Pazuello explica apagão de dados da covid-19 como mudança técnica
Na Câmara, ministro prometeu retornar números do novo coronavírus no Brasil, mas voltou a reforçar que deve mudar classificação de óbitos
João Pedro Caleiro
Publicado em 9 de junho de 2020 às 15h13.
Última atualização em 9 de junho de 2020 às 15h29.
O general Eduardo Pazuello, ministro interino da Saúde, foi à Comissão Externa da Câmara dos Deputados nesta terça-feira, 9, prestar esclarecimentos após o apagão de dados do novo coronavírus .
Ao longo da última semana, o Ministério da Saúde passou a adiar a apresentação de balanços diários da pandemia, que costumava sair por volta das 19h, só para as 22h. O presidente Jair Bolsonaro admitiu que o objetivo era evitar divulgação e disse na porta do Alvorada que "acabou a matéria no Jornal Nacional."
Na Câmara, o ministro disse que a transparência era o objetivo de todos, mas que da forma como era apresentada antes, a “informação não dizia nada” e que agora "são plenas, transparentes e reais, em tempo real."
A partir da última sexta-feira, 5, os balanços passaram a omitir o número total de mortos acumulados. Já no sábado, 6, a pasta passou a restringir as informações disponíveis no site sobre a doença, que não traz mais o acumulado de mortes.
"Você vai ter o cumulativo pronto na tela", prometeu o ministro, dizendo que em 48 horas não haverá mais "bugs técnicos."
Pazuello disse, ainda, que a mudança permitiria ao gestor público um acompanhamento do ponto atual da doença, e que a ideia era inserir as mortes no sistema no dia em que elas ocorreram e não no dia em que foram registradas.
No entanto, é raro que o registro seja feito com tanta agilidade, e mais de um deputado questionou como seria feito o acompanhamento público da adesão no sistema em datas anteriores.
"Não existe como aumentar ou diminuir número de óbitos, é um registro sanitário, é um documento. Só que esse registro é feito em dias da semana, não todos os dias", disse Pazuello.
As mudanças por parte do governo brasileiro sem esclarecimento geraram forte reação da sociedade civil, autoridades, partidos políticos e até mesmo de organizações internacionais.
"Estamos aqui por um problema claro de comunicação (...) O que queremos é transparência. O que ocorreu foi exatamente o contrário", disse Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, que participou da reunião da comissão.
O empresário Carlos Wizard, que estava prestes a assumir a Secretaria da Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, sugeriu, sem apresentar qualquer prova, que os dados eram "fantasiosos" pois havia fraude na contabilização pelos estados.
Todas as evidências apontam o contrário, que há subnotificação e que o número de mortos é muito maior do que o registrado. Diante da repercussão, Wizard desistiu de colaborar com o ministério.
"O que vivemos nos últimos dias, inclusive pela entrevista do ex-futuro e não mais secretário foi lastimável", disse Maia.
“Não acho que os estados e municípios mandem dados errados”, disse Pazuello, que admitiu subnotificação.
Ele é o terceiro ministro da Saúde do país desde o início da pandemia, após as saídas de Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich diante de divergências públicas com Bolsonaro.
O ministro assumiu o posto há mais de 20 dias, mas segue com o título de interino. Ele não fez nenhuma coletiva de imprensa no período e não há debate público sobre a procura de um outro nome que assuma o posto de forma definitiva.
Erros de informações
O ministro também notou que o país fez 3 milhões de testes PCR e 7 milhões de testes rápidos. “Comparando aí pelo mundo, já é um número bem razoável”, disse. Na verdade, o Brasil está na 131ª posição nos rankings mundiais de teste por milhão de habitantes.
No início da fala, Pazuello disse também que "nosso país é um continente, são várias Europas aqui dentro." Na verdade, o território brasileiro é pouco menor do que toda a Europa, e a população europeia é mais do que três vezes maior que a nossa.
Em outro momento, o ministro afirmou que "para efeito da pandemia, nós podemos separar o Brasil do Norte e Nordeste, que é a região mais ligada ao inverno no Hemisfério Norte". A fala gerou críticas nas redes sociais, já que estas áreas são conhecidas pelas altas temperaturas ao longo de todo o ano.