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O que é a Semana do Clima, que governo desdenhou e agora decidiu apoiar

Após criticar iniciativa da prefeitura de Salvador em sediar evento da ONU, Ministério do Meio Ambiente voltou atrás e anunciou apoio ao encontro

Ricardo Salles, do MMA: após desdenhar de evento,  governo recua e aprova encontro em Salvador.  (Jales Valquer/Folhapress)

Ricardo Salles, do MMA: após desdenhar de evento, governo recua e aprova encontro em Salvador. (Jales Valquer/Folhapress)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 20 de maio de 2019 às 12h35.

Última atualização em 20 de maio de 2019 às 13h43.

São Paulo - O Ministério do Meio Ambiente (MMA) resolveu voltar atrás e aprovar a realização da Semana do Clima da América Latina e Caribe ("Climate Week") prevista para ocorrer em Salvador no mês de agosto. A decisão de apoiar o evento promovido pela ONU foi anunciada no domingo por meio de uma nota curta do órgão, que atribui o recuo a “entendimentos mantidos nesses últimos dias com o prefeito de Salvador”.

Na semana passada, o ministro Ricardo Salles desdenhou da iniciativa da prefeitura soteropolitana. "Vou fazer uma reunião para a turma ter oportunidade de fazer turismo em Salvador? Comer acarajé?”, disse em entrevista ao blog da jornalista Andréia Sadi, veículo que tem escolhido para fazer seus pronunciamentos.

A Semana do Clima da América Latina e Caribe é um dos eventos regionais organizados pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) que antecedem a esperada reunião do clima da ONU, a COP-25, destinada à implementação do Acordo de Paris, o pacto global de combate às mudanças climáticas.

O Brasil era o principal cotado para sediar o evento, mas retirou sua candidatura alegando restrições fiscais e orçamentárias, marcando uma mudança histórica em sua trajetória de liderança climática. Com isso, o Chile será o país-sede da COP25, de 11 a 22 de novembro de 2019.

Enquanto a reunião climática da ONU destina-se à negociação entre chefes de Estado, a Semana do Clima da América Latina e Caribe é uma reunião voltada a negócios, com presença maciça do setor privado, além de governos, sociedade civil e organizações multilaterais.

Durante os quatro dias de sessões, que devem ocorrer entre 19 e 23 de agosto, o diálogo se centrará em temas como finanças climáticas, transportes sustentáveis, crédito de carbono entre outras oportunidades de ação climática para as cidades. A última edição latino-americana da Semana do Clima, no ano passado, em Montevidéu, reuniu mais de 600 participantes vindos de 67 países.

Salvador rouba a cena

Obstinado, o prefeito de Salvador, ACM Neto, do Democratas, já trabalhava com a possibilidade de realizar a Semana do Clima mesmo sem aprovação do governo federal. Chegou a ordenar que o secretário de Cidade Sustentável e Inovação, André Fraga, consultasse a UNFCC sobre essa alternativa.

A dedicação se justifica - e não apenas pelos ganhos "econômicos" que um evento desse porte promove. Ao que tudo indica, Salvador quer se posicionar como uma cidade "antenada" no debate ambiental. Durante o encontro, a prefeitura pretende anunciar seus planos para tornar a região metropolitana mais preparada para os desafios do clima.

Pelas previsões dos modelos climáticos do IPCC, o documento científico mais importante sobre mudanças climáticas, o clima no Brasil nas próximas décadas deverá ficar mais quente, com aumento variável da temperatura média em todo o território de 1 ºC e 6 ºC até 2.100, em comparação à média registrada no fim do século 20. Por tabela, o Nordeste brasileiro enfrentará maior frequência de períodos secos mais intensos e longos.

Na capital baiana, vivem cerca de 2,8 milhões de pessoas, o que corresponde a 20% da população total do estado. O polo mais poderoso da rede de cidades baianas agora assume protagonismo no debate climático na região.

Com a anuência do governo federal, ACM Neto garantiu as condições políticas para que a ONU mantenha o evento no Brasil, apesar das tentativas nacionais para ficar de fora do debate global sobre um dos temas mais urgentes de nossos tempos. É claro que seu status político pode ter ajudado a virar o jogo, já que o prefeito preside o partido que comanda a Câmara e o Senado (e em cujas mãos está a reforma da Previdência).

O feito vem em momento delicado para área ambiental brasileira. As intervenções contra o aquecimento global estão entre as mais afetadas pelo bloqueio de recursos feitos na semana passada pelo governo federal. Dos R$ 11,8 milhões que seriam usados neste ano na Política Nacional sobre Mudança do Clima, para atender a compromissos assumidos pelo MMA, R$ 11,3 milhões foram contingenciados (96%), sobrando apenas R$ 500 mil.

Apesar disso, na nota de apoio ao evento, o MMA propõe participar do encontro em Salvador dando ênfase à “agenda de Qualidade Ambiental Urbana e no Pagamento por Serviços Ambientais“. Segundo o comunicado, ideia é discutir “instrumentos financeiros que visem dar efetividade econômica às atuais e futuras ações de mitigação e adaptação às mudanças climáticas no Brasil”. 

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