Bolivianos trabalham em ateliê de roupas em São Paulo: imigrantes latinos estão entre os mais vulneráveis ao trabalho forçado (Nelson Almeida/AFP)
Da Redação
Publicado em 17 de novembro de 2014 às 13h30.
São Paulo - Mais de 155 mil brasileiros ainda trabalham em condições de trabalho escravo. A estimativa é da organização de Direitos Humanos Walk Free Foundation, que elaborou um ranking dos países com o maior número de pessoas escravizadas. O Brasil ficou em 143º lugar entre 167 países analisados.
Segundo a ONG, em 2013, o setor com o maior número de trabalhadores em situação de escravidão no Brasil foi o da construção civil. O trabalho forçado também foi predominante na agricultura, onde principalmente os homens estão presos na servidão por conta de dívidas.
Outras atividades que, segundo a ONG, usam trabalho escravo são: pecuária e frigoríficos, produção de castanha do Pará, extração de minerais como ouro, cobre e estanho, e confecção de vestuário.
Copa do Mundo
Em 2013, pela primeira vez o número de trabalhadores resgatados de trabalho forçado na construção civil (38%) foi maior que aqueles tirados da exploração em atividades agrícolas. Segundo a ONG, este crescimento pode estar relacionado às obras para a Copa do Mundo 2014, que receberam diversas acusações de estarem utilizando trabalho escravo.
A Copa do Mundo fez aumentar também a exploração sexual, principalmente em cidades conhecidas pelo abuso de jovens e crianças vítimas do turismo sexual, como Fortaleza.
O trabalho infantil de forma geral também é um fator preocupante no país. Segundo o relatório, 258 mil crianças entre 10 e 17 anos ainda trabalham em serviços domésticos em regiões urbanas ricas.
Imigrantes
O relatório aponta como uma das causas da escravidão as oportunidades limitadas e as dificuldades financeiras de trabalhadores migrantes não qualificados - o que acabaria os levando a procurar e aceitar emprego em indústrias de alto risco.
Os imigrantes, especialmente os vindos de vizinhos sul-americanos, também são mais vulneráveis. A indústria têxtil, por exemplo, é conhecida por ter um elevado número de peruanos e bolivianos trabalhando em condições análogas à escravidão.
Segundo o relatório, mais da metade dos 100 mil bolivianos que hoje vivem no Brasil entraram de forma ilegal no país - fato que os tornaria mais vulneráveis a ameaças de deportação caso não aceitem situações precárias de trabalho ou mesmo uma coservidão por dívida.
A boa notícia é que o Brasil tem feito progressos no combate à escravidão, principalmente através de políticas de transparência na cadeia de produção. A ONG destaca que até o ano passado, 380 empresas já teriam assinado o Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo. Juntas, elas representam 30% do PIB do país.
Para chegar aos resultados, a Walk Free Foundation levou em conta um levantamento feito pela empresa de pesquisas Gallup em sete países - entre eles, o Brasil -, além de outros estudos e fontes secundárias, como dados governamentais e reportagens.