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Ônibus com tarifa zero começam a circular em Maricá-RJ

Primeiras linhas de ônibus com tarifa zero começaram a circular hoje na cidade, a terceira do Rio de Janeiro a oferecer transporte público sem cobrar passagem

Vista de Maricá (RJ): ônibus circularão com intervalos de 20 minutos entre 5h e 22h, e de hora em hora durante a madrugada (Prefeitura de Maricá/Divulgação)
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Da Redação

Publicado em 18 de dezembro de 2014 às 15h58.

Rio de Janeiro -As quatro primeiras linhas de ônibus com tarifa zero (sem cobrar passagem) começam a circular hoje em Maricá, o terceiro município do estado do Rio de Janeiro a oferecer transporte público sem a cobrança de passagens. Inicialmente, o serviço terá 10 veículos e ligará os bairros de Recanto e Ponta Negra, nas extremidades do município.

Os ônibus circularão com intervalos de 20 minutos entre 5h e 22h, e de hora em hora durante a madrugada.

No itinerário, estão paradas no fórum da cidade, unidades de saúde e a prefeitura. As linhas que existem atualmente, da Viação Nossa Senhora do Amparo, não serão extintas, mas a intenção da prefeitura é criar um sistema de transporte independente delas:

"Esse é o corredor principal da cidade e a ligará de ponta a ponta, atendendo a 70% da população. Uma pessoa que sai do Distrito de Itaipuaçu, por exemplo, teria que pegar três ônibus para chegar em algumas partes da cidade, pagando R$ 2,70 cada um", diz o prefeito Washington Quaquá, que pretende contratar vans até o fim de 2015 para alimentar esse corredor principal.

Quaquá criticou a qualidade do serviço da empresa de ônibus privada que atua há 40 anos em Maricá, e disse que a prefeitura pretende entrar na Justiça para cobrar melhorias. "Eles não cumprem o contrato. Os ônibus são horrorosos".

A Agência Brasil não conseguiu contato com a assessoria de imprensa da Viação Nossa Senhora do Amparo e o Sindicato das Empresas de Transportes Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro não se pronunciou sobre o assunto.

Para a auxiliar de odontologia Priscila Silva, de 29 anos, o estado de conservação dos ônibus na cidade não chega a ser um problema. Na visão dela, o cidadão do município sofre mais com a demora: "Moro em Itaipuaçu, e ônibus para o centro de Maricá demora demais. Às vezes, não passa nenhum, e, depois, vem cinco de uma vez. É mal organizado", critica a moradora.

Acostumada a ir trabalhar a pé, a professora Jane Maria, de 38 anos, também enfrenta demora quando precisa pegar ônibus. Para ela, faltam opções de transporte na cidade:"Essa (linha de ônibus) que será inaugurada hoje, vai facilitar, porque antes não tinha ônibus por esse caminho; mas o que precisamos mesmo é ônibus intermunicipal, para Araruama, as cidades da Baixada Fluminense e outros municípios", diz ela, que desconfia do serviço gratuito: "Não precisava ser gratuito, podia ter um valor simbólico. Será que vai dar para manter essas linhas?"

O prefeito afirma que o serviço custará R$ 700 mil por mês à prefeitura e, depois que for complementado pelas vans, R$ 1,3 milhão. Acrescenta que, só a prefeitura vai economizar R$ 400 mil em vale-transporte dos funcionários e que as empresas da cidade também vão se beneficiar disso.

O projeto prevê a criação de câmaras populares para avaliar a qualidade do serviço, e também avaliações periódicas de desempenho.Para prestar o serviço, o município criou uma autarquia, a Empresa Pública de Transportes, e contratou 30 motoristas de ônibus por meio de concurso público, em caráter temporário, por 12 meses. Somando outros profissionais, a autarquia tem 45 funcionários.

De acordo com a prefeitura, foram investidos R$ 4,8 milhões.

Os ônibus são equipados com ar condicionado, acesso para cadeirantes por elevadores e internet sem fio. O itinerário e as paradas são informados por meio de aviso em áudio e telões, para portadores de necessidades especiais.

O sistema começou em Silva Jardim em fevereiro de 2014 e é utilizado por 2 mil pessoas por dia. Na cidade de Porto Real, no sul do estado, a tarifa zero existe desde 2008 e custa R$ 200 mil por mês à prefeitura, o que equivale a 2% da receita municipal. Oito ônibus fazem o transporte e transportam diariamente 5 mil pessoas.

Com quase 150 mil habitantes, Maricá vai ser a maior cidade do estado do Rio a ter transporte com tarifa zero. Porto Real e Silva Jardim são os outros municípios que adotaram a política. Segundo a comerciante Margareth Xavier, de Silva Jardim, a medida agradou os moradores da cidade e fez diferença também para o comércio: "Clientes de bairros mais distantes passaram a comprar na minha loja. Os moradores dos distritos agora vêm mais para a cidade".

Única cidade com menos de um milhão de habitantes com BRT, a mineira Uberlândia, com pouco mais de 600 mil pessoas, tem um corredor de 7,5 quilômetros na Avenida João Naves de Ávila há seis anos. Outros municípios brasileiros possuem faixas exclusivas, mas não atendem a todos os critérios de um BRT. Levando o preceito de ser na superfície o que o metrô é abaixo da terra, até mesmo shopping em uma das estações o BRT de Uberlândia tem, o que deve soar familiar para moradores de São Paulo. A imagem ao lado mostra uma das vantagens do sistema: a acessibilidade. Deficientes físicos adentram o coletivo tão rápido quanto os demais passageiros, já que as estações são elevadas.  O corredor deu tão certo que o governo já tem mais quatro projetos aguardando verba do governo federal.
  • 2. São Paulo (SP) - 2007

    2 /3(Wikimedia Commons)

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    Dominante em Curitiba, o uso do BRT em São Paulo não chega nem perto de fazer cosquinha no metrô: os 9,7 quilômetros do primeiro transportam 81 mil pessoas diariamente, segundo a SPTrans, enquanto os 74 quilômetros do transporte subterrâneo dão conta de 4,5 milhões de viagens todos os dias.  Mas quando se trata de avaliação, o único corredor BRT da cidade se sai até melhor. Na última pesquisa da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), 81% dos passageiros acham o Expresso Tiradentes excelente ou bom, índice que cai para 74% no metrô. Os ônibus convencionais ficaram com 40%. O tempo de viagem entre o Terminal Sacomã e o Parque Dom Pedro II foi enormemente encurtado: caiu de 70 para 14 minutos, segundo a SPTrans. Em relação ao BRT “ideal”, o Expresso Tiradente perde apenas porque foi construído em via elevada. “Deveria ser na (altura da) rua, porque tem vantagem do ponto de vista da acessibilidade. Mas em relação a velocidade, o benefício foi plenamente atingido”, afirma Otávio Cunha, da NTU.
  • 3. Rio de Janeiro (RJ) - 2012

    3 /3(Divulgação/Facebook)

  • Como diz a máxima, quem ri por último, ri melhor. Quando se trata de BRT, o Rio de Janeiro pode ter chegado atrasado, mas saiu na frente na nova leva de munícipios onde o sistema está sendo implantado por causa da Copa. O Transoeste foi inaugurado em junho. O Rio segue as regras dos BRTs, a mais importante delas sendo as vias com ultrapassagem, que permitem a existência de linhas expressas e semiexpressas. Quem quer ir de uma ponta a outra o pode fazer sem demoras. Em pesquisa realizada pelo Instituto Mapear, a aprovação chegou a 90%, resultado de quem demorava até 2h30 no trajeto entre Santa Cruz e Barra da Tijuca e agora o faz em 40 minutos. Dentro dos ônibus articulados, uma gravação informa a próxima estação de parada, como em metrôs. Os GPS nos ônibus permitem que se saiba quando chegarão às estações, como em outros BRTs desta galeria. Mas o governo precisará resolver os atropelamentos, que têm sido constantes. Na capital carioca, mais três corredores estão em construção para serem inaugurados até o Mundial de 2014 e as Olimpíadas.
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