Marcelo Miller: “Nenhuma chance de aceitarmos isso, na minha humilde opinião” (Alex Lanza/MPMG/Divulgação)
EXAME Hoje
Publicado em 13 de setembro de 2017 às 19h29.
Última atualização em 14 de setembro de 2017 às 08h16.
Para a Polícia Federal, o gabinete do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, não só tinha conhecimento de que o ex-procurador Marcello Miller trabalhava para a JBS como também sabia que ele vinha atuando “de forma indireta” no acordo de delação premiada firmado pela cúpula da empresa. A informação foi dada com exclusividade na tarde desta quarta-feira pelo site da revista VEJA.
As evidências disso, de acordo com os policiais encarregados da investigação sobre o uso de informação privilegiada pelos irmãos Joesley e Wesley Batista, estão em mensagens trocadas por Miller com os principais dirigentes da companhia. O ex-procurador participava de um grupo de WhatsApp com os Batista e diretores da JBS.
Uma das mensagens mais reveladoras, na avaliação dos investigadores, foi enviada pelo ex-procurador ao grupo na quarta-feira 5 de abril. Era o último dia de vínculo formal de Miller com o Ministério Público Federal. A sequência começa com a advogada Fernanda Tórtima, contratada pela JBS. Ela informa ao grupo que o gabinete de Rodrigo Janot havia convocado Joesley para prestar depoimento dois dias depois. Marcello, mostrando-se alinhado aos interesses do grupo, diz: “Nenhuma chance de aceitarmos isso, na minha humilde opinião”.
Naquele mesmo dia, Miller tinha uma viagem marcada para os Estados Unidos, onde, segundo os policiais, participaria de reuniões sobre o acordo de leniência que a JBS negociava com autoridades americanas. A viagem era de conhecimento de Janot, segundo os investigadores. No aeroporto de Guarulhos, Miller se reuniu com Joesley Batista, segundo a Polícia Federal. Pouco antes do encontro, os irmãos Joesley e Wesley Batista trocaram mensagens sobre uma proposta financeira que haviam feito ao ex-auxiliar de Rodrigo Janot.
“Eu falei, pensa, não falei de valores, mas falei: porra, pensa, acho que você pode ter uma oportunidade muito boa”, escreveu Wesley, adicionando que podia oferecer um “raging bônus bacana”.
Por meio de nota, a procuradoria negou que tivesse conhecimento da colaboração de Miller com a JBS.
Já Marcelo Miller divulgou nota afirmando que:
1) Repudia veementemente as insinuações e ilações feitas com base no conteúdo das gravações e mensagens divulgadas na imprensa. A defesa está esclarecendo o sentido e o contexto a todas as referências ao nome de Miller.
2) Reitera ainda que jamais fez jogo duplo e que não tinha contato com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, nem se aproveitou de informações sigilosas de que teve conhecimento enquanto procurador. Ele também não atuou na Operação Lava Jato desde outubro de 2016 , na Operação Greenfield ou na Procuradoria da República no DF.
3) Não atuou em investigações ou processos relativos ao Grupo J&F nem buscou dados ou informações nos bancos de dados do Ministério Público Federal.
4) Pediu exoneração em 23/2/2017, tendo essa informação circulado imediatamente no MPF.
5) Não obstruiu investigações de qualquer espécie, nem alegou ou sugeriu poder influenciar qualquer membro do MPF.
6) Tem uma carreira de quase 20 anos de total retidão e compromisso com o interesse público e as instituições nas quais trabalhou.