Paralisação dos caminhoneiros: protestos continuam pelo quarto dia (AFP/AFP Photo)
Agência O Globo
Publicado em 27 de dezembro de 2022 às 16h58.
Última atualização em 27 de dezembro de 2022 às 17h23.
A Polícia Federal identificou que um mesmo grupo de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro foi responsável tanto pela realização de atos de vandalismo em Brasília, em que carros e ônibus foram queimados, quanto pela tentativa de atentado com bomba no último sábado, próximo ao aeroporto da capital federal. O artefato, instalado em um caminhão de combustível, foi encontrado e desativada antes de explodir.
Além de George Washington de Oliveira Sousa, preso na noite de sábado, a investigação detectou a participação de outros três manifestantes bolsonaristas no planejamento dos atos. As informações foram compartilhadas pela PF com a Polícia Civil do Distrito Federal. Um deles, Alan Diego Rodrigues, foi citado pelo próprio George em seu depoimento como o responsável por instalar o explosivo no caminhão. Nesta terça-feira, o governador do Distrito Federal Ibaneis Rocha afirmou que Alan fugiu para outro estado.
"A polícia já identificou essa pessoa [Alan] e está fazendo as buscas. Pelo que foi alcançado pela polícia, ele já se evadiu do Distrito Federal, mas estão atrás e devemos ter notícias nas próximas horas", disse.
O próximo passo da investigação será buscar os financiadores desses manifestantes e a origem do dinheiro. A apuração já obteve indícios de que eles gastaram R$ 160 mil na aquisição de um arsenal de armamentos.
A apuração começou depois da tentativa de invasão do prédio da PF no último dia 12, que resultou na depredação do local e também em atos de vandalismo nas redondezas. Os investigadores já estavam no encalço do grupo quando, no sábado passado, a Polícia Civil do Distrito Federal foi acionada para desativar a bomba.
A PF e a Secretaria de Segurança Pública do DF estavam compartilhando informações de inteligência a respeito dos possíveis autores dos atos violentos e identificaram que se tratava de um grupo que havia se deslocado a Brasília para participar de manifestações antidemocráticas no quartel-general do Exército. Foi com base nas apurações já realizadas pela PF que a Polícia Civil chegou rapidamente ao endereço de George Washington de Oliveira Sousa, preso ainda na noite de sábado. Ele já estava na mira das investigações em tramitação na Superintendência da Polícia Federal do DF.
O próximo passo da apuração é buscar o caminho do dinheiro. Em seu depoimento à Civil, George Sousa relatou ter gastado cerca de R$ 160 mil na aquisição de armamentos, que foram levados por ele do Pará, onde mora, para Brasília. A Polícia Civil também apreendeu no endereço onde George estava um conjunto de anotações nas quais ele listava diversas armas a serem compradas para o grupo, que totalizariam R$ 74 mil. Por esses indícios, os investigadores suspeitam que haja fontes de financiamento por trás do grupo.
A investigação da PF vai tramitar em paralelo com a da Polícia Civil, por envolverem objetos diferentes. Enquanto a Civil começou a apurar o fato específico da tentativa de um atentado com bomba e da posse de armamento ilegal, o foco inicial da PF era nos danos ao seu patrimônio e eventual lesão corporal aos policiais federais, mas acabou ampliando seu objeto para também investigar suspeitas de crimes contra o estado democrático e de terrorismo, que são de competência federal.
Com o desenrolar da investigação, a PF constatou que os fatos apurados eram semelhantes a inquéritos em tramitação no Supremo Tribunal Federal (STF) sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes. Por isso, a investigação foi enviada ao STF para que tenha prosseguimento sob supervisão da Corte.
A Defensoria Pública, que representou Sousa na audiência de custódia, argumentou que ele possui bons antecedentes e pediu a soltura para que ele possa esclarecer os fatos, mas o pedido foi negado. Alan não foi localizado pela reportagem