Brasil

Operação em favelas do Rio deixa 6 mortos e expõe UPPs

Programa de pacificação enfrenta um momento de revés, quando a cidade se prepara para receber jogos e a final da Copa do Mundo

Policiais da UPP patrulham uma via da favela Pavão-Pavãozinho, no Rio de Janeiro (Ricardo Moraes/Reuters)

Policiais da UPP patrulham uma via da favela Pavão-Pavãozinho, no Rio de Janeiro (Ricardo Moraes/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 4 de fevereiro de 2014 às 17h06.

Rio de Janeiro - O programa de pacificação das favelas do Rio de Janeiro enfrenta um momento de revés, quando a cidade se prepara para receber jogos e a final da Copa do Mundo, com o ataque a uma UPP que culminou nesta terça-feira numa resposta policial na qual morreram seis suspeitos.

A operação no Morro do Juramento foi deflagrada depois do ataque a tiros no domingo contra uma base da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da favela Parque Proletário, no Complexo do Alemão. Uma soldado, de 27 anos, morreu vítima de disparos de traficantes, e outro policial também foi baleado, mas está fora de perigo.

"A morte da policial foi um tiro nas costas da sociedade fluminense... mas a política de UPPs não corre o menor risco", disse o secretário de Segurança Pública do Estado, José Mariano Beltrame.

"Temos tido alguns incidentes especialmente em comunidades com mais de 100 mil habitantes, mas vamos em frente com esse projeto e não vamos recuar. Se deixarmos no Rio e no Brasil assumirem territórios, não vamos virar a página da violência em nenhum lugar do mundo", disse.

As Polícias Civil e Militar começaram nesta semana a monitorar e atuar especificamente em 12 comunidades comandadas pela principal facção criminosa suspeita do ataque no Parque Proletário.

Durante a operação no Morro do Juramento, em Vicente de Cavalho, na periferia do Rio, além dos seis suspeitos mortos, quatro pessoas foram feridas, entre elas dois policiais. Houve ainda prisão de suspeitos e apreensão de armas pesadas, drogas e munições.

A comunidade, que não tem unidade pacificadora, tornou-se o quartel-general de traficantes que deixaram o Alemão desde 2010, quando recebeu UPP.


"Nós temos incidentes tristes, mas não podemos generalizar essa situação. Continuo repetindo que temos muito mais respostas positivas do que negativas. Também é ilusão (achar) que o tráfico vai cruzar os braços e deixar que o Estado tome o lugar do que eles controlavam por 30 ou 40 anos", disse Beltrame a jornalistas.

Desestabilização

A maioria das cerca de 40 UPPs da capital foi instalada em comunidades que eram comandadas pela maior facção criminosa do Rio de Janeiro. O ataque à UPP do Parque Proletário, no Complexo do Alemão, seria uma reação do crime organizado à perda de território e negócios com a chegada das UPPs, segundo fontes de segurança.

Nos últimos dois meses, foram registrados mais de dez casos de violência em favelas pacificadas da capital. Desde que as UPPs foram instaladas no Rio, há cerca de cinco anos, oito policiais morreram em comunidades pacificadas.

"A política de segurança não tem volta. São 9 mil homens nessas comunidades.. o controle territorial é da autoridade policial e do Estado não mais de bandidos", disse a jornalistas o governador do Estado, Sérgio Cabral (PMDB), na segunda-feira.

O processo de pacificação na favelas dominadas pelo tráfico é a principal bandeira na área de segurança pública do governador, uma importante conquista para a capital, sede de jogos da Copa do Mundo e da Olimpíada de 2016. O programa é considerado um ativo político para Cabral, que tentará eleger seu sucessor, o vice-governador Luiz Fernando Pezão.

"Há um crime organizado ativo no Rio de Janeiro e uma inquietação com perda de negócios e territórios... há setores tentando desestabilizar a política de segurança que é a pedra que resta do governo Cabral", afirmou à Reuters o cientista político, Ricardo Ismael, da PUC-Rio.


As UPPs representam uma nova abordagem aos problemas de segurança pública do Rio, onde a violência sempre castigou a população, mas os traficantes acabaram migrando para outras regiões e crimes como arrastões voltaram a assustar moradores nos últimos meses.

No ano passado, o programa passou por uma grave crise com a morte do pedreiro Amarildo de Souza, na favela da Rocinha, quando policiais da UPP local foram acusados e presos por assassinato.

Na madrugada dessa terça-feira, houve um arrastão em um hospital particular em Cascadura, na periferia do Rio de Janeiro.

Ao menos 22 pessoas entre funcionários, pacientes e familiares foram alvo de homens armados que levaram dinheiro, cartões de crédito e celulares.

"Há uma tentativa de criar um descrédito contra a política de segurança pública, mas a ação de hoje no Juramento foi um sinal de que o Governo não vai aceitar isso", disse o cientista político Ismael.

Para a coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes Julita Lemgruber, no entanto, desde o início da implatação das UPPs as autoridades sabem se tratar de uma política de segurança ineficaz.

"Desde o início o Beltrame foi muito honesto. Ele disse que as UPPs visavam romper com o controle armado do território, mas sabiam que não iam acabar com o tráfico de drogas. O tráfico continuou acontecendo nessas áreas todas, todo mundo sabia disso", afirmou.

"Aos poucos, eles (tráfico) foram se organizando novamente. Estão começando a esboçar um descontentamento com essa situação", disse à Reuters Julita, que acredita ser necessário "caminhar para a legalização das drogas".

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