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Os erros de Dilma que a colocaram à beira do impeachment

Nesta quarta-feira, o Senado decide sobre a admissibilidade do processo de impeachment contra a petista. Bastam apenas 41 votos para que Dilma seja afastada

Entre analistas e políticos, próximas horas serão as últimas do governo Dilma antes do afastamento por até 180 dias. (Ueslei Marcelino / Reuters)
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Da Redação

Publicado em 11 de maio de 2016 às 08h55.

São Paulo – Quase dois mil dias depois de subir a rampa do Planalto pela primeira vez, a presidente Dilma Rousseff (PT) enfrenta hoje um dos piores momentos da carreira de um político.

Nesta quarta-feira, o Senado decide sobre a admissibilidade do processo de impeachment contra a petista. Bastam apenas 41 votos para que o julgamento e consequente afastamento da presidente sejam levados a cabo. Levantamento de EXAME.com revela que a abertura do julgamento contra a petista já tem o apoio de ao menos 50 senadores.

Para especialistas consultados por EXAME.com, Dilma é vítima de suas próprias decisões equivocadas na condução do país – que acabaram por minar sua base de apoio e aprovação popular.

A repercussão desastrosa do cancelamento da votação da Câmara dos Deputados que definiu a continuidade do processo contra a petista – revogado posteriormente pelo próprio autor - é o exemplo mais recente.

“Foi um erro de cálculo político na medida em que não foi combinado com o presidente do Senado”, afirma Thiago Vidal, coordenador de análise política da Prospectiva. “É essa falta de comunicação interna que marcou o governo desde 2011. É uma gestão que não consegue negociar sua sobrevivência nem nos últimos minutos”.

Em linhas gerais, a denúncia que pode abreviar o mandato da presidente Dilma Rousseff afirma que a petista cometeu crime de responsabilidade ao praticar as chamadas pedaladas fiscais e ao abrir créditos suplementares sem a aprovação do Congresso.

Mas, na prática, o que pode determinar o impeachment da mineira é a combinação entre sua inabilidade política e uma série de estratégias equivocadas para a economia.

A base esfacelada

Durante a votação do processo de impeachment na Câmara dos Deputados há menos de um mês, muitos parlamentares favoráveis ao fim do mandato da presidente aproveitaram o microfone do plenário para reclamar da falta de traquejo político que definiu os cinco anos e meio do governo Dilma.As queixas não poderiam ser mais pertinentes.

As primeiras rachaduras na base de sustentação do mandato da presidente surgiram tão logo o governo ignorou a ideia de que a governabilidade no presidencialismo de coalizão pressupõe compartilhamento – de fato – do poder.

“Os aliados foram tratados quase que como meros serviçais. O partido foi incapaz de tratá-los como parceiros”, afirma Luiz Felipe D´Ávila, presidente do Centro de Liderança Pública (CLP).

De acordo com os especialistas, as eleições de 2014 escancararam tal descompasso político.

Ricardo Stuckert/ Instituto Lula/ Fotos Públicas

A reeleição em 2014: o ponto da virada

Isso porque, de um lado, o resultado das urnas potencializou a fragmentação dos partidos políticos com representação no Congresso Nacional - fato que tornou ainda mais dura a missão do governo de compor maioria no Legislativo.

Por outro, apesar da vitória, a presidente assumiu o segundo mandato fragilizada pelo discurso que a reconduziu ao poder – já que dificilmente seria possível cumprir as promessas de campanha.

Em contrapartida,  o PMDB – principal partido da base aliada do governo – elegeu as maiores bancadas na Câmara e no Senado, além do maior número de governadores, tornando se ainda mais poderoso.

O problema: a gestão petista não se atentou a isso e insistiu nos mesmos erros que a enfraqueceu no primeiro mandato.

“O erro inicial do segundo governo foi tentar, em vez de uma articulação PT-PMDB, deslocar o centro de gravidade para PT e um conjunto de outros partidos capitaneados pelo PSD”, diz Carlos Ranulfo de Melo, professor de Ciências Políticas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Nada deu certo e Dilma acabou comprando uma briga com o PMDB”.

Em fevereiro do ano passado, veio o primeiro dos principais revezes do segundo mandato. Contrariando os esforços contrários do PT, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), então desafeto declarado de Dilma, assumiu a presidência da Câmara.“Foi uma derrota acachapante a tal ponto que, pela primeira vez, o governo não tinha presença na mesa da Casa”, afirma o professor.

