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O Brasil aos olhos de Dilma

Em uma entrevista de duas horas a Veja em Brasília, a presidente Dilma Rousseff diz que o poder não é desfrutável, mas que também não perde o sono com seus problemas

Dilma: "No tempo que terei na Presidência vou fazer a minha parte, que é dotar o Estado de processos transparentes em que as melhores práticas sejam identificadas" (Sergio Dutti/Veja)
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Da Redação

Publicado em 17 de julho de 2012 às 19h47.

Aos olhos de muita gente, a presidente Dilma Rousseff deveria estar uma pilha de nervos na semana passada. Ela vinha de uma viagem à Alemanha, onde pareceu, inadequadamente, dar lições de governança à chanceler Angela Merkel. Na reunião que teria com os maiores empresários brasileiros, ela lhes daria “um puxão de orelha”, e, para completar o quadro recente de tensão, a base aliada do seu governo no Congresso estava em franca rebelião, contrariando seguidas iniciativas do Palácio do Planalto nas votações.

Como pano de fundo da semana caótica, havia o fato de Dilma ainda não ter convencido a opinião pública de ser a grande gestora que o eleitorado escolheu para governar o Brasil em 2010. Como escreve nesta edição J.R. Guzzo, colunista de Veja, capturando uma sensação mais ampla, “a maior parte das atividades do governo brasileiro hoje em dia poderia ser descrita como ficção”.

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Mas Dilma não estava nem um pouco tensa quando recebeu a equipe de Veja (Eurípedes Alcântara, diretor de redação, e os redatores-chefes Lauro Jardim, Policarpo Junior e Thaís Oyama) na tarde de quinta-feira passada para uma conversa de duas horas em uma sala contígua a seu gabinete de trabalho no Palácio do Planalto, em Brasília.

Dilma vinha de encerrar a reunião com os empresários, em que, disciplinadamente, cada um dos 28 presentes teve cinco minutos para falar, e não pareceu ter dado — ou levado — metafóricos puxões de orelha. “Tivemos uma conversa séria. Coisa de país que sabe onde está no mundo e aonde quer chegar”, disse ela.

“Ficamos todos de acordo que os impostos têm de cair, os investimentos privados e estatais têm de aumentar e o que precisar ser feito para elevar a produtividade da economia brasileira e sua competitividade externa será feito.” Para quem vinha tendo os ouvidos atacados pelo buzinaço estéril da “guerra cambial” contra o Brasil — expressão que, como mostra a entrevista, ela não acha própria —, a frase de Dilma, mesmo sem a sonoridade do português castiço, soa como música.

É saudável quando o governante não põe em inimigos externos toda a culpa por coisas que não funcionam. Melhor ainda quando reconhece que seu próprio campo, além de não ter soluções para tudo, é também parte do problema. “Não dá para consertar a máquina administrativa federal de uma vez, sem correr o risco de um colapso. Nem na iniciativa privada isso é possível. No tempo que terei na Presidência vou fazer a minha parte, que é dotar o Estado de processos transparentes em que as melhores práticas sejam identificadas, premiadas e adotadas mais amplamente. Esse será meu legado. Nosso compromisso é com a eficiência, a meritocracia e o profissionalismo.”

“Eu disse aos empresários que seremos aliados nas iniciativas para aumentar a taxa de investimento da economia — e não mais apenas o crédito para o consumo”, contou ela. Suas propostas lembram o gato do chinês Deng Xiaoping. Não importa a cor. O que interessa é que ele cace ratos.

Dilma Rousseff, porém, continua sendo a Dilma da lenda da mulher durona, de coração nacionalista. Confrontada com as críticas de que a Petrobras não pode ser um braço de política industrial do governo, ela reagiu: “A Petrobras tem de saber que o petróleo é do Brasil e não dela”. Felizmente, Dilma admite que a extração do petróleo do pré-sal tem prioridade até sobre a sacrossanta exigência de 65% na taxa de nacionalização dos equipamentos — o que inviabiliza ou encarece muitas operações.


Ela não verbaliza que a taxa pode ser reduzida, mas diz que, entre a manutenção do patamar de nacionalização e a garantia de produção dos campos do pré-sal, fica com a produção.

Leia, a seguir, destaques da entrevista que ocupa dez páginas na edição desta semana de Veja:

“O Brasil está em uma situação agora em que podemos dizer aos países ricos que não queremos o dinheiro deles. Eu disse isso com toda a clareza à chanceler Angela Merkel durante minha visita à Alemanha. Aqui se noticiou que eu estava querendo dar lições à Alemanha. Não foi nada disso. Eu quis deixar claro que o Brasil não quer mais ser visto como destinação de capital especulativo ou apenas como mercado consumidor dos produtos que eles exportam”

“Quando o companheiro Mario Draghi (economista italiano presidente do Banco Central Europeu) diz ‘vamos botar a maquininha que faz dinheiro para rodar’, ele está inundando os mercados com dinheiro. O Brasil não pode ficar paralisado diante disso. Temos de agir. Temos de agir nos defendendo — o que é algo bastante diferente de protecionismo”

“Os empresários reclamaram que os impostos cobrados no Brasil inviabilizam as melhores iniciativas e impedem que eles possam competir em igualdade de condições no mundo. Eu concordo. Temos de baixar nossa carga de impostos. E vamos baixá-la. Temos de aumentar nossa taxa de investimento real
para pelo menos 24%”

“Os líderes da China não escondem que não podem mais negligenciar o mercado consumidor interno. Eles estão mudando seu foco aceleradamente para atender às demandas do mercado interno chinês. De ameaça, a China pode se tornar oportunidade de mercado também para as exportações brasileiras de manufaturados”

“Não há crise nenhuma. Perder ou ganhar votações faz parte do processo democrático e deve ser respeitado. Crise existe quando se perde a legitimidade. Você não tem de ganhar todas. O Parlamento não pode ser visto assim. Em alguma circunstância sempre vai emergir uma posição de consenso do Congresso que não necessariamente será a do Executivo”

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