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O que a vitória de Davi Alcolumbre significa para o governo Bolsonaro

Um dos grandes vencedores da noite foi o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, também do DEM e padrinho político de Alcolumbre

 (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

(Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 2 de fevereiro de 2019 às 20h48.

Última atualização em 6 de fevereiro de 2019 às 10h11.

São Paulo - O jovem senador Davi Alcolumbre, de 41 anos, foi eleito neste sábado (02) o novo presidente do Senado para o biênio 2019-2020 em primeiro turno, com 44 de 77 votos registrados.

O caminho para a vitória foi atribulado: ontem, a sessão inicial foi suspensa após impasses diante da presidência da Mesa e da decisão da maioria por declarar voto aberto.

Alcolumbre era o único membro remanescente da Mesa anterior e por isso assumiu a liderança da sessão e se recusou a levantar da cadeira por sete horas.

Ele foi criticado por conflito de interesses por já ter declarado publicamente antes que era ele mesmo candidato.

A sessão voltou hoje com nova polêmica, primeiro sobre voto fechado (garantido em regimento interno e reafirmado por decisão de Dias Toffoli, ministro do STF) e depois com uma votação que deu errado.

Foram registradas 82 cédulas para 81 senadores, gerando uma acusação de fraude até agora não esclarecida.

Foi na segunda votação que Davi ganhou, agora sem a concorrência do antes favorito Renan Calheiros, que se retirou no meio da disputa.

Quem ganha

O resultado de hoje é uma vitória política para o DEM, que além de ter três ministérios também ganhou a liderança na Câmara dos Deputados (com Rodrigo Maia).

Também enterra as pretensões do antes todo-poderoso MDB de manter algum núcleo forte de poder no governo Bolsonaro.

Um dos grandes vencedores da noite foi o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, também do DEM e padrinho político de Alcolumbre.  A mulher de Lorenzoni trabalha no gabinete dele.

Ciente dos erros de Dilma Rousseff em 2015, que atuou abertamente por seus correligionários e acabou recebendo de presente Eduardo Cunha, Lorenzoni atuou de forma discreta por Alcolumbre.

Sustentou uma neutralidade pública até o fim mas assim que a vitória foi anunciada, comemorou abertamente fazendo referência ao episódio bíblico de Davi contra Golias.

Já a equipe econômica, na contramão de Onyx, via a experiência de Renan Calheiros como um ativo na articulação das reformas.

Christopher Garman, diretor da consultoria americana de risco político Eurasia, acha que o governo navegou mal no Senado e na Câmara, mas não acredita que isso vá comprometer a agenda econômica. Tanto Alcolumbre quanto Maia defenderam as reformas em seus discursos de vitória.

Fernando Schuler, professor do Insper, diz que a perspectiva é favorável para a aprovação de uma reforma da Previdência já no primeiro semestre.

Transparência

Para Garman, o resultado de hoje também mostrou um Congresso mais sensível à opinião pública, que se manifestou amplamente via redes sociais contra a candidatura de Renan Calheiros (MDB).

Ao longo do dia, termos como #EnterrodeRenan ficaram em destaque nos trending topics do Twitter. Nesse sentido, a questão do voto aberto foi essencial para constranger quem apoiava Renan.

Apesar da decisão do STF garantindo o sigilo, como prevê o regimento, na medida que mais e mais senadores fizeram o voto aberto ficou claro que seria impraticável fazer punições formais.

Flávio Bolsonaro, que se vê embrenhado em denúncias de corrupção sobre seu período como deputado estadual, foi o caso mais simbólico.

Na primeira votação, ele não declarou seu voto: disse nas redes sociais que quis preservar o pai, mas especula-se que tenha negociado voto a Renan em troca de proteção. Após críticas, chegou na segunda votação apoiando Alcolumbre.

Foi justamente nesse momento que Renan subiu na tribuna para se colocar como guardião da democracia e retirar sua candidatura, citando Flávio pelo nome e uma mudança de posição no PSDB.

A questão é que se a oposição a Renan foi o que uniu o bloco Alcolumbre, é difícil prever como atuarão em outras pautas.

"O grupo que elegeu Alcolumbre tem gente da direita à esquerda que se aliaram com a missão anti-Renan. O grupo foi coeso só até a vitória mas ela encerrada, o Senado se fragmenta", diz Thiago Vidal, gerente de análise política da consultoria Prospectiva.

O Senado começa a sua legislatura disperso e cheio de novatos. No Senado, das 54 vagas renovadas, 46 foram ocupadas por novos nomes, uma renovação de mais de 87%. Na Câmara dos Deputados, onde todas as vagas passaram por eleição, a renovação foi de 52% dos parlamentares.

O número de legendas representadas no Senado subiu de 15, em 2015, para 21 agora. As novidades incluem o Podemos, PSL, PHS, Pros, PRP, PTC e o Solidariedade. Todos não tinham representantes em 2015 e agora têm um cada.

"Os senadores se juntaram menos em torno do governo e mais para derrotar a velha oligarquia do Senado, apesar do governo também ter recebido uma sinalização importante", diz Humberto Dantas, cientista político e professor da FESP-SP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo).

"Muito do que se colheu foram fruto de coisas internas do Legislativo e não necessariamente do Planalto. E se forem do Planalto, aí veremos quanto o governo pagou por isso em recursos, cargos ou o que seja", diz Dantas.

Com as manobras e o caos de ontem e hoje, Renan foi de potencial aliado, com afagos ao governo Bolsonaro, a um inimigo e possível líder da oposição nos corredores do Senado. A partir de segunda-feira, sua força será testada.

(Com Agência Brasil)

 

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