Agência de notícias
Publicado em 16 de janeiro de 2025 às 08h59.
A Corregedoria da Polícia Militar de São Paulo realiza nesta quinta-feira, 16, uma operação contra policiais militares acusados de envolvimento com o Primeiro Comando da Capital (PCC). Entre os principais alvos está o PM apontado como executor do empresário Vinícius Gritzbach, morto em novembro do ano passado no Aeroporto de Guarulhos. A identidade do agente ainda não foi divulgada.
Além dele, a ação cumpre 14 mandados de prisão preventiva (13 já foram cumpridos) e 7 de busca e apreensão em endereços na Grande São Paulo. Entre os presos, cinco tinham envolvimento direto com Gritzbach, e os outros tinham relação com a facção criminosa. O secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, afirmou à TV Globo que o PM responsável por atirar em Gritzbach já está sob custódia da Corregedoria, mas o mandante do crime ainda é investigado.
"Esse inquérito policial militar (IPM) ainda não se encerrou, o mandante principal do crime a gente ainda deve concluir, seja pelo IPM, seja pela Corregedoria", falou Derrite, destacando que sua gestão "não vai permitir nenhum tipo de desvio de conduta de policiais" e que envolvimento com o crime organizado "é inaceitável".
A operação da Corregedoria teria sido motivada por uma denúncia anônima recebida pelo órgão em março de 2024, que apontava para a possibilidade de vazamentos de informações sigilosas por policiais militares para favorecer membros da facção criminosa. Entre os beneficiados estava Gritzbach, que também era escoltado por agentes da força policial. Essa investigação evoluiu para um inquérito instaurado em outubro, no mês anterior à morte do empresário.
Delator de esquemas que envolviam policiais civis e militares e o PCC, Gritzbach, antes de virar as costas para a facção, fazia parte de uma rede complexa de figuras que integravam o alto escalão do crime organizado. No acordo firmado pelo empresário com o Ministério Público, ao qual O GLOBO teve acesso, ele chegou a afirmar que intermediou a compra de imóveis por membros da organização criminosa e indicou ‘laranjas’ para as escrituras.
Ele dizia ter informações a respeito de três nomes do grupo. O primeiro é Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, que foi um antigo parceiro de negócios de Gritzbach no setor imobiliário e de criptomoedas e foi morto a tiros no Tatuapé em 2021, supostamente a mando do empresário. Na ocasião, também morreu Antonio Corona Neto, o Sem Sangue, que era motorista de Cara Preta.
O segundo nome citado foi o de Claudio Marcos de Almeida, o Django. Ele foi apontado como um dos sócios da UPBus, empresa de ônibus que tinha contratos para a operacionalização do transporte público na capital paulista e é suspeita de lavar dinheiro para o PCC. Ele acabou encontrado enforcado em um viaduto em São Paulo em janeiro de 2022.
Outro sócio oculto da companhia seria Silvio Luis Ferreira, o Cebola, o único ainda vivo na lista de delatados por Gritzbach e apontado como possível mandante da morte do empresário. Cebola seria responsável pela área de tráfico do PCC e usaria a UPBus em conjunto com Django para lavar o dinheiro proveniente da venda de drogas.
A morte do delator teria sido ainda precificada por outro homem, também apontado como membro do PCC. O advogado Ahmed Hassan, conhecido como Mude, também sócio da UPBUS. Ele teria oferecido uma recompensa de R$ 3 milhões pela morte de Gritzbach. Um áudio que comprova a oferta é mencionado no acordo de delação do empresário, ao qual O GLOBO teve acesso. Mude chegou a ser preso durante a operação Decurio, em agosto.
Há ainda a hipótese de que a ordem para a morte de Gritzbach pode ter vindo de um policial civil. Oito dias antes de morrer, o empresário denunciou para a Corregedoria que estava sendo alvo de extorsão por parte de agentes ligados ao Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), ao 24º Distrito Policial (Ermelino Matarazzo) e ao 30º DP (Tatuapé).
Gritzbach foi executado no dia 8 de novembro do ano passado, no terminal 2 do Aeroporto de Guarulhos. Câmeras de segurança no local flagraram o momento em que um grupo de homens encapuzados e com fuzis atirou contra o empresário, e em seguida fugiu em um Gol preto. Depois disso, entretanto, eles cometeram uma sucessão de erros, que acabou ajudando nas investigações.
Os criminosos precisaram retirar a balaclava do rosto porque, em meio à fuga, cruzaram com uma operação policial de rotina, realizada por um motivo alheio ao atentado. Além disso, o carro usado no ataque, segundo o investigador, quebrou no meio da fuga, por isso foi abandonado em uma área nada isolada.