Candidato do PSL Jair Bolsonaro e candidato a vice, General Hamilton Mourão: presidente do PRTB afirmou que o acordo que definiu Mourão como vice segue de pé (Gustavo Lima/Zeca Ribeiro/Agência Brasil)
João Pedro Caleiro
Publicado em 27 de setembro de 2018 às 14h55.
Última atualização em 27 de setembro de 2018 às 15h47.
São Paulo - Jair Bolsonaro, candidato à Presidência da República pelo PSL, se irritou com as declarações do vice na sua chapa, general da reserva Hamilton Mourão, sobre o 13º salário e o adicional de férias.
Logo que foi informado da fala do vice, ele foi ao Twitter para se posicionar e orientou aliados a defender as garantias trabalhistas.
O candidato, que segue internado no Hospital Israelita Albert Einstein, chamou a crítica ao 13º salário de "ofensa" a quem trabalha, ainda que sem citar Mourão nominalmente, e sugeriu que ele não conhece a Constituição.
"O 13º salário do trabalhador está previsto no art. 7º da Constituição em capítulo das cláusulas pétreas (Não passível de ser suprimido sequer por Proposta de Emenda à Constituição)", escreveu. "Criticá-lo, além de ser ofensa a quem trabalha, confessa desconhecer a Constituição", acrescentou.
O 13° salário do trabalhador está previsto no art. 7° da Constituição em capítulo das cláusulas pétreas (não passível de ser suprimido sequer por proposta de emenda à Constituição). Criticá-lo, além de uma ofensa à quem trabalha, confessa desconhecer a Constituição.
— Jair Bolsonaro 1️⃣7️⃣ (@jairbolsonaro) September 27, 2018
Mourão foi filmado na última terça-feira (25) criticando o 13º salário e o abono salarial de férias em uma palestra para lojistas em Uruguaiana (RS).
No evento, promovido pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) da cidade, Mourão critica alguns benefícios no momento em que comenta o tema da reforma trabalhista.
“Temos algumas jabuticabas que a gente sabe que é uma mochila nas costas de todo empresário brasileiro. Jabuticabas brasileiras: 13º salário. Se a gente arrecada doze, como pagamos treze? É complicado", disse Mourão.
“O Brasil é o único lugar que a gente, quando entra em férias, ganha mais”, emenda, ao comentar sobre o abono salarial que concede, ao trabalhador, um terço do salário quando este entra em férias.
“São coisas nossas, essa legislação sempre dita social, mas com o chapéu dos outros, não o do governo”, completou.
Na manhã desta quinta-feira, o candidato Geraldo Alckmin (PSDB) também comentou as declarações:
“Eu não posso ser a favor, como disse o general Mourão, que 13º é jabuticaba brasileira. Não é possível achar que o trabalhador que sua a camisa, que trabalha e às vezes é explorado, não ter direito (ao benefício)”, disse.
Nas primeiras conversas com pessoas próximas sobre esse episódio, Bolsonaro voltou a defender que Mourão evite participações em eventos públicos.
Na semana passada, o candidato a vice já tinha sido orientado a suspender sua agenda após dar outras declarações polêmicas.
Entre elas, a de que jovens criados por mãe e avó seriam "desajustados" vulneráveis ao tráfico, que uma Constituinte poderia ser feita por representantes não eleitos e sujeita a referendo, e que um Presidente da República poderia, em tese, aplicar um "autogolpe" em situação de "anarquia".
Ao visitar Bolsonaro no hospital na terça-feira anterior (18) o general da reserva ouviu a determinação para que suspendesse a agenda de viagens. Bolsonaro avaliou que a campanha entrou num momento decisivo e que não podia correr mais riscos, segundo relataram à reportagem integrantes da equipe.
O general da reserva então encurtou uma viagem ao interior de São Paulo, que iria até sexta-feira, 21, e cancelou um evento, no domingo, em Porto Alegre.
Segundo a assessoria, ele ficaria em casa no Rio para uma “reavaliação de discurso” e também pretenderia descansar após 15 dias de viagens e eventos. Mas a última polêmica mostrou que mesmo uma agenda mais enxuta é um risco.
Também houve um desentendimento público recente entre a campanha e seu coordenador econômico e eventual ministro da Fazenda, Paulo Guedes.
Em reunião privada com investidores, ele disse estudar a proposta de criação de um imposto nos moldes da antiga CPMF e de unificação da alíquota do Imposto de Renda.
A campanha alegou que não seria um imposto extra, e sim a substituição de outros, e que no IR haveria aumento do limite de isenção para não prejudicar os mais pobres.
Mas o estrago estava feito e Guedes, apontado como "Posto Ipiranga", foi enquadrado e desapareceu do debate público, cancelando sua presença em eventos.