O que acontece em caso de impeachment ou renúncia de Temer?
Comprovado o depoimento, no mínimo, Temer poderia ser acusado de ser conivente com uma conspiração para barrar as investigações da Lava Jato
Talita Abrantes
Publicado em 18 de maio de 2017 às 06h30.
Última atualização em 18 de maio de 2017 às 11h51.
São Paulo – Até o final da tarde desta quarta-feira, quase ninguém colocava fé na possibilidade do presidente Michel Temer ter seu mandato abreviado. A gravação de um diálogo embaraçoso que o empresário Joesley Batista, um dos controladores da holding J&F, afirma ter tido com o peemedebista muda esse balcão de apostas.
Batista acusa Temer de endossar a compra do silêncio do ex-deputado federal Eduardo Cunha e do operador Lúcio Funaro, presos na operação Lava Jato. O presidente nega as acusações.
Essa não é a primeira vez que o presidente é jogado para o meio da maior investigação contra a corrupção no país. Mas, agora, o teor do depoimento e as provas a ele atrelados colocam em risco a sua permanência no cargo – algo inédito nos últimos 370 dias de governo Temer.
“É de suma importância que o áudio da gravação seja divulgado. Se confirmado o conteúdo da conversa com o empresário, não haverá condições para a permanência do presidente no cargo”, afirma Marcelo Issa, sócio da consultoria Pulso Público a EXAME.com.
Comprovado o depoimento, no mínimo, Temer poderia ser acusado de ser conivente com uma conspiração para barrar as investigações da Lava Jato.
Até o momento, ele passou imune às delações por uma razão: os fatos a ele imputados pela Odebrecht, por exemplo, teriam acontecido antes de seu mandato e, portanto, não poderiam ser julgados.
O problema é que, dessa vez, a reunião com Joesley aconteceu no meio do atual mandato, no último dia 7 de março. Ou seja, nesse caso, Temer não teria a imunidade temporária.
Se toda essa lógica se materializar, o futuro do presidente se limitaria a três caminhos: renúncia, impeachment ou cassação da chapa via TSE.
O primeiro cenário, afirma o Planalto, está fora de cogitação. Mas o mesmo não se pode dizer da segunda possibilidade. Só na noite de ontem dois pedidos de impeachment contra Temer já tinham sido protocolados na Câmara dos Deputados.
Caso o impeachment ou a renúncia se confirmem, Temer perde o cargo. Como ele não tem vice, caberá ao Congresso eleger, por via indireta, um novo chefe para o Executivo Federal.
Até que um novo pleito seja realizado, a lei determina que o presidente da Câmara dos Deputados – atualmente, Rodrigo Maia (DEM-RJ), assuma interinamente a Presidência da República.
Para concorrer, os candidatos devem ser brasileiros natos e estar filiados a algum partido político há pelo menos seis meses.
O prazo para as eleições é de 30 dias a partir da publicação da cassação da chapa. Para se eleger, o candidato precisa receber a maioria absoluta dos votos do Congresso – ou seja, metade mais um.
Até que o conteúdo da gravação seja divulgado e uma eventual investigação tome seu curso, as reformas da Previdência e Trabalhista devem ficar "no gelo". E a recuperação da economia, que já dava seus primeiros sinais, cai de novo no buraco da incerteza. Para o desalento de toda uma nação.