Geisel: a informação consta em memorando escrito por William Colby, diretor da Agência Central de Inteligência (CIA) (Getty Images/Getty Images)
Estadão Conteúdo
Publicado em 11 de maio de 2018 às 10h56.
São Paulo - Após a divulgação da informação de que o ex-presidente Ernesto Geisel (1974-1979) autorizou a política de "execução sumária" de opositores do regime militar, vigente no governo anterior, diversos políticos criticaram a atitude do então presidente militar. A informação consta em memorando escrito por William Colby, diretor da Agência Central de Inteligência (CIA).
O documento relata que, quando chegou ao cargo, Geisel foi informado de que 104 pessoas haviam sido mortas em 1973 pelo governo de Emílio Garrastazu Médici (1969-1974). O Centro de Informações do Exército (CIE), órgão responsável pela política de assassinatos de adversários políticos do regime, pedia autorização do general para manter a política.
Geisel autorizou, então, que o método ocorresse em "casos excepcionais" e com aval do Palácio do Planalto, mediante consulta ao diretor do Serviço Nacional de Informações (SNI), general João Baptista Figueiredo.
A pré-candidata do PcdoB ao Planalto, Manuela D'Ávila, afirmou que os documentos revelados perturbam todos que têm "uma história de luta pela memória e a verdade dos tenebrosos anos da ditadura militar". "As provas de que a cúpula do regime, Médici, Geisel, Figueiredo, estiveram diretamente envolvidos nos assassinatos dos 'subversivos' que ousaram desafiar o regime é uma verdade grande demais para seguir encoberta", escreveu.
1) Os documentos da CIA liberados ao público por perda de sigilo não perturbaram só quem os trouxe à luz, o estudioso e pesquisador Matias Spektor. Perturbam a todos nós que temos uma história de luta pela memória e a verdade dos tenebrosos anos de ditadura militar. https://t.co/r7qXE6AQFH
— Manuela (@ManuelaDavila) May 10, 2018
"Precisamos insistir na busca da verdade e do paradeiro daqueles que foram torturados, mortos e desaparecidos com a autorização e a cumplicidade do Palácio do Planalto".
O ex-senador e hoje vereador em São Paulo Eduardo Suplicy (PT) disse que a revelação comprova o quanto os militares descumpriram a Constituição e as normas de direitos humanos. "É da maior gravidade a revelação de que, em reunião no dia 30 de março de 1974, o presidente Ernesto Geisel tenha compactuado com assassinatos praticados pelo Estado.
É a comprovação de o quanto os governos militares descumpriram a Constituição, que vedava a pena de morte, e as normas de direitos humanos.
— Eduardo Suplicy (@esuplicy) May 10, 2018
A deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) escreveu que, com a divulgação, a ideia de que Geisel havia sido "estadista" fica fragilizada. "Caiu a burrice de que a ditadura foi nacionalista. Golpistas civis e militares de 1964 serviram aos EUA. E agora, a quem servem os golpistas?", questionou.
Caiu a ideia que Geisel foi estadista. Caiu a burrice de que a ditadura foi nacionalista. Igual a direita de hoje, sempre agiu como preposto de interesses estrangeiros em explorar o Brasil. Golpistas civis e militares de 64 serviram aos EUA. E agora, a quem servem os golpistas? https://t.co/z3EntAH1QQ
— Maria do Rosário (@mariadorosario) May 11, 2018
Exército
Por meio de nota, o Centro de Comunicação Social do Exército informou que "os documentos sigilosos, relativos ao período em questão e que eventualmente pudessem comprovar a veracidade dos fatos narrados foram destruídos, de acordo com as normas existentes à época". Procurado, o Palácio do Planalto informou que não vai comentar o caso.