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Por que o brasileiro não está nem aí para as Olimpíadas

54% dos brasileiros estão indiferentes com realização dos Jogos Olímpicos no Rio. Falta de interesse global fez COI mudar formato do evento

Manifestantes protestam contra a realização das Olimpíadas Rio: Brasileiros não são os únicos a olhar com desconfiança para a realização dos Jogos (Tomaz Silva/ Agência Brasil)

Manifestantes protestam contra a realização das Olimpíadas Rio: Brasileiros não são os únicos a olhar com desconfiança para a realização dos Jogos (Tomaz Silva/ Agência Brasil)

Talita Abrantes

Talita Abrantes

Publicado em 9 de março de 2016 às 14h25.

São Paulo – Faltando menos de 150 dias para o início das Olimpíadas 2016 no Rio de Janeiro, a maior parte dos brasileiros parece estar alheia à realização do maior evento esportivo do mundo em terra natal.

É o que revela pesquisa da Hello Research com 1,2 mil pessoas de todas as regiões do país publicada com exclusividade por EXAME.com.

Ao todo, 54% dos entrevistados admitiram não nutrir qualquer interesse ou afirmam que estão indiferentes com o megaevento no Brasil. O número de ingressos comprados para a competição confirma essa tendência – até o momento, menos da metade dos bilhetes que garantem acesso às provas foram vendidos.

“O brasileiro está muito cético com relação ao legado das Olimpíadas”, afirma Davi Bertoncello, CEO do Hello Group. “Passou a Copa, tomamos o 7 a 1 da Alemanha, no dia seguinte não tinha mais estrangeiro, o que ficou? O questionamento é legítimo”.

Não por acaso, apenas 23% dos entrevistados acreditam piamente no discurso de que os Jogos Olímpicos irão legar mudanças e avanços sociais para o Brasil. Em contrapartida, de cada 10 brasileiros inquiridos pelo estudo, seis apostam que o evento será pretexto para desvio de recursos públicos.

Três hipóteses explicam o teor das respostas. A primeira diz respeito à estrutura dos Jogos Olímpicos: com exceção de algumas partidas de futebol, todos as provas estarão centradas no Rio. “Provavelmente, para um brasileiro no Acre não há a crença de que algo entregue no Rio de Janeiro possa ser um legado para toda a nação”, diz Bertoncello. 

A outra versa sobre o momento de desconfiança com a administração pública diante da multidão de suspeitas levantadas pelas investigações da Operação Lava Jato. Afinal, se o dinheiro investido não é revertido em benefícios para a população, quem estaria se beneficiando?  

Por outro lado, estudos elaborados por pesquisadores ligados ao Comitê Olímpico Internacional (COI) revelam que os brasileiros não estão sozinhos na sensação de indiferença com relação aos Jogos.

Nos últimos anos, os moradores de ao menos seis cidades na Europa e América do Norte rejeitaram a proposta de sediar as Olimpíadas ou os Jogos Olímpicos de Inverno - na maior parte dos casos, impelidos por um sentimento de crítica ao destino de recursos que poderiam se reverter em políticas públicas.

"A reação não é ao esporte em si. O que agride, principalmente aos jovens, é o tamanho dos Jogos. Para eles, é portentoso demais”, afirma o professor Lamartine Costa, que fez parte do grupo de estudos do COI e é professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

A expectativa, segundo o professor, é de que a Rio 2016 marque o fim de uma era de ostentação nos Jogos Olímpicos. A partir de 2020, na edição de Tóquio, no Japão, o COI pretende organizar competições com orçamentos bem mais enxutos do que visto nas últimas experiências.

Segundo o último levantamento da Autoridade Pública Olímpica (APO), os Jogos do Rio devem custar 39,1 bilhões de reais – 60% desse valor será bancado pela inciativa privada. 

A pesquisa da Hello Research foi realizada entre fevereiro e março de 2016 com 1,2 mil pessoas em todas as regiões do país. O índice de confiança é de 95% e a margem de erro é de 2,4 pontos.

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