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PF prende dois fiscais de ICMS ligados a esquema de Sergio Cabral

Operação Recorrência teve como alvos Allan Dimitri Chaves Perterlongo e Heraildo Schwab Carmo, suspeitos de enriquecimento ilícito

 (Pilar Olivares/Reuters)

(Pilar Olivares/Reuters)

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Agência O Globo

Publicado em 17 de junho de 2020 às 12h01.

Última atualização em 17 de junho de 2020 às 12h01.

A força-tarefa da Lava-Jato no Rio de janeiro prendeu nesta quarta-feira, dia 17, durante a Operação “Recorrência”, os auditores fiscais de ICMS Allan Dimitri Chaves Peterlongo, ex-inspetor de Substituição Tributária do Estado, e seu então substituto imediato na unidade, Heraildo Schwab Carmo. Eles são suspeitos de enriquecimento ilícito, associado a esquema de favorecimento de empresas sonegadoras de ICMs no Rio.

A operação desta quarta é um desdobramento da “Câmbio, Desligo”, uma das maiores da Lava-Jato desencadeadas contra o esquema de lavagem de propina arrecadada pelo grupo liderado pelo ex-governador Sergio Cabral. Ao seguir o rastro do dinheiro movimentado pelos doleiros de Cabral, procuradores da República e policiais federais descobriram contas de Dimitri em paraísos fiscais europeus.

As prisões de Dimitri e Heraildo, já efetuadas, são temporárias (cinco dias, renováveis por mais cinco), determinadas pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal. De acordo com as investigações, os fiscais mantinham contas no exterior em nome de offshores.

Agentes cumpriram os mandados de prisão na Barra da Tijuca e em São José dos Campos (SP), além de dois mandados de busca e apreensão. Com essa operação, fica público mais um sistema de doleiros, liderado pelos irmãos Jorge e Raul Davies, que se juntam a Dário Messer como dois dos maiores doleiros do Brasil.

Em abril de 2016, reportagem do GLOBO revelou que Dimitri frequentava a sede da Agrobilara, empresa do ex-presidente da Assembleia Legislativa do Rio Jorge Picciani, outro alvo da Lava Jato no Rio. Embora a Agrobilara seja do ramo de gado de corte, de janeiro de 2014 a julho de 2015, Dimitri, esteve ali oito vezes.

Empresas de outros estados

Allan Dimitri Chaves Peterlongo cresceu nos bastidores da Secretaria Estadual de Fazenda depois da queda do grupo liderado por Rodrigo Silveirinha, em agosto de 2002. Allan era visto como um dos articuladores do esquema de sonegação fiscal de ICMS a favor de grandes empresas, a maioria delas sediada em outros estados. Como elas tinham de fazer o recolhimento antecipado do imposto, na forma de substituição tributária, Allan negociava a blindagem da fiscalização.

Com frequência, Allan viajava para São Paulo com o objetivo de falar com os grandes distribuidores de medicamentos e cosméticos. De acordo com o site “Portal Corporativo de Consulta Pública”, do Proderj, ele fez 106 viagens oficiais para fora do Estado entre 2000 e 2014 (ver abaixo).

Em fevereiro de 2017, meses após ter o nome citado em reportagem do GLOBO sobre os visitantes da Agrobilara (empresa de Jorge Picciani), ele foi transferido para o Posto Fiscal de Atendimento - São Paulo, da Auditoria Fiscal Especializada de Substituição Tributária, da Subsecretaria Adjunta de Fiscalização, da Subsecretaria de Receita, da Secretaria de Estado de Fazenda e Planejamento.

Pouco antes da reportagem de 2016 do GLOBO, quando já estava ciente da iminência da publicação da matéria, Allan exonerou-se e pediu licença sem vencimentos no dia 7 de janeiro de 2016. No dia 31 do mesmo mês, embarcou com a mulher, Sheron Dias Razuc Peterlongo, no voo JJ 8038 da TAM para Montevideu. Voltou para o Brasil no dia 17 de março (JJ804) e embarcou novamente para a capital uruguaia no dia 25 de março (JJ 8038).

Allan ocupou por dez anos a chefia da Substituição Tributária, uma das dez inspetorias especializadas da Secretaria de Fazenda. As oito visitas que fez ao escritório privado do presidente da Assembleia Legislativa do Rio, deputado Jorge Picciani (PMDB-RJ) dão sinais de que ele, como se sabe nos corredores da Fazenda, é influente no meio político. Outros dois chefes de inspetorias especializadas também lá estiveram. E isso indica que Picciani era o padrinho do esquema, que beneficiaria essencialmente o empresário Walter Faria, proprietário do Grupo Petrópolis e sócio de Picciani numa mineradora.

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