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Presidente do Chile rechaça comentário de Bolsonaro sobre Bachelet e pai

Sebastian Piñera, que é aliado de Bolsonaro, criticou declarações do brasileiro, assim como vários outros membros da política chilena

O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, e o presidente do chileno, Sebástian Piñera, durante Cúpula Presidencial de Integração Sul-Americana, em Santiago, no Chile. (Marcos Corrêa/P/Agência Brasil)

O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, e o presidente do chileno, Sebástian Piñera, durante Cúpula Presidencial de Integração Sul-Americana, em Santiago, no Chile. (Marcos Corrêa/P/Agência Brasil)

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AFP

Publicado em 4 de setembro de 2019 às 18h54.

Última atualização em 4 de setembro de 2019 às 19h56.

São Paulo - O presidente do Chile, Sebastián Piñera, rejeitou nesta quarta-feira (04) a menção feita por Jair Bolsonaro ao pai da ex-presidente chilena e alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, que morreu torturado em 1974 durante a ditadura de Augusto Pinochet.

"Não compartilho a alusão feita pelo presidente Bolsonaro a uma ex-presidente do Chile e, especialmente, num assunto tão doloroso quanto a morte de seu pai", disse Piñera em comunicado público no Palácio do Governo.

O presidente chileno também afirmou que qualquer pessoa pode ter o "próprio julgamento histórico" sobre os governos do país nas décadas de 1970 e 1980, mas ressaltou que tais opiniões "devem demonstrar respeito às pessoas".

O governo de Piñera é do campo da direita, mas já não havia endossado manifestações anteriores de Bolsonaro em favor do regime de Pinochet e da tortura.

Já em relação às declarações feitas por Bachelet de que "1.291 pessoas foram assassinadas pela polícia" apenas em São Paulo e Rio de Janeiro, Piñera afirmou que devem ser apresentadas evidências para respaldar as palavras.

"As declarações dadas pela alta comissária devem ser devidamente justificadas com antecedentes e as evidências correspondentes, que não foram acompanhadas publicamente nesta ocasião", afirmou.

Ao mesmo tempo em que Piñera dava a entrevista, o Ministério das Relações Exteriores chileno emitiu uma declaração do chanceler Teodoro Ribera.

"Hoje, Michelle Bachelet exerce o cargo de alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, e suas declarações e decisões são um assunto próprio de tal organização e dos Estados aos quais ela se refere", diz o comunicado.

Ribera fará amanhã uma visita a Brasília já previamente agendada para se encontrar com o chanceler brasileiro Ernesto Araújo, que disse hoje que Bachelet está "mal informada".

A declaração de Bolsonaro sobre Bachelet e seu pai foi condenada por políticos de vários campos no Chile, incluindo o ex-secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza:

"(Bolsonaro) é uma vergonha para o Brasil e para a região", disse Insulza, membro do Partido Socialista chileno e ex-ministro, a jornalistas.

Ele disse que "Bolsonaro demonstrou uma capacidade impressionante de insultar as pessoas" e que, portanto, o fato de ele aproveita "mais uma vez para felicitar Pinochet" não parece estranho.

Já o ex-ministro das Relações Exteriores chileno e presidente do Partido pela Democracia (PPD), Heraldo Muñoz afirmou que Bolsonaro "é um presidente que não está à altura do grande povo brasileiro" e que "muitos brasileiros devem se sentir envergonhados do seu presidente".

"As declarações de Bolsonaro revelam que ele não entende das normas de um Estado de Direito e o respeito universal aos Direitos Humanos", acrescentou.

Histórico

Bolsonaro afirmou hoje que Bachelet se intromete na soberania do Brasil e repete o presidente da França, Emmanuel Macron, com quem o brasileiro teve um embate sobre questões ambientais.

“Michelle Bachelet, comissária dos Direitos Humanos da ONU, seguindo a linha do Macron em se intrometer nos assuntos internos e na soberania brasileira, investe contra o Brasil na agenda de direitos humanos (de bandidos), atacando nossos valorosos policiais civis e militares”, escreveu nas redes sociais.

“Diz ainda que o Brasil perde espaço democrático, mas se esquece que seu país só não é uma Cuba graças aos que tiveram a coragem de dar um basta à esquerda em 1973, entre esses comunistas o seu pai brigadeiro à época”, acrescentou Bolsonaro.

Foi uma referência ao ano de início da ditadura militar chilena de Pinochet. Alberto Bachelet, pai de Michelle, foi um brigadeiro-general chileno da Força Aérea do Chile que se opôs ao golpe. Ele foi preso e submetido a tortura por vários meses até sua morte por ataque cardíaco sob custódia.

Na manhã desta quarta-feira, ao sair do Palácio da Alvorada, Bolsonaro disse que Bachelet “defende direitos humanos de vagabundos” e se dirigiu a ela:

“Senhora Michelle Bachelet, se não fosse o pessoal do Pinochet derrotar a esquerda em 1973, entre eles o teu pai, hoje o Chile seria uma Cuba. Eu acho que não preciso falar mais nada para ela. Quando tem gente que não tem o que fazer, vai lá para a cadeira de Direitos Humanos da ONU”.

Bolsonaro tem um longo histórico de defesa da ditadura e da tortura ao longo da sua carreira política. Em julho, atacou a memória do pai do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, morto pela ditadura militar brasileira, com informações falsas.

Bachelet foi presidente do Chile em duas oportunidades, de 2014 a 2018 e de 2006 a 2010. Ela assumiu o posto de alta comissária da ONU para os Direitos Humanos em setembro do ano passado.

Bolsonaro não é o primeiro líder latino-americano que a ataca recentemente. Em junho, a alta comissária foi para a Venezuela e denunciou violações de direitos humanos, incluindo torturas e esquadrões da morte, após entrevistas com dezenas de pessoas.

O relatório foi atacado pelo presidente venezuelano Nicolás Maduro, que o considerou “profundamente lesivo à dignidade do povo venezuelano”.

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