Eduardo Cunha: inimigo número 1 do Planalto (Ueslei Marcelino/Reuters)

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O avanço das investigações da Lava Jato só engrossou esse caldo de más notícias para a gestão Dilma. Com a reputação em xeque diante da opinião pública, o governo viu também seu poder de articulação desgastado. Vale lembrar que foi em resposta à decisão da legenda de abrir um processo ligado às suspeitas que pairavam sobre Cunha que o então presidente da Câmara decidiu acolher a denúncia contra a presidente.

Faltando poucos dias para a votação do impeachment na Câmara, mais um abalo nas estruturas do mandato: o PMDB anuncia rompimento com o governo.

Foi questão de semanas para que outras legendas acompanhassem a decisão dos peemedebistas. No dia da votação na Câmara, dos 25 partidos com representantes na Casa, 17 orientaram seus filiados a votar pela aprovação do impeachment.

A economia no fundo do poço

Dilma tomou posse logo após 2010, quando o Brasil cresceu 7,5% - a maior taxa desde 1986, fruto das medidas anticíclicas de reação à crise internacional. Seu erro foi levá-las até o limite, sem recuar, mesmo quando já era clara a exaustão do modelo de crescimento pelo consumo.

No seu primeiro ano de mandato, Dilma fez um ajuste fiscal relevante (3,1% do PIB de superávit primário) e o PIB cresceu 2,7%. Mas a partir daí os problemas se agravaram.

Do lado externo, a queda dos preços das commodities e a perspectiva de uma alta de juros nos Estados Unidos trouxeram desafios novos para as economias emergentes.

Internamente, Dilma apostou sua alta popularidade em medidas que se provariam equivocadas – inclusive com apoio de muitos que hoje a criticam, como as associações industriais.

Seu governo abandonou de vez o chamado “tripé macroeconômico” de FHC em favor de uma “nova matriz econômica” baseada em política fiscal frouxa, crédito público abundante e juros artificialmente baixos.

Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda: uma era de decisões equivocadas (Ueslei Marcelino/Reuters)

Ao longo de 2012, a Selic foi cortada de 11% para 7,25% - uma baixa histórica – e os bancos privados foram pressionados a fazer o mesmo. Mas a inflação já estava próxima do teto e a resposta do governo foi segurar os preços administrados, como da energia e gasolina.

Isso gerou perdas bilionárias para a Petrobras, a maior investidora do país, que já estava pressionada por regras de conteúdo nacional, além de matar o setor de etanol.

Na infraestrutura, concessões se arrastaram diante da insistência do governo de fixar taxas máximas de retorno. Na área comercial, onde ficar parado já é perder posição, nenhum acordo comercial foi negociado e novas restrições à importação foram estabelecidas.

“Houve uma desorganização econômica, além de créditos subsidiados e regimes tributários especiais que causaram queda de produtividade”, diz Mansueto Almeida, especialista em contas públicas.

O volume de crédito do BNDES subiu 212 bilhões entre 2010 e 2014, tudo financiado pelo Tesouro, enquanto a desoneração da folha de pagamento para alguns setores gerou perda grande de receita.

O gasto público no Brasil já é ineficiente, engessado e cresce por inércia. Combinados com baixo crescimento, são fatais.

Em 2014, o governo teve seu primeiro déficit desde 2000, e desde então o rombo só aumentou. A dívida pública subiu 12 pontos percentuais entre o final de 2013 e de 2015, chegando a 61% do PIB, podendo chegar a 80% já em 2018. É este o principal nó a ser desatado pelo novo governo.

Dá para salvar o mandato?

Diante dessa série de equívocos, o resultado da votação desta quarta-feira já é dado como certo. Para analistas e políticos, as próximas horas devem ser, realmente, as últimas da gestão Dilma antes do afastamento.

Caso o julgamemto seja aberto no Senado, o PT terá até 180 dias para barrar a abreviação definitiva do mandato de Dilma Rousseff.

A única certeza, por ora, é que se, com a estrutura de governo a seu dispor durante cinco anos e meio, o PT não conseguiu salvar o mandato de Dilma, o quadro se complica sem a caneta que conferia uma certa vantagem na hora de negociar apoios.

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