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Parentes de músico fuzilado ficaram em choque com versão de militares

Homens do Exército alegaram não ter visto Evaldo Rosa no carro atingido pelos disparos

Enterro: corpo de músico enterrado no Rio após ser fuzilado com 80 tiros por militares (Sergio Moraes/Reuters)

Enterro: corpo de músico enterrado no Rio após ser fuzilado com 80 tiros por militares (Sergio Moraes/Reuters)

AO

Agência O Globo

Publicado em 17 de dezembro de 2019 às 11h42.

Última atualização em 17 de dezembro de 2019 às 11h44.

Rio de Janeiro — A família do músico Evaldo Rosa, fuzilado durante uma ação do Exército em Guadalupe, na Zona Norte do Rio, ficou em choque com a versão dada pelos militares para o caso na Justiça Militar. Nesta segunda-feira, seis homens do Exército relataram não ter visto Evaldo dentro do carro atingido pelos disparos. Em seus relatos, os militares também chegaram a afirmar que os protestos de parentes do músico após o crime eram uma “artimanha do tráfico”.

— É um desrespeito com a família do Evaldo. É revoltante demais. O presidente já tinha dito que o Exército não matou ninguém. Agora, os militares não admitem o erro absurdo. Pobre não tem vez nesse país mesmo — disse Eraldo Santos, irmão de Evaldo.

Já Jane Maria dos Santos, outra irmã de Evaldo, afirma que não acredita que a versão dos militares vá ser levada em conta pela Justiça.

— Tudo foi filmado. As provas mostram o que eles fizeram. Nada vai mudar isso — diz Jane.

O tenente Ítalo Nunes, comandante da patrulha, quando perguntado sobre a presença de parentes de Evaldo na cena do crime, afirmou que “o tráfico manda a população da favela descer”. “Eu me desliguei do que aquelas pessoas falavam porque aquilo é uma artimanha do tráfico”, disse. A mesma versão foi citada pelo cabo Leonardo Oliveira: “Nessa hora, sempre aparece parente. Às vezes, aparecem umas cinco mães”.

Dos seis militares ouvidos, quatro admitiram que fizeram disparos naquela tarde com fuzis. Nenhum deles disse ter atirado com pistolas. Todos eles negaram ter atirado contra o músico e sua família e afirmaram que reagiram a um assalto.

“Não tinha ninguém dentro do carro quando ele estava parado”, disse o soldado Gabriel Honorato, que admitiu ter feito disparos com um fuzil calibre 7,62 em direção ao catador Luciano. “Ele estava armado e atacou a patrulha”, acusou o militar.

Não foi encontrada nenhuma arma com o catador naquela tarde.

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