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O que esperar da eleição em SP após ascensão de Marçal e o início do horário eleitoral

No podcast Eleições 2024, Cila Schulman analisou o cenário eleitoral em São Paulo com o crescimento de Marçal e os desafios de Boulos, Nunes, Tabata e Datena

 (Renato Pizzutto/Band/Divulgação)

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Publicado em 31 de agosto de 2024 às 12h10.

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A disputa pelo voto em São Paulo ganhou novos contornos nas últimas semanas após o influenciador Pablo Marçal (PRTB) colar nos então líderes isolados das pesquisas, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) e o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB). A avaliação de Cila Schulman, CEO do Instituto de Pesquisa Ideia, é que esse crescimento do ex-coach é resultado de um vazio entre os eleitores mais à direita, e não de um fenômeno relacionado à antipolítica, visto no Brasil a partir dos escândalos de corrupção relacionados à classe política nos últimos anos.

"Vejo o Marçal como um fenômeno muito mais de um vazio no cenário posto até aqui nessa eleição", diz Schulman no podcast Eleições 2024 da EXAME (assista ao episódio completo aqui). "Temos um atual prefeito que é extremamente desconhecido do ponto de vista de opinião pública, podendo-se dizer que as pessoas não sabem o que ele fez. Versus um candidato de oposição com altíssima rejeição, com uma rejeição pessoal dele e uma rejeição ao seu partido, o PSOL. Além de acumular uma rejeição ao PT. É dentro desse cenário que vemos o crescimento de Marçal", acrescenta.

A leitura tem como base os dados do agregador EXAME/IDEIA. Segundo o último levantamento, considerando 34 pesquisas eleitorais, o influenciador está empatado com Boulos, ambos com 23%. Nunes, na sequência, aparece com 21%.

A analista afirma que a dúvida que será esclarecida nas próximas semanas é qual é o teto de eleitores que planejam votar em Marçal, candidato que apresenta um perfil único e imprevisível de fazer campanha, o que, inclusive, atrapalhou uma resposta coordenada de Boulos e Nunes.

"O que vemos no perfil de intenção de voto em Marçal, até o momento, é um eleitor bolsonarista raiz. Homem, escolarizado e de média e alta renda. Ele tem um perfil de eleitor igual ao que o Bolsonaro tinha em 2017. Esse eleitorado tem um limite, e o grande desafio de Marçal vai ser ir além desse eleitorado", explica.

Schulman vê que Nunes, que tem um alto percentual de votos na periferia, e Boulos, com Marta Suplicy como candidata a vice, estão à frente na disputa pelo voto dos mais pobres, que tem um voto mais relacionado aos serviços da cidade do que um voto polarizado.

"A dúvida que eu tenho é se ele consegue fazer isso com esse discurso e a forma como ele se apresenta. Será que ele é um candidato que consegue entrar nas mulheres, nas franjas de São Paulo, onde as pessoas conhecem e dependem dos serviços públicos?", diz.

A presidente do instituto Ideia reforça ainda que, quando olhamos para a pesquisa espontânea, que não apresenta nenhuma lista com candidatos, cerca de 60% dos eleitores ainda não sabem em quem votar em outubro.

"A eleição ainda está muito longe para o eleitor. E nesse momento, que ninguém estava falando da corrida de fato, é que Marçal conseguiu ter sucesso", avalia.

Tabata como principal opositora de Marçal

A deputada federal Tabata Amaral tem se colocado nas últimas semanas como a principal opositora de Marçal, fazendo vídeos com ataques e acusações sobre o ex-coach. Schulman avalia que essa decisão da campanha da deputada do PSB tem relação com a experiência e bons resultados de Tabata nas redes e a necessidade de se destacar na eleição.

"A Tabata se coloca nesse papel por ser jovem, assim como o Marçal, e ter sido criada na política nas redes. Ela cresce e enfrenta a polêmica muito bem na rede social e sabe fazer isso melhor que qualquer outro candidato nessa eleição", avalia.

Cila, no entanto, vê que essa postura dificilmente mudará o quadro de Tabata, que tem cerca de 6% das intenções de voto, segundo o agregador EXAME/IDEIA.

"Vemos uma limitação de como o engajamento na rede social nem sempre se transforma em voto por falta de espaço. Por isso, acho bastante difícil a situação da Tabata. Porque ela é desconhecida, apesar de ser uma deputada campeã de votos, principalmente na periferia", explica. "A tarefa dela é aumentar o conhecimento sobre o seu trabalho no centro expandido", diz.

Nunes e o tempo de TV

Sobre o atual prefeito, que aparece colado em Boulos e Marçal, mas perdeu votos para o influenciador, a analista afirma que o horário eleitoral gratuito, que começou na última sexta-feira, será extremamente importante, uma vez que o político do MDB terá mais de seis minutos.

"Para Nunes, o horário será fundamental. Fizemos uma conta e ele terá 55 comerciais por dia. É um volume enorme", diz. "O programa mais longo, que tem pouca audiência, mas ainda é relevante, é fundamental para o Nunes porque ele não é conhecido e precisa mostrar o que fez. Todo incumbente aproveita a eleição para melhorar sua avaliação. E um prefeito com avaliação boa normalmente é reeleito", explica.

Cila explica que as campanhas eleitorais precisam acompanhar a tendência e explorar os programas na televisão em uma integração com as propagandas nas redes sociais e a campanha de rua.

"Todo mundo assiste à televisão com o celular na mão. As campanhas devem fazer uma continuidade do que vai passar na TV", afirma.

Boulos e os desafios de ganhar votos na periferia e diminuir a rejeição

Entre os principais desafios de um dos líderes da pesquisa está a necessidade de diminuir a alta rejeição e aumentar seu percentual de votos entre os eleitores mais pobres, que em 2022 votaram no presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seu principal apoiador. Cila avalia que Boulos tem buscado, nesse início de campanha, mostrar que é um candidato mais moderado.

"Todos os passos dele têm sido no sentido de diminuir a rejeição. Dando um passo à frente, se você pensar em segundo turno, é uma decisão de quem você não quer. Por isso, o Boulos precisa diminuir a rejeição e se mostrar mais moderado, até pelo seu histórico de invasões e do seu partido, como mais à esquerda. Ele está tentando sair da zona de conforto para atrair o eleitor de centro", diz.

A presidente do instituto de pesquisa IDEIA diz que um dos principais trunfos do deputado será mostrar sua vice, Marta Suplicy (PT), para buscar o eleitor da periferia.

"Trazer a Marta é uma jogada inteligente, porque ela tem o voto da periferia, traz um enoval de entregas importantes que ainda estão no imaginário da população e estão de pé em muitos lugares. Além de mostrar uma chapa com experiência, pois o Boulos tem o desafio de não ter nenhuma entrega muito relevante para a cidade", avalia.

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