Prisões podem ser reação à candidatura de Temer, diz fonte do Planalto
Segundo porta-voz, a decisão do ministro em prender Yunes, Wagner Rossi e Coronel Lima pode ter sido uma reação à candidatura do presidente para reeleição
Estadão Conteúdo
Publicado em 29 de março de 2018 às 14h59.
Última atualização em 29 de março de 2018 às 18h45.
Brasília - Mesmo com a ressalva de que ainda é preciso aguardar mais elementos da decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso que levou à prisão amigos do presidente Michel Temer , interlocutores do Palácio do Planalto classificaram a decisão desta quinta-feira, 29, como mais um "ato espetaculoso" por parte do ministro do STF.
Os mandados de prisão de José Yunes, do ex-ministro Wagner Rossi, do Coronel Lima e outros dois foram autorizados por Barroso, a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR).
Barroso, que no fim de fevereiro autorizou a quebra de sigilo bancário de Temer, virou uma espécie de algoz do governo a ponto de o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, já ter anunciado que pretende se licenciar do cargo para apresentar um pedido de impeachment do ministro do STF.
Um auxiliar direto do presidente ressaltou que acredita ser "uma possibilidade" de que a decisão de hoje seja uma reação ao fato de o presidente ter se declarado candidato à reeleição.
Interlocutores do presidente destacam que o inquérito que apura supostas irregularidades no Decreto dos Portos não tem "sustentação jurídica", o que deixa ainda mais claro que haveria uma motivação política por trás da decisão do STF e dos pedidos da PGR.
De acordo com uma fonte do Planalto, o inquérito que envolve a Rodrimar traz investigações que datam da década de 90 e que não haveria elementos que justificassem esse tipo de decisão.
Em janeiro, quando respondeu por escrito 50 perguntas da Polícia Federal no inquérito sobre o Decreto dos Portos, o presidente Michel Temer afirmou: "Nunca solicitei que os srs. Rodrigo Rocha Loures, João Batista Lima Filho ou José Yunes recebessem recursos em meu nome em retribuição pela edição de normas contidas no Decreto dos Portos."
Encontro
Amigo e ex-assessor especial de Temer, José Yunes, que foi preso na operação desta quinta, deixou o Planalto em 14 de dezembro, por causa da delação do ex-executivo da Odebrecht Claudio Melo Filho. Mesmo fora do governo, Temer e Yunes sempre mantiveram contato. Na última segunda-feira, em São Paulo, os dois jantaram juntos.
Em depoimento à PGR em 2016, Yunes afirmou que atuou como "mula involuntária" do ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) ao receber um "envelope" do operador financeiro Lúcio Funaro.
Terceira denúncia
Um interlocutor do presidente admitiu que a operação de hoje é "sem dúvida" um indicativo de que procuradora-geral da República, Raquel Dodge, possa apresentar uma terceira denúncia contra o presidente.
A avaliação no Planalto, caso a terceira denúncia se concretize, é que as pretensões políticas do presidente seriam minadas, já que ele teria que novamente se dedicar a barrar o avanço da investigação no Congresso.
Auxiliares do presidente salientam que ainda é cedo para falar de terceira denúncia, mas já projetam mais dificuldades em derrubá-la na Câmara. Caso essa eventual denúncia se concretize, destacou um interlocutor, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que já se declarou pré-candidato à Presidência, provavelmente não teria a mesma disposição de antes em colaborar com o governo.