Jair Bolsonaro: "Não houve golpe militar em 1964. Quem declarou vago o cargo do presidente na época foi o Parlamento. Era a regra em vigor", disse o candidato (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 31 de julho de 2018 às 00h52.
Última atualização em 31 de julho de 2018 às 08h30.
São Paulo - Candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro foi o entrevistado da noite desta quinta-feira, 30, no programa Roda Viva, da TV Cultura. No debate acalorado com jornalistas, o deputado atacou o regime de cotas nas universidades, defendeu a ditadura militar (1964-1985) e disse ter hoje mais votos que Lula. O parlamentar é líder nas pesquisas eleitorais nos cenários sem o ex-presidente petista na disputa.
"Por que essa política de nos dividir no Brasil?", disse o candidato questionado sobre cotas a alunos negros e de baixa renda nas universidades. "É questão de mérito, de competência. O negro não é melhor do que eu e eu não sou melhor do que o negro", defendeu. Sobre o futuro, Bolsonaro diz que não pode dizer que vai terminar com essa politica, porque tal decisão dependeria do Congresso, mas que poderia propor "uma redução".
Para Bolsonaro, os atos cometidos pelos militares se justificavam pelo "clima da época, de guerra fria", e que teria agido da mesma maneira se estivesse no lugar deles.
"Não houve golpe militar em 1964. Quem declarou vago o cargo do presidente na época foi o Parlamento. Era a regra em vigor", disse Bolsonaro. O presidenciável defendeu ainda as atuações dos militares em casos de tortura e também a figura do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra (1932-2015), a quem homenageou em seu voto durante o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. "Abominamos a tortura, mas naquele momento vivíamos na guerra fria", justificou. Brilhante Ustra foi chefe do DOI-Codi, um dos principais centros de tortura durante a ditadura.
Bolsonaro ainda reclamou que a imprensa escolhe apenas os casos que afetaram militantes da esquerda para comentar. "Vocês só falam sobre casos da esquerda. Por que não falam sobre o atentado do aeroporto de Guararapes, em que morreu o Edson Regis?", questionou, fazendo referência a um atentado a bomba ocorrido em Recife em 1966. "Um dos militantes da AP, não digo que estava lá, era o José Serra. Vamos botar o Serra nos banco dos réus então."
Pressionado pelos jornalistas convidados a falar sobre a abertura dos arquivos da ditadura militar, o presidenciável disse duvidar que eles ainda existam. "Não vou abrir nada. Esquece isso aí, vamos pