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Procurador do RJ recebeu propinas de R$ 1,2 mi em obras do metrô, diz MP

Renan Saad era tratado como "Gordinho" no sistema Drousys, da Odebrecht , que registrava e controlava os pagamentos de propina

Metrô Rio: O procurador Renan Saad teria praticado "atos de ofício em favor das construtoras responsáveis pela linha 4", especialmente em relação à mudança do traçado original do metrô, de acordo com o MPF (Wikimedia Commons/Wikimedia Commons)

Metrô Rio: O procurador Renan Saad teria praticado "atos de ofício em favor das construtoras responsáveis pela linha 4", especialmente em relação à mudança do traçado original do metrô, de acordo com o MPF (Wikimedia Commons/Wikimedia Commons)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 1 de julho de 2019 às 13h24.

Última atualização em 1 de julho de 2019 às 13h25.

São Paulo — O procurador do estado do Rio de Janeiro Renan Saad, preso pela Polícia Federal na manhã desta segunda, 1, em desdobramento da Operação Lava Jato, recebeu pagamentos de R$ 1,265 milhão da Odebrecht relacionados à obra da Linha 4 do Metrô, indica a Procuradoria da República no Rio.

Segundo o Ministério Público Federal, Renan teria praticado "atos de ofício em favor das construtoras responsáveis pela linha", especialmente em relação à mudança do traçado original do metrô e viabilização do pagamento de uma tuneladora, equipamento conhecido "tatuzão".

As obras da Linha 4, que liga a zona sul à região da Barra da Tijuca, foram idealizadas em 1998 e retomadas pelo ex-governador Sérgio Cabral em 2009, após a escolha do Rio de Janeiro como sede Olimpíada de 2016. O custo das obras, inicialmente orçado em R$ 880 milhões, foi reajustado para R$ 9,6 bilhões, indicou a Procuradoria. O Ministério Público Federal chegou até o R$ 1,2 milhão após localizar, em uma empresa de manutenção de depósito de documentos contratada pela transportadora Transexpert, registro de pagamento realizado no endereço do escritório de advocacia de Renan Saad.

O local foi alvo de uma das ordens de busca e apreensão cumpridas na manhã desta segunda, 1, e já havia sido mencionado na delação do ex-diretor de contratos da Odebrecht Marcos Vidigal do Amaral como endereço de entrega de propina. Agentes também realizaram buscas na casa de Saad.

A apuração observou que Saad era tratado como "Gordinho" no sistema Drousys, destinado para a programação e execução das comunicações internas da Odebrecht relacionadas ao pagamento de propina.

Nove pagamentos feitos pela empreiteira ao procurador foram identificados pela procuradoria. As operações foram realizadas entre 2010 e 2012:

10/09/2010 - R$ 185.000,00;

24/09/2010 - R$ 100.000,00;

04/11/2010 - R$ 90.000,00;

01/12/2010 - R$ 90.000,00;

08/07/2011 - R$ 400.000,00;

06/10/2011 - R$ 100.000,00;

30/11/2011 - R$ 100.000,00;

16/02/2012 - R$ 100.000,00;

18/04/2012 - R$ 100.000,00.

De acordo com a Procuradoria, a prisão temporária de Saad foi deferida por causa da necessidade se colher depoimentos de pessoas subordinadas ao procurador para apuração dos crimes de pertencimento à organização criminosa e lavagem de dinheiro por intermédio do escritório de advocacia do investigado.

A investigação é decorrente de colaboração premiada de executivos da Odebrecht, informou o Ministério Público Federal.

Em delação, o ex-diretor de contratos da empreiteira Marcos Vidigal do Amaral indicou que o procurador do Estado da Secretaria de Transportes teria exigido um pagamento de R$ 300 mil para produzir um parecer para a retomada das obras da Linha 4 no Rio. Segundo a Polícia Federal, tal documento seria favorável a alteração das obras do Metrô.

O delator apontou ainda que o valor foi entregue em escritório do procurador localizado na Avenida Rio Branco, no centro do Rio. Segundo Amaral, a Odebrecht, a Queiroz Galvão e a Carioca realizaram o pagamento, proporcionalmente. Na primeira, a liberação foi feita pelo Setor de Operações Estruturadas, indicou o ex-diretor da empreiteira.

Defesa

A reportagem fez contato com o escritório do procurador. O advogado Gabriel Saad informou que a defesa do procurador vai se manifestar após se interar sobre o caso.

Em nota, a Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro (PGE-RJ) informa que "já apura o caso internamente para a adoção das medidas disciplinares cabíveis e que colabora de modo pleno com as investigações do Ministério Público Federal para a apuração dos fatos levantados pela Lava Jato no Rio de Janeiro".

A PGE-RJ informa ainda que "os fatos dos quais o procurador é acusado remontam ao período em que ele estava lotado como assessor jurídico chefe da Secretaria de Estado de Transportes (SETRANS), nomeado na gestão do ex-governador Sérgio Cabral, cargo do qual foi exonerado em junho 2012."

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