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Nunes e Boulos são principais alvos em debate da Record, marcado por segurança e civilidade

Em debate com enfrentamento direto, os dois líderes nas pesquisas tiveram de responder a acusações de Marçal, Tabata, Marina Helena e Datena

Record implementou um forte esquema de segurança, com detector de metais e revista para jornalistas e equipes dos candidatos por conta dos acontecimentos em outros eventos (Edu Moraes/Record/Divulgação)

Publicado em 28 de setembro de 2024 às 23h08.

Última atualização em 29 de setembro de 2024 às 00h02.

O nono debate com candidatos à prefeitura de São Paulo, realizado pela TV Record, na noite deste sábado, 28, foi marcado por críticas e ataques diretos ao atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) e ao deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), dois dos candidatos mais bem colocados nas pesquisas eleitorais.

A sete dias do primeiro turno , Pablo Marçal (PRTB), Tabata Amaral (PSB) e Marina Helena (Novo) aproveitaram o tempo de fala para atacar os dois candidatos em ambos os blocos de embate direto.

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Na comparação com os debates anteriores, marcados por xingamentos e agressões, os candidatos se concentraram em mostrar os erros dos adversários e tentar conquistar o eleitor na reta final das eleições. Dos onze pedidos de respostas solicitados por todos os candidatos, nenhum foi concedido pela organização.

Tabata, em um momento do primeiro bloco, aproveitou uma pergunta para atacar Boulos e Nunes simultaneamente, questionando os posicionamentos do deputado federal e de seu partido, além da gestão das creches pela prefeitura, e apresentou as suas soluções para o tema.

O debate teve regras rígidas para evitar xingamentos entre os candidatos. A emissora determinou que, caso alguém descumprisse as normas, o mediador poderia intervir. Em caso de novo descumprimento, o candidato perderia 30 segundos de fala nas considerações finais. Caso ocorressem quatro infrações, o participante poderia ser expulso do debate.

Marçal foi o único candidato punido, após atribuir um apelido a Boulos, e perdeu 30 segundos de suas considerações finais.

Antes do debate, a Record implementou um forte esquema de segurança, com detector de metais e revista para jornalistas e equipes dos candidatos. “Todas as pessoas que entraram nesse prédio hoje foram revistadas”, disse um dos funcionários da empresa durante a entrada dos jornalistas.

Nenhum dos seis candidatos foram revistados. Eles também tiveram direito a entrar com três assessores e um segurança no estúdio.

A decisão da emissora tem relação com os acontecimentos dos debates anteriores. No encontro da TV Cultura, Datena acertou uma cadeirada em Marçal, e no embate do Flow, um assessor de Marçal acertou um soco no marqueteiro de Nunes.

Nunes e Boulos como alvos no 1º bloco

O primeiro bloco foi aberto com uma pergunta de Boulos, que escolheu Datena para responder sobre suas propostas para as 80 mil pessoas morando nas ruas de São Paulo.

Datena classificou como uma “irresponsabilidade” o fato de haver 80 mil pessoas morando na rua, afirmando ser “quase um genocídio”. Ele também criticou o auxílio-aluguel de R$ 400 e os abrigos municipais, prometendo “dar a esse povo invisível condições de saúde, moradia e emprego”.

Na réplica, Boulos defendeu uma política de moradia, geração de renda e assistência social.

Na sequência, foi a vez de Marçal perguntar a Nunes sobre educação, apontando erros na gestão atual.

Nunes destacou que, pelo quarto ano consecutivo, todas as crianças têm vaga na creche. Ele também mencionou a valorização dos professores e afirmou que seguirá avançando com a distribuição de tablets com conteúdos pedagógicos e acesso à internet.

Na réplica, Marçal criticou Nunes por não reconhecer os erros e apresentou suas propostas para transformar as escolas em escolas olímpicas e investir em tecnologia e ensino de profissões. Marçal também mencionou o desvio de merenda, confundindo-o com as investigações apelidadas de "máfia das creches", em que uma investigada pela Polícia Federal acusa o prefeito de desviar dinheiro das unidades de ensino.

O atual prefeito acusou Marçal de ser "condenado" e afirmou ter honra: “Você é um mentiroso contumaz e trouxe uma mentira. Condenado 22 vezes por mentiras contra mim e minha família. Mas quero falar da cidade e não cair nos seus golpes", disse o emedebista.

Tabata Amaral escolheu Boulos para questioná-lo sobre como atuaria em relação às Parcerias Público-Privadas (PPP) nas creches, criticadas pelo partido do oponente.

Boulos afirmou conhecer boas entidades que ajudaram Covas a zerar a fila das creches, destacando que isso não era mérito de Nunes. Ele prometeu manter as creches conveniadas e defendeu a equiparação das condições de trabalho dos profissionais, alegando que “Nunes reduziu os repasses para as unidades”.

