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Político "mineiro", Alckmin tem gostos simples e é hábil nos bastidores

Natural de Pindamonhangaba, onde iniciou sua carreira política, Alckmin tem vários traços do estereótipo do cidadão do interior

Geraldo Alckmin: ele comandou o maior estado do Brasil, São Paulo, por quatro vezes (Paulo Whitaker/Reuters)

Geraldo Alckmin: ele comandou o maior estado do Brasil, São Paulo, por quatro vezes (Paulo Whitaker/Reuters)

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Reuters

Publicado em 4 de agosto de 2018 às 10h45.

Última atualização em 4 de agosto de 2018 às 10h46.

São Paulo - Um político de estilo "mineiro", muitas vezes desconfiado e com grande habilidade de articulação política nos bastidores, o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, é também reservado no plano pessoal e tem gostos e costumes que levaram críticos a taxá-lo desde "picolé de chuchu" até a "meio jeca".

Natural de Pindamonhangaba, interior de São Paulo, onde iniciou sua carreira política, Alckmin, que está com 65 anos, tem vários traços do estereótipo do cidadão do interior. Gosta de comidas simples, é contador de histórias, ao mesmo tempo que também é prudente e calculista na hora de agir.

"Ele tem um estilo muito mineiro. Estilo 'a vingança é um prato que se come frio'", disse à Reuters o deputado federal Floriano Pesaro (PSDB-SP), que foi secretário estadual de Desenvolvimento Social de Alckmin em um dos mandatos do tucano no governo de São Paulo.

"Eu considero ele um político desconfiado, ele tem poucos amigos", acrescentou Pesaro, que elogia o ex-chefe como um gestor preocupado com resultados e que cobra muito isso de seus auxiliares.

O tucano é um fenômeno em solo paulista. Comandou o maior estado do Brasil por quatro vezes, embora não tenha tido sucesso em suas duas tentativas de tornar-se prefeito da capital. Em sua primeira tentativa de voo nacional, em 2006, fracassou e foi derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva na eleição presidencial.

Naquela ocasião, depois de conseguir levar a disputa para o segundo turno, tentou mudar o estilo, adotando tom mais agressivo contra o petista, e colheu como resultado algo raro: depois de conseguir quase 40 milhões de votos no primeiro turno, viu uma redução de apoio na segunda rodada, quando somou 37,5 milhões de votos.

Passados 12 anos, Alckmin tem se declarado mais maduro.

Começou a trilhar o caminho para disputar mais uma vez o Palácio do Planalto há dois anos, quando contrariou caciques tucanos no Estado e patrocinou pessoalmente a candidatura de João Doria à prefeitura paulistana pelo PSDB.

Com a vitória do afilhado ainda em primeiro turno --algo que jamais havia acontecido na cidade desde a possibilidade de duas rodadas de votações--, Alckmin credenciou-se como principal nome tucano para a disputa presidencial.

Teve de lidar com movimentos do próprio Doria, recém-empossado no Edifício Matarazzo, em direção a uma eventual candidatura presidencial, que acabou não se concretizando. Doria deixou a prefeitura menos de um ano e meio após assumir para disputar o governo paulista.

Enquanto isso, o PSDB enfrentava problemas internos, com o então presidente da legenda, o senador Aécio Neves (MG), envolvido em escândalos. Com a saída do mineiro da presidência da sigla, o partido passou a viver a expectativa de uma disputa interna pelo seu comando.

Alckmin apareceu como solução, defendida pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, mas inicialmente tratou a possibilidade com reticências.

"Ele achava que não era importante presidir o partido. O importante era fazer a campanha. Depois nós mostramos para ele que era importante ter a direção da máquina partidária, porque se não você corre o risco de não ter o partido alinhado, e ele aceitou essa argumentação", disse Pesaro.

Alckmin assumiu o PSDB no final de 2017 e, a partir dali, já era o candidato virtual do partido à Presidência na eleição de outubro deste ano.

"Meio jeca"

A postulação do então governador paulista, no entanto, não era consenso no partido. O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, anunciou a intenção de disputar prévias contra o correligionário paulista, que não se opôs, ao menos publicamente. Mas as propostas de Virgílio para a realização de debates e modelo de prévias não prosperaram e, ao retirar seu nome, o prefeito disparou contra Alckmin.

"É um dos homens públicos mais - no mau sentido - mais banais, cheio de golpezinhos, cheio de historinhas, de pequenas espertezas", disse Virgílio à Reuters em fevereiro, quando retirou seu nome para disputar a indicação tucana ao Planalto.

