Presidente Dilma Rousseff (PT) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante uma coletiva após o resultado da eleição, em Brasília (Ueslei Marcelino/Reuters)
Talita Abrantes
Publicado em 27 de outubro de 2014 às 13h59.
São Paulo - Ao lado de Luiz Inácio Lula da Silva e diante de uma militância barulhenta, Dilma Rousseff (PT) pediu união, declarou que vai fazer a reforma política e sinalizou atenção especial à economia - seu principal calcanhar de Aquiles no primeiro governo.
Veja os principais pontos e o discuso na íntegra:
“Meus amigos e minhas amigas, chegamos ao final de uma disputa eleitoral que mobilizou intensamente as forças do nosso país. Como vencedora destas eleições históricas, tenho simultaneamente palavras de agradecimento e conclamação.
Agradeço ao meu companheiro de chapa e de todas as horas, meu vice Michel Temer. Agradeço aos partidos políticos e sua militância que sustentaram a nossa aliança e foram decisivos para a nossa vitória.
Agradeço a cada um e a cada uma dos integrantes desta militância combativa que foi a alma, que foi a força desta vitória. E agradeço sem exceção a todos os brasileiros e brasileiras.
Eu faço um agradecimento do fundo do meu coração ao militante número 1 das causas do povo e do Brasil, o presidente Lula.
Conclamo, sem exceção, a todas as brasileiras e a todos os brasileiros para nos unirmos em favor do futuro de nossa pátria, de nosso país e de nosso povo.
Não acredito, sinceramente, do fundo do meu coração, que essas eleições tenham dividido o país ao meio. Entendo, sim, que elas mobilizaram ideias e emoções as vezes contraditórias, mas movidas por um sentimento comum: a busca de um futuro melhor para o país.
Em lugar de ampliar divergências, de criar um fosso, tenho forte esperança de que a energia mobilizadora tenha preparado um bom terreno para construção de pontes.
O calor liberado no fragor da disputa pode e deve agora ser transformado em energia construtiva de um novo momento no Brasil.
Com a força deste sentimento mobilizador, é possível encontrar pontos em comum e construir com eles uma primeira base de entendimento para fazermos o nosso país avançar.
Algumas vezes, na história, resultados apertados produziram mudanças mais fortes e mais rápidas do que vitórias muito amplas.
É esta a minha esperança. Ou melhor: a minha certeza do que vai ocorrer a partir de agora no Brasil.
O debate das ideias, o choque de posições podem produzir espaços de consensos capazes de mover nossa sociedade nas trilhas de mudanças que tanto necessitamos.
Minhas primeiras palavras são, portanto, de chamamento à paz e a à união. Nas democracias maduras, união não significa necessariamente unidade de ideias, nem ação monolítica conjunta. Pressupõe, em primeiro lugar, abertura e disposição para o diálogo.
Esta presidente aqui está disposta ao diálogo. E é este o meu primeiro compromisso do segundo mandato: diálogo.
Minhas amigas e meus amigos, toda eleição tem que ser vista como uma forma pacífica e segura de mudança de um país. Toda eleição é uma forma de mudança. Principalmente, para nós que vivemos em uma das maiores democracias do mundo.
Quando uma reeleição se consuma, ela tem de ser entendida como um voto de esperança dado pelo povo na melhoria do governo. Voto de esperança é o que é uma reeleição, muito especialmente na melhoria dos atos de quem vinha governando.
Eu sei que isso é o que o povo diz quando reelege um governante. Foi o que escutei nas urnas.
Por isso quero ser uma presidenta muito melhor do que fui até agora. Quero ser uma pessoa ainda melhor do que tenho me esforçado por ser.
Este sentimento de superação deve não apenas impulsionar o governo e a minha pessoa, mas toda a nação.
O caminho é muito claro: algumas palavras e temas dominaram esta campanha. A palavra mais repetida, mais dita, mais falada, mais dominante foi mudança. O tema mais amplamente invocado foi reforma.
Sei que estou sendo reconduzida à presidência para refazer as grandes mudanças que a sociedade brasileira exige.
Naquilo que meu esforço, meu papel e meu poder alcança, podem ter certeza, eu estou pronta a reposnder esta convocação.
Direi sim a este sentimetno que vem do mais profundo da alma brasileria, sei da força e das limitações que tem qualquer presidente. Sei também do poder que cada presidente tem de liderar as grandes causas populares. E eu o farei.
A minha disposição mais profunda é liderar da forma mais pacífica e democrática este momento transformador. Estou disposta a abrir um grande espaço de diálogo em todos setores da sociedade para encontrarmos as soluções mais rápidas para nossos problemas.
Minhas amigas e amigos, entre as reformas, a primeira e mais importante deve ser a reforma política.
Meu compromisso, como ficou claro durante toda a campanha, é deflagrar esta reforma que é a responsabilidade constitucional do Congresso, que deve mobilizar a sociedade por meio de um plebiscito.
Como instrumento desta consulta popular, o plebiscito, nós vamos encontrar a força e a legitimidade exigida neste momento de transformação para levarmos à frente a reforma política.
Quero discutir este tema profundamente com o novo Congresso Nacional e toda a população brasileira.
Tenho certeza que houverá interesse de todas as forças ativas na nossa sociedade para abrir a discussão e encaminhar as medidas concretas. Quero discutir igualmente com todos movimentos sociais e as forças da sociedade civil.
Quando cito a reforma política, não significa que eu não saiba a importância das demais reformas, que temos também a obrigação de resolver.
Tenho um compromisso rigoroso também com o combate à corrupção. Fortalecendo as instituições de controle e pondo mudanças na legislação atual para acabar com a impunidade que é a protetora da corrupção.
Ao longo da campanha, anunciei medidas que vão ser muito importantes para que a sociedade brasileira enfrente a corrupção e acabe com a impunidade.
Promoverei ações localizadas, em especial na economia, para retormarmos nosso ritmo de crescimento, continuar garantindo os níves altos de emprego e assegurando também a valorização dos salários.
Vamos dar mais impulso à atividade econômica e aos setores, em especial o setor industrial. (...) Seguirei combatendo com rigor a inflação e avançando no terreno da responsabilidade fiscal.
Vou estimular o mais rápido possível o diálogo e a parceria com todas as forças produtivas do país. Antes mesmo do início do meu próximo governo, eu prosseguirei nesta tarefa.
Mais que nunca é hora de todos nós acreditarmos no Brasil e ampliarmos nosso sentimento de fé nesta nação incrível que temos o privilégio de pertencer e a responsabilidade de fazer cada vez mais próspera e mais justa.
O Brasil, este nosso querido país, saiu maior desta disputa e eu sei da responsabilidade que pesa sobre os meus ombros, vamos continuar construindo um Brasil maior, mais inclusivo, mais moderno e produtivo.
O país da solidariedade e das oportunidades, o Brasil que valoriza o trabalho e a energia empreendedora. O Brasil que cuida das pessoas com um olhar especial para as mulheres, os negros e os jovens. Um Brasil cada vez mais voltado para a educação, para a cultura, ciência e inovação.
Vamos nos dar as mãos e avançar nesta caminhada que vai nos ajudar a construir o presente e o futuro.
O carinho, o afeto e o amor que recebi nesta campanha me dão energia para seguir em frente com muito mais dedicação.
Hoje, estou muito mais forte, mais serena, mais madura para a tarefa que vocês me delegaram.
Brasil, mais uma vez, esta filha tua não fugirá da luta. Vive o povo brasileiro!"