Tabata também criticou Nunes, afirmando que o prefeito perdeu o controle da cidade e mencionando a investigação sobre a máfia das creches. A deputada ressaltou que no modelo de PPP falta um padrão para garantir a qualidade, mas também questionou as mudanças de posição de Boulos, que geravam dúvidas.

O deputado lamentou que a candidata do PSB trouxesse questões que "não procedem com a verdade" e declarou que, como prefeito, governará para a cidade, destacando a experiência de sua vice, Marta Suplicy, e do presidente Lula.

O quarto confronto foi entre Nunes e Marina Helena, que debateram propostas para pessoas com deficiência. Marina criticou a gestão atual e sugeriu que o valor gasto poderia garantir acesso de estudantes com deficiência a escolas particulares. Ela também mencionou que a campanha de Nunes é investigada por pagar mais de R$ 630 mil a locadoras de veículos, fazendo referência a uma reportagem do The Intercept.

Nunes disse não ter ideia do que Marina falava.

Datena iniciou sua pergunta a Tabata, criticando a atual gestão e mencionando que o prefeito poderia ter investido o dinheiro que a prefeitura tem em caixa para ajudar os mais pobres. Ele questionou Tabata sobre a segurança urbana.

A deputada acusou a gestão de não cuidar da segurança e prometeu câmeras 24 horas, reforço policial nas zonas perigosas e iluminação pública, principalmente para proteger as mulheres e combater o roubo de celulares. Ela prometeu 1 mil novos guardas e uma remuneração especial para os que atuam nas áreas mais perigosas, além de uma política de inteligência para sufocar o esquema de roubos.

O apresentador, por sua vez, defendeu uma postura de tolerância zero com criminosos, dentro da legalidade.

Ainda no primeiro bloco, os jornalistas da Record questionaram os candidatos sobre temas polêmicos. Nunes foi indagado sobre sua relação com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a sua influência em um eentual segundo mndato. O atual prefeito destacou a figura de seu vice, ex-coronel Mello Araújo, indicado por Bolsonaro.

O candidato do PSOL criticou a resposta de Nunes, afirmando que o prefeito vive em uma "cidade de fantasia" e mencionou uma declaração de Mello Araújo de que os moradores de bairros pobres devem ser tratados de forma diferente de moradores de bairros ricos.

Boulos rechaçou essa declaração e afirmou que deseja ser prefeito para garantir o mesmo padrão de dignidade a todos os cidadãos de São Paulo.

O atual prefeito lamentou as afirmações do candidato do PSOL, alegando que Boulos não tem experiência de gestão e que atuou apenas para "liberar Janones da rachadinha" e "invadir" terrenos. O prefeito também defendeu seu vice como um “homem honrado”.

Marçal, em seguida, foi questionado sobre a suposta ligação entre o crime organizado e o presidente de seu partido, Leonardo Avalanche, e se ele teria espaço em um eventual governo. Marçal afirmou que o presidente de seu partido tem direito de se defender e de ser responsabilizado caso seja comprovada a ligação com o PCC. Ele também criticou Boulos, chamando-o de uma “figura de marketeiro” criada, assim como Lula.

Tabata, que dividia a questão com Marçal, destacou que um levantamento recente revelou que o crime organizado está investindo 8 milhões nesta eleição municipal, utilizando contratos públicos para lavar dinheiro. Ela também expressou preocupação com candidatos com possíveis ligações com o PCC, numa referência indireta a Marçal.

Boulos foi questionado se atuaria com firmeza contra invasões. Ele respondeu que se orgulha de sua trajetória ao lado de quem não tem direito à moradia, e afirmou que, como prefeito, sua gestão terá o maior programa habitacional da cidade, com criação de moradias, urbanização de favelas e regularização fundiária.

Marina Helena, ao comentar, acusou Boulos de invadir prédios públicos e afirmou que movimentos sociais desejam apenas “a busca pelo poder”. Boulos, em sua réplica, desafiou seus adversários a mostrar qual casa ele teria invadido. Em meio à fala da candidata do NOVO, o deputado do PSOL fez dois pedidos de respostas, mas teve as suas solicitações negadas.

Datena foi questionado pelos jornalistas sobre seu temperamento, especialmente após o episódio da cadeirada no debate da TV Cultura contra Marçal. O apresentador afirmou que sua reação foi uma forma de defesa e que, como prefeito, manterá a "mesma coragem" para governar São Paulo.