"Ele acha que por exclusão ele virou candidato, por exclusão ele vai para o segundo turno e por exclusão ele vira presidente. Tudo por exclusão, nada por afirmação. Eu tenho uma impressão muito ruim dele hoje, a ponto de eu me sentir muito incompatibilizado com a ideia de votar nele. Não sinto que ele me tenha tratado com respeito, eu não tenho respeito por ele."

À época, Alckmin respondeu afirmando que Virgílio estava sendo injusto com ele e com o partido e, reservadamente, ficou chateado com as críticas.

"Ele achou que o Arthur foi desleal com ele. Mas o Geraldo não é de guardar rancor. Ele é de deixar as coisas passarem e, se tiver que dar o troco, ele vai dar na hora certa. Mas ele não é rancoroso, é diferente", disse Pesaro.

Alckmin concordou apenas com uma das críticas feitas pelo prefeito de Manaus, a de que é "meio jeca".

O ex-governador gosta de contar histórias, a esmagadora maioria delas de Pindamonhangaba. Os relatos vão desde "causos" políticos da cidade até anedotas do cotidiano.

Alckmin, que aponta seu pai Geraldo como seu grande ídolo, lembra frequentemente de um dos ensinamentos do patriarca: quem enriqueceu na política é ladrão.

Embora jamais tenha sido atingido em cheio por escândalos decorrupção, teve de conviver com episódios como o cartel nasobras do metrô paulista, irregularidades na aquisição de merenda para escolas estaduais, uma suposta menção a seu nome --com o codinome "Santo"-- na lista de propinas da Odebrecht e a citação de um delator da empreiteira a seu cunhado como destinatário de recursos que seriam usados em suas campanhas eleitorais em 2010 e 2014.

Alckmin, que é alvo de inquérito por suposta improbidade administrativa no caso em que delatores ligados à Odebrecht apontaram o tucano como beneficiário de 10 milhões de reais em caixa dois eleitoral, nega quaisquer irregularidades e aliados dizem que a citação em possíveis irregularidades incomoda o tucano.

"Dominar o centro"

O estilo simples já fez com que aliados de Alckmin chamassem sua atenção para o fato de estar usando roupas excessivamente gastas. Amante de cafezinhos, o tucano é capaz de tomar vários ao longo do dia, provocando azia em aliados que o acompanham em viagens. Gosta também de chocolates e, presenteado com marcas caras do produto, pode surpreender o autor do presente com uma gaveta cheia de bombons nacionais, seus favoritos.

"Ele sempre teve o perfil de uma vida modesta. A vida dele é o trabalho e a família. Ele trabalha de sábado, domingo, feriado. É até demais", disse o deputado federal Silvio Torres (PSDB-SP), nome próximo ao ex-governador.

Religioso, Alckmin também vai à missa todos os domingos, às vezes mais de uma vez. Torcedor do Santos, cita o clube do coração em eventos públicos, mas está longe de ser o mais fanático dos fãs do clube.

Com medo de avião e de helicóptero - mesmo antes de perder o filho caçula, Thomaz, em um acidente com uma aeronave deste tipo em 2015 -, prefere viajar de carro, sempre que possível e, se tiver que voar, opta por voos de carreira.

Em uma aparente tentativa de mostrar-se mais carismático ao eleitorado, recentemente começou a colocar vídeos em família em suas redes sociais. Em um desses vídeos, em que ensina um de seus netos as "artimanhas", em suas palavras, do xadrez, acabou por soltar uma frase que muito bem poderia se encaixar em seus esforços de articulação política para chegar à Presidência.

"O segundo objetivo é desenvolver as peças. O primeiro é dominar o centro, segundo as peças desenvolverem", disse Alckmin enquanto gesticulava sobre o tabuleiro.

O tucano teve de levar do tabuleiro real para o político as suas habilidades de enxadrista para fechar uma aliança com o chamado blocão - grupo de partidos formado por PP, DEM, PR, PRB e Solidariedade e que se autodenomina Centro Democrático.

"Ele teve diversos encontros e acho que foi convincente. As coisas deram certo. Havia um campo de afinidades reais. Ele é muito experiente, é habilidoso, conseguiu sucesso nessa empreitada", disse à Reuters o secretário-geral do PSDB, deputado Marcus Pestana (MG).

Médico anestesista de formação, Alckmin é casado há 39 anos com Maria Lúcia Alckmin, a "Lu" a quem costuma fazer declarações públicas de amor. Teve com ela três filhos - além de Thomaz, Geraldo e Sophia.

Acompanhe tudo sobre:Eleições 2018Geraldo AlckminPSDB

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