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Paraisópolis, Doria e o descaso: um tema do Brasil de 2019

Chamou a atenção o distanciamento com que o governador tratou a tragédia de Paraisópolis, onde 9 pessoas morreram após batalhão da PM invadir um baile

Paraisópolis, em São Paulo: policiais civis e militares foram autores de 197 das 581 mortes violentas do primeiro semestre no estado (C_Fernandes/Getty Images)

Paraisópolis, em São Paulo: policiais civis e militares foram autores de 197 das 581 mortes violentas do primeiro semestre no estado (C_Fernandes/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 2 de dezembro de 2019 às 06h15.

Última atualização em 2 de dezembro de 2019 às 11h14.

São Paulo — A violência policial deve ser um dos grandes assuntos da semana, enquanto avançarem as investigações e os desdobramentos sobre o que aconteceu na comunidade paulistana de Paraisópolis, na madrugada de domingo (01).

Policiais do 16º Batalhão de Polícia Militar invadiram um tradicional baile funk com cerca de 5.000 pessoas em busca de dois homens que atiraram contra agentes, segundo a corporação.

Os policiais chegaram atirando balas de borracha e bombas de gás, causando enorme tumulto entre os frequentadores. No corre-corre que se seguiu, dezenas foram pisoteados e ao menos nove pessoas morreram.

O episódio voltou a jogar luz sobre a crescente violência policial no Brasil. No Rio de Janeiro, 1.546 pessoas foram mortas pela polícia entre janeiro e outubro, maior índice da série histórica de 21 anos.

O governador fluminense, Wilson Witzel (PSC), adotou, desde sua posse, um discurso de endurecimento no combate ao crime e de truculência estatal, autorizando agentes a alvejar suspeitos “na cabeça”.

Em São Paulo, estado com os menores índices de homicídio do país, policiais civis e militares foram autores de 197 das 581 mortes violentas do primeiro semestre, segundo dados do instituto Sou da Paz.

Em entrevista em setembro celebrando o menor índice de homicídios desde 2001 no estado, governador João Doria (PSDB) afirmou que a redução da letalidade policial “não é obrigatoriedade” e que, num confronto “quem vai para o cemitério é o bandido”.

Chamou a atenção o distanciamento com que o governador tratou a tragédia de Paraisópolis. Doria se limitou a uma postagem anódina nas redes sociais que segue o padrão “lamento profundamente” e “determinei apuração rigorosa”.

No domingo, dia em que moradores de Paraisópolis fizeram um manifestação pedindo paz, Doria foi ao Rio de Janeiro tratar de política.

Participou de evento de filiação ao PSDB do ex-ministro do governo Bolsonaro Gustavo Bebianno. O evento foi marcado por críticas ao “extremismo” do governo federal. Doria afirmou que Bebianno, agora, “está no caminho certo”.

O mesmo, infelizmente, não se pode dizer do Brasil, país com a polícia que mais mata no mundo e em que um governador praticamente ignora um episódio estarrecedor ocorrido numa comunidade pobre para tratar de seu futuro político. É o mesmo país onde o deputado Coronel Tadeu (PSL-SP) destruiu um quadro em exposição na Câmara tratando justamente da violência policial.

Segundo Tadeu, a polícia é vítima de um ambiente de enfrentamento. É um ponto a ser considerado, evidentemente. A questão, como apontam especialistas em segurança pública, é que a responsabilidade de tirar a tensão do ambiente, claro, é do estado, e não dos criminosos.

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