Num segundo confronto entre Tabata e Marçal, o candidato do PRTB afirmou que não encontrou votos para Tabata e Marina Helena, mas sim para Boulos e, inacreditavelmente, para Datena. A candidata do PDT respondeu que, de fato, não possuía uma “máfia digital” e grandes coligações, mas que sua campanha tinha força popular, também numa crítica indireta a Marçal, acusado pelo partido da candidata na Justiça Eleitoral por uso de recursos ilegais para promover sua campanhas em redes sociais.

Segundo bloco tem embate entre Nunes e Boulos

O segundo bloco começou quente, com um embate direto entre Boulos e Nunes. O deputado questionou onde o prefeito estava no dia 5 de novembro de 2023.

Nunes não respondeu diretamente e afirmou que provavelmente estava trabalhando, enquanto Boulos "normalizou a rachadinha". No restante de sua fala, o prefeito valorizou sua gestão.

Na réplica, Boulos destacou que considera rachadinha um crime, independentemente de quem a comete. Em relação ao seu questionamento inicial, afirmou que Nunes estava em camarotes, enquanto a cidade sofria com um apagão, e criticou a falta de solidariedade e "compaixão" do prefeito, alegando que ele não é capaz de "sentir a dor da população".

Nunes se defendeu, afirmando que procurou o governo federal e o Tribunal de Contas da União para fazer representações contra a Enel, a concessionária responsável pela distribuição de energia na cidade. Ele também afirmou ter um histórico de gestão, enquanto Boulos "nunca fez nada".

Na sequência, Marina Helena questionou os posicionamentos de Boulos e de seu partido. A candidata do Novo disse que apesar de Boulos se apresentar como moderado, ele é um candidato de "extrema-esquerda", assim como seu partido, e que defende o confisco de propriedades.

Em sua resposta, Boulos evitou o confronto e disse que a população está interessada em propostas concretas, e não em "mentiras e fake news". Ele usou o restante do tempo para falar sobre suas propostas, prometendo dobrar o efetivo da GCM e revogar a contribuição de 14% sobre as aposentadorias dos servidores da cidade.

Após a discussão que culminou na cadeirada no debate da Cultura, Datena e Marçal evitaram trocar ataques e focaram em criticar a gestão de Nunes.

Datena afirmou que Nunes está entre os piores prefeitos da história de São Paulo e que, apesar de ter recursos, fez pouco, iniciando obras eleitoreiras "gastando dinheiro para caramba" próximo à eleição.

Na mesma linha, Marçal afirmou que mudou de opinião e que o ex-prefeito e atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não foi o pior prefeito da cidade, mas sim Nunes, alegando que ele "não tem o tamanho necessário para a cadeira de prefeito".

Quando chegou sua vez de perguntar, Tabata Amaral questionou Marina Helena sobre suas propostas para as pessoas em situação de rua.

Marina criticou o papel da prefeitura em financiar organizações sociais que, segundo ela, não apresentam resultados concretos na Cracolândia e em outras regiões da cidade. Afirmou que a administração atual está perpetuando uma "indústria da miséria".

Marina também destacou que sua proposta é fornecer boas moradias, restabelecer laços familiares e capacitar essas pessoas para o mercado de trabalho e tira-lás da rua.

Tabata afirmou que uma de suas prioridades será cuidar dos mais vulneráveis, com foco na saúde física e mental. Ela também mencionou o Prefia, sua proposta para financiar o aluguel da população mais carente, especialmente para idosos.

Na réplica, Marina valorizou as gestões do partido Novo pelo Brasil e acusou Tabata de plagiar projetos de outros parlamentares. A deputada pediu direito de resposta sobre as acusações, que foi negado.

Quando foi sua vez de perguntar, Nunes questionou Tabata sobre o clima. A deputada mencionou seu projeto de lei que obriga as prefeituras do país a criarem medidas para lidar com extremos climáticos e afirmou que, se eleita, atuará para prevenir riscos antes mesmo de assumir o cargo. Ela também criticou as "obras mal feitas" pela gestão Nunes.

Nunes respondeu que sua administração está investindo em obras de drenagem, canalização e construção de piscinões para evitar enchentes, em parceria com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Ele afirmou que, se fosse detalhar todas as obras, precisaria de "várias horas", destacando sua gestão.

Em uma nova dobradinha entre Datena e Marçal, o apresentador questionou o ex-coach sobre suas propostas para combater a pobreza. Marçal afirmou que deseja ver São Paulo próspera e que o maior programa social do mundo é o emprego, prometendo levar oportunidades para a periferia.

Datena, por sua vez, criticou a gestão de Nunes, dizendo que ele não cuida das pessoas e não combate a fome.

Nas considerações finais, todos os candidatos elogiaram o nível do debate, pediram votos à população e reforçaram suas propostas. No fim, o debate da TV Record mostrou um sopro de civilidade em uma campanha marcada por muita agressividade.

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