Nem os negociadores do Brasil sabem o que Bolsonaro quer na COP 25
Presidente é alvo de ativistas ambientais desde que a destruição da Amazônia atingiu seu nível mais alto em 11 anos com desmatamentos e queimadas
Reuters
Publicado em 2 de dezembro de 2019 às 20h43.
Madri — Os negociadores do Brasil já enfrentarão um trabalho duro nas conversas climáticas da ONU , dada a irritação com a postura do presidente Jair Bolsonaro a respeito da Amazônia , mas essa tarefa se torna duplamente difícil porque estão no escuro no que diz respeito aos objetivos do governo.
Bolsonaro se tornou alvo de ativistas ambientais desde que a destruição da floresta amazônica atingiu seu nível mais alto em 11 anos e incêndios terríveis assolaram a região em agosto, com políticas do presidente incentivando os desmatadores e intimidando agentes ambientalistas.
Como se isso não bastasse, os negociadores técnicos do Brasil presentes para as negociações da Organização das Nações Unidas na Espanha nesta segunda-feira estão desconectados dos líderes políticos e desinformados sobre seus objetivos, disseram duas pessoas a par do assunto.
Isso significa que os negociadores poderiam firmar um acordo que seria renegado por autoridades do governo. "Na verdade, o que o Brasil fará na conferência é uma incógnita", disse uma das fontes à Reuters.
Para aumentar a confusão, Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente alinhado a Bolsonaro, apareceu em Madri uma semana mais cedo para participar de toda a conferência de duas semanas, ao invés de somente a segunda etapa com colegas ministros de outros países.
"Só ele sabe o que está fazendo lá", disse outra fonte.
Sendo o lar da maior parte da vasta floresta amazônica, que serve como uma proteção ao aquecimento global, o Brasil é um dos principais componentes das conversas climáticas, e atuou como mediador entre países desenvolvidos e em desenvolvimento muitas vezes.
Mas seu recuo amplamente noticiado nas proteções ambientais domésticas mudou isso, e a delegação oficial em Madri não conta mais com grupos de ambientalistas cujas credenciais o país normalmente endossa.
Antes repleta de ativistas, a delegação brasileira agora só tem autoridades do governo, de acordo com dois ex-participantes brasileiros que acompanham o evento deste ano, mas com credenciais diferentes.
No nível técnico, a postura de negociação do Brasil não mudou, segundo três pessoas com conhecimento do assunto. O país continuará pressionando em especial por uma contabilidade mais precisa do comércio de carbono e quer que os créditos de emissões de um acordo climático anterior sejam honrados pelo pacto de Paris.
Existe incerteza no nível político, mas Salles indicou que pressionará para ver quanto o Brasil receberá dos 100 bilhões de dólares planejados para um financiamento ambiental anual que os países desenvolvidos prometeram fornecer aos países em desenvolvimento até 2020.