Brasil

Pequenas e inteligentes

O interior serve de campo de testes para a criação de cibercidades onde todos têm acesso à internet rápida

Tiradentes (MG): região montanhosa é um desafio (--- [])

Tiradentes (MG): região montanhosa é um desafio (--- [])

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Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h29.

Quando se pensa em vanguarda tecnológica, o mais natural é imaginar que as inovações obedeçam sempre a um roteiro predeterminado: são adotadas nas grandes metrópoles para, bem depois, espalhar-se pelas cidades menores. Em relação à internet banda larga, está acontecendo uma inversão desse caminho. Hoje, são as pequenas cidades que estão servindo de piloto para a implantação de programas revolucionários na área de internet. Algumas experiências no Brasil já se destacam no cenário mundial. É o caso de Piraí, município fluminense que ligou, via web, todas as repartições públicas da cidade e conseguiu que todos os seus 23 000 habitantes tenham acesso a serviços online e à internet de alta velocidade. Em 2005, a iniciativa de Piraí foi reconhecida em Nova York como um dos sete melhores projetos de tecnologia de comunicação do mundo -- um feito inédito no Brasil.

Numa cidade digital, ou cibercidade, pessoas e instituições estão interconectadas por meio de uma infra-estrutura de comunicação de alto desempenho. Em Piraí, o projeto de universalização da internet banda larga começou a ser implantado em 2003, com o apoio da prefeitura. Atualmente, o parque instalado soma 450 computadores distribuídos pelos prédios públicos municipais. Todas as escolas da cidade contam com laboratório com, no mínimo, 20 computadores. A infra-estrutura digital instalada na cidade é híbrida, parte a cabo, parte sem fio. Mas a população pode acessar a internet, por meio da tecnologia wi-fi (wireless fidelity), de qualquer ponto. Os moradores também têm acesso gratuito à rede mundial nos telecentros e quiosques espalhados pelos pontos de maior movimento.

Uma cidade antenada
Por que Piraí é um exemplo no mundo digital
- O município instalou em todo o seu território, inclusive na zona rural, uma rede sem fio e a cabo que transmite dados, voz e imagem em alta velocidade.
- A rede de banda larga interliga 450 computadores públicos, grande parte colocada à disposição da população para acesso gratuito à internet. Todos os prédios públicos estão interconectados.
- Os moradores têm acesso livre a 66 terminais instalados em locais como praças, rodoviária e sindicatos. São nove quiosques e quatro telecentros.
- Cerca de 6 300 alunos de 20 escolas municipais acessam a internet de alto desempenho por meio de 188 computadores. Esses alunos representam mais de 90% dos estudantes do município.

O sucesso da experiência digital de Piraí foi resultado de um trabalho repleto de desafios. O primeiro deles foi o tecnológico. O município está situado em uma região montanhosa, o que exigiu a instalação de um maior número de estações de radiobase (ERB) para a transmissão do sinal digital. Ainda hoje, alguns problemas com a rede não estão devidamente equacionados. "Ainda não encontramos a melhor solução para a manutenção de todos os equipamentos que estão espalhados por 540 quilômetros quadrados", diz André Manuel de Moura Macara, coordenador técnico do projeto.

Outro desafio era fazer com que a população se engajasse no projeto. Mas essa foi uma tarefa bem mais simples do que se imaginava a princípio. "Aqui, todos abraçaram a causa. Muita gente ofereceu o terreno de suas casas, energia e cabos para a instalação das estações de radiobase", diz Macara. Hoje, as crianças acessam o computador na escola para a realização de deveres, na hora do recreio e mesmo depois das aulas. Quando não estão no colégio, podem utilizar os quiosques espalhados  pela cidade para dar uma "navegada", gíria que eles já adotaram. O site preferido dos meninos é o do programa de televisão Sítio do Picapau Amarelo. O das meninas é o da boneca Barbie. Além das crianças, os adultos também vêm aproveitando intensamente a oferta de internet banda larga na cidade. Na rodoviária, onde estão instalados alguns computadores da rede, chama a atenção dos visitantes a grande concentração de pessoas esperando para acessar a internet.

Aos poucos, a experiência digital de Piraí começa a ser estendida para cidades vizinhas. A primeira a se beneficiar foi Rio das Flores, município com 8 500 habitantes, conectado à rede mundial por meio de uma ligação de satélite fornecida pelo Ministério das Comunicações. Fora do estado do Rio de Janeiro, outras iniciativas do gênero começam a ganhar corpo. Em Sud Menucci, município de 7 500 habitantes no interior de São Paulo, a prefeitura cobriu toda a cidade com rede wi-fi. Para ter acesso gratuito e ilimitado à internet, os moradores só precisam ter computador com sistema operacional Windows ou Linux e uma placa de rede sem fio com a freqüência de 2,4 GHz. Para manter a operação, a prefeitura investe pouco mais de 3 000 reais por mês.

Em Tiradentes, município de 7 000 habitantes no sul de Minas, quem está por trás da empreitada digital é a Cisco, fornecedora de tecnologia. "Escolhemos Tiradentes por ser uma cidade de serra, com terreno ondulado, ideal para enfrentar todos os desafios de implementar a tecnologia Mesh, que é similar à da telefonia celular", diz Jorge Coelho, diretor da Cisco. Tiradentes conta hoje com acesso à internet em banda larga, telefonia IP e serviço de vigilância. São cinco câmeras para a proteção do patrimônio público, monitoradas desde o prédio da polícia. A administração municipal constituiu um comitê para definir um modelo de sustentação do projeto. Os benefícios são visíveis. "Surgiram lan houses, casas para reparos de micros e lojas de informática que já praticam até comércio eletrônico. Antes, isso era encontrado apenas em cidades maiores da região", diz Coelho.

Além da Cisco, quase todas as grandes empresas de tecnologia da informação e telecomunicações, como a Nortel, a Motorola, a HP e a Intel, estão investindo alto nas tecnologias que estão por trás das iniciativas de cidades digitais. Na Intel, a estratégia consiste em fazer contatos com as prefeituras e os órgãos do governo estadual para explicar como a tecnologia funciona e doar a rede para que sejam feitos os testes. Participando de diversas iniciativas de cidades digitais no país, entre as quais Piraí, Ouro Preto (MG) e Mangaratiba (RJ), a Intel aposta que a velocidade com que a população está se conectando à rede mundial irá acelerar o surgimento das cibercidades. "São 1 bilhão de computadores conectados à internet no mundo, número que vai dobrar até 2010", afirma Maurício Bouskela, diretor da Intel. "Esse crescimento se dará, certamente, a partir das cidades menores."

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