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Nos EUA, Araújo critica "climatismo" e diz que justiça social é stalinista

Pouco depois, o chanceler foi duramente criticado por colunista do Washington Post, que disse que falas se tratam de uma "lengalenga sem fim de vitimização"

Ernesto-Araújo (Alan Santos/PR/Palácio do Planalto/Flickr)

Ernesto-Araújo (Alan Santos/PR/Palácio do Planalto/Flickr)

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Clara Cerioni

Publicado em 12 de setembro de 2019 às 10h12.

Última atualização em 12 de setembro de 2019 às 10h14.

Washington — Dentro de um dos principais "think tanks" conservadores de Washington, a Heritage Foundation, o ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, fez um discurso ideológico no qual criticou o que chamou de "climatismo" e afirmou que há um "alarmismo climático" usado pela mídia e pelo "sistema político" como reação à chegada de um governo como o de Jair Bolsonaro no poder.

Pouco depois, o chanceler foi duramente criticado por Ishaan Tharoor, colunista do jornal americano The Washington Post.

Depois de ouvir o discurso de Araújo — o qual, segundo o jornalista, "acredita que a mudança climática é uma conspiração marxista", Tharoor disse em sua conta no Twitter que aquilo se tratava de uma "lengalenga sem fim de vitimização de alguém que está no poder".

Em suas falas, Araújo comparou os pedidos para boicotar produtos brasileiros, com base nas queimadas na Amazônia, à "justiça stalinista" e disse que no passado se usou "justiça social como pretexto para ditadura e agora estão fazendo o mesmo com o clima".

"Parece a justiça stalinista para mim: acusar, executar. Aí você diz: onde está a justiça? Onde está o Estado democrático? As pessoas respondem 'crise climática, cale-se'".

O discurso acontece 13 dias antes da primeira participação de Bolsonaro na Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, na qual o líder brasileiro deve ser questionado por outros países sobre a situação da Amazônia e a condução de políticas ambientais durante sua gestão.

O ministro sugeriu que a imprensa, a qual vê como parte do que chama de "sistema", influencia empresas e tomadores de decisão que optaram pelo boicote a produtos brasileiros em meio à crise ambiental.

No discurso, o chanceler usou conceitos difundidos pelo pilar ideológico do governo Bolsonaro, inclusive pelo escritor Olavo de Carvalho - como as críticas à esquerda, ao "globalismo", ao "marxismo cultural" e à imprensa.

Para o ministro, questionamentos aos governos de Bolsonaro e de Donald Trump, nos Estados Unidos, são uma reação por ambos não fazerem parte do "sistema".

"Trump e Bolsonaro são parte da mesma insurgência, que eu chamaria de insurgência universal contra a besteira. (…) O que mobiliza brasileiros, 'brexiters' e eleitores americanos? É uma revolta contra ideologia", disse Araújo.

Segundo ele, a insurreição é uma percepção de que "estávamos sendo desprezados por uma elite que tenta nos governar em nome da justiça social, ou da integração europeia, ou de um mundo sem fronteiras ou do progresso".

O Brasil se vê em meio a questionamentos internacionais desde que o aumento nas queimadas na Amazônia, neste ano, seguido pelo aumento no desmatamento, ganharam atenção no exterior.

Trump, que retirou os EUA do acordo climático de Paris e já disse que o aquecimento global é uma farsa inventada pelos chineses, tem sido um importante aliado do governo Bolsonaro em meio à pressão de europeus.

Durante cerca de uma hora, Araújo disse que "o ponto do climatismo é acabar com o debate democrático" e que "nem comer carne é permitido mais".

Com citação crítica a Antonio Gramsci, Bertolt Brecht e Rosa Luxemburgo, o ministro falou sobre stalinismo, socialismo, religião, histórica e a importância de "símbolos".

"Depois de todas as experiências ruins no mundo sobre socialismo como alguém pode sonhar em impor controle socialista da economia em um país como os EUA? Nunca através do debate democrático, é claro, somente através de uma declaração de emergência. Então 'crise climática'. Como alguém em tempos de paz pode sonhar em quebrar a soberania de um país como o Brasil dizendo que a Amazônia está em chamas? De novo por causa de ideologia, dessa reclamação de crise climática, 'vamos salvar o planeta'", disse Araújo. "O clima se tornou o silenciador do debate", afirmou.

O chanceler voltou a alegar que as queimadas na Amazônia estão dentro da média dos últimos 15 anos - um argumento que vem sendo usado pelo Planalto desde que a crise na Amazônia chamou atenção internacional.

O número de focos de incêndio para todo o Brasil entre janeiro e 24 de agosto era o maior dos últimos sete anos para o período, com alta de 82% em relação ao ano passado.

Comparando só o mês de agosto, houve mais focos de queimadas nos anos de 2005, 2007 e 2010. O ano de 2015 foi o último recorde de desmate na região e 2010 foi um ano extremamente seco.

Segundo ele, o maior desafio que "nossa civilização enfrenta" é a ideologia. "Qual o maior desafio que nossa civilização enfrenta? Algumas pessoas dirão 'mudanças climáticas' e isso absolutamente não é verdade", disse Araújo, que emendou afirmando que não tem certeza se as mudanças climáticas são efeito da ação humana.

Uma pesquisa do Pew Research Center, feita em 26 países em 2018, mostra que há uma concordância mundial de que as mudanças climáticas são um risco real. Em 13 dessas nações, mudanças climáticas são colocadas em primeiro lugar na lista de ameaças globais.

Araújo argumentou que há uma "hipnose coletiva" produzida pelo "sistema". "Quando se fala a palavra 'nação', a multidão hipnotizada diz 'não, não, mau, Hitler".

"O ministro mostra a foto de uma floresta em chamas, uma foto de 10 anos atrás, como se fosse do Brasil atual, e as pessoas reagem 'mau, mau, pulmão do mundo, vamos invadir'. É como se vivêssemos em algum apocalipse zumbi", disse.

No início do discurso, Araújo disse que o Brasil está "de volta a um ponto em que nunca esteve", falou sobre as manifestações de 2013, sobre o uso de redes sociais e sobre o impeachment da presidente Dilma Rousseff - a quem chamou de "líder detestada".

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