Câmara de SP aprova anistia de dívidas de igrejas
As igrejas entraram no programa de Doria, que dá desconto entre 60% e 85% do valor dos juros e das multas àqueles que optarem por quitar seus débitos
Estadão Conteúdo
Publicado em 23 de junho de 2017 às 09h27.
Última atualização em 23 de junho de 2017 às 10h31.
São Paulo - Os vereadores paulistanos aprovaram nesta quinta-feira, 22, uma ampla anistia de dívidas de IPTU e de multas às igrejas da cidade de São Paulo .
Por pressão da "bancada cristã" na Câmara Municipal, a gestão do prefeito João Doria (PSDB) cedeu e incluiu a medida de última hora no projeto de lei que cria o Programa de Parcelamento Incentivado (PPI), que dá desconto entre 60% e 85% do valor dos juros e das multas aos contribuintes que optarem por quitar seus débitos com a Prefeitura à vista ou a prazo.
Com votos até da oposição, o projeto foi aprovado por 46 votos a favor (houve 1 voto contra e 3 abstenções) e segue agora para a sanção do prefeito.
O texto estabelece anistia para dívidas de IPTU acumuladas até o valor de R$ 120 mil por cada templo religioso até 31 de dezembro de 2016 e teto de R$ 120 mil para débitos não-tributários, como multas por barulho aplicadas pelo Programa de Silêncio Urbano (PSIU), contraídos pelas igrejas até a entrada em vigor da lei.
"Nosso intuito é fazer justiça a uma entidade que auxilia o Estado, que não visa o lucro e recupera a sociedade, como no caso dos dependentes químicos", disse o vereador Eduardo Tuma (PSDB), integrante da "bancada cristã" (cerca de dez vereadores) e um dos autores da emenda da anistia.
A inclusão do beneficio aos religiosos foi determinante para que Doria conseguisse aprovar o PPI na Câmara. Na última terça-feira, 20, quando o governo tentou votar o projeto, a sessão caiu por falta de quórum após a recusa em ceder ao pleito dos evangélicos.
Aliado de Doria, o presidente da Câmara, Milton Leite (DEM), disse que o governo não cedeu na questão da anistia, mas que a proposta foi elaborada pelos vereadores e pelos parlamentares.
"Isso aqui é um Parlamento, é assim que as coisas funcionam. Não é uma medida para os grandes templos, que estão todos regulares. É para aquelas igrejinhas de bairro, que estão em não-conformidade com o zoneamento e tomam multa do PSIU", disse.
Por lei, templos religiosos são isentos de tributos, mas a imunidade só é concedida após a conclusão de um rito burocrático dentro da Prefeitura, que exige dos templos, entre outros itens, alvará de funcionamento do imóvel onde são realizados os cultos e registro do imóvel ou contrato de locação em nome da igreja.
Segundo os vereadores, essa aprovação demora meses e as igrejas acumulam dívidas neste período. Pelo texto aprovado, o benefício da anistia se estende para os templos que ainda aguardam o registro de imunidade tributária.
Este é o sexto PPI feito pela Prefeitura desde 2006. Segundo levantamento feito pela bancada do PT, cerca de R$ 4,8 bilhões foram arrecadados pela administração municipal com o pagamento de dívidas parceladas de IPTU, ISS e ITBI nos últimos oito anos.
Com o novo programa, a gestão Doria estima arrecadar mais R$ 1 bilhão. Os débitos podem ser parcelados em até 10 anos, com parcelas mínimas de R$ 50 para pessoas físicas e de R$ 300 para pessoas jurídicas.
O projeto do PPI foi elaborado pela gestão Doria a partir de uma recomendação feita pela CPI da Dívida Ativa, presidida por Tuma. Segundo o tucano, o projeto é benéfico para a cidade no momento de crise econômica do País e a anistia dada às igrejas "não vai chegar a 2%" do que se pretende arrecadar com o PPI, ou seja, R$ 20 milhões.
"Muitas igrejas não conseguem a imunidade porque ficam em áreas irregulares da cidade e a burocracia as impedem de obter um direito garantido pela Constituição", disse Tuma.
"Quero fazer um destaque muito especial em relação à emenda das igrejas, um trabalho fundamental feito pela bancada cristã nesta Casa, vários vereadores se empenhando nisso", comemorou o vereador Ricardo Nunes (PMDB), com forte atuação junto à Igreja Católica.
Mesmo os vereadores do PT, que queriam descontos maiores para pequenos devedores e menores para grandes devedores, votaram a favor do projeto, após a inclusão de alguns pleitos da oposição, como a proibição de um criação de um novo PPI pela Prefeitura pelos próximos quatro anos e a isenção de IPTU para moradias estudantis que pertencem a associações de estudantes de universidades públicas, como a USP.
"Nosso substitutivo (derrotado no congresso de comissões) fazia a distinção entre pequenos e grandes devedores. É importante sinalizar para a sociedade que tratamos os diferentes de formas desiguais no que diz respeito à questão tributária. Não podemos dar o mesmo tratamento para um banco do que para um dono de padaria no Capão Redondo", disse o líder do PT, Antonio Donato.
O único voto contrário foi registrado pelo vereador Cláudio Fonseca (PPS), para quem a anistia às igrejas "não é necessária nem educativa". "Por tudo que vemos sendo edificado pelas igrejas na cidade esse tipo de isenção não me parece necessário. Defendo que todos paguem impostos conforme a capacidade contributiva. A Câmara oferece um mau exemplo à sociedade aprovando esse tipo de isenção", afirmou.