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Odebrecht tentou impedir envio de provas ao Brasil, diz delator

A Lava Jato fez em 2014 um pedido de cooperação ao Panamá para o envio de dados sobre o uso de contas no país para pagamento de propinas

Odebrecht: o delator contou que as tratativas para retardar o envio de informações às autoridades brasileiras se deram diretamente com o presidente do Panamá (Nacho Doce/Reuters)

Odebrecht: o delator contou que as tratativas para retardar o envio de informações às autoridades brasileiras se deram diretamente com o presidente do Panamá (Nacho Doce/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 16 de maio de 2017 às 22h21.

Brasília - O ex-executivo da Odebrecht Fernando Migliaccio disse, em sua delação premiada, que, a pedido da empreiteira, o governo do Panamá segurou o envio de provas de corrupção solicitadas pela Operação Lava Jato.

Em depoimento prestado ao Ministério Público Federal (MPF), ele contou que as tratativas para retardar o envio de informações às autoridades brasileiras se deram diretamente com o presidente daquele país.

A Lava Jato fez em 2014 um pedido de cooperação ao Panamá para o envio de dados sobre o uso de contas bancárias no país, considerado um paraíso fiscal, para pagamento de propinas.

Conforme Migliaccio, que chefiava o Setor de Operações Estruturadas, o "departamento de propinas da empreiteira", a empresa soube da requisição e enviou emissários para tentar barrar a remessa de documentos aos investigadores. Ele foi preso em fevereiro de 2016 na Suíça.

Luiz Eduardo Soares, um dos subordinados de Migliaccio na Odebrecht, e Rodrigo Tacla Duran, apontado como um dos operadores financeiros da empreiteira no exterior, teriam viajado diversas vezes ao Panamá para articular com o diretor-superintendente do grupo no país, André Rabello, "a melhor forma" de "frear" uma colaboração com a Lava Jato.

Migliaccio relatou ter ouvido de Soares que a Odebrecht estava tendo "sucesso" em retardar o envio de informações, devido à influência de Rabello.

"O depoente tem conhecimento de que André Rabello tratou com o presidente do Panamá sobre o interesse da empresa em que o pedido de cooperação não fosse respondido às autoridades brasileiras", diz trecho do termo de colaboração do executivo.

A reportagem não conseguiu contato com a Presidência do Panamá nesta terça-feira, 16. A embaixada do país em Brasília informou que só o embaixador poderia tratar do assunto, mas que ele não estava disponível. A Odebrecht, procurada, não se pronunciou.

A operação para obstruir a Lava Jato, segundo Migliaccio, ocorreu após a Lava Jato ser deflagrada, em março de 2014. Ele não mencionou o mês nem nominou o presidente.

Naquele ano, o Panamá foi governado por Ricardo Martineli até 1º de julho, quando foi substituído por Juan Carlos Varela, que permanece no cargo.

Migliaccio revelou que foi informado sobre o andamento do pedido de colaboração até meados de 2015. Em junho daquele ano, foi preso o herdeiro e ex-presidente do grupo, Marcelo Odebrecht.

A Lava Jato continuou encontrando dificuldades em receber informações do Panamá ao menos até o início do ano passado, conforme o relato de investigadores.

Em fevereiro deste ano, procuradores do país firmaram um acordo para trocar informações sobre o caso Odebrecht com o Brasil e outros países.

A Odebrecht mantinha contas no Banco Credicorp, no Panamá, por meio das quais movimentava dinheiro de corrupção. Migliaccio contou que o gerente da conta tinha acesso ao sistema Drousys, do departamento de propinas, e também avisou à empreiteira sobre o pedido de colaboração da Lava Jato.

Migliaccio também contou à Lava Jato que os bancos que guardavam o dinheiro da corrupção no exterior cobravam uma comissão para movimentá-lo. O valor era dividido com os executivos do setor de propinas e agentes da empreiteira no exterior.

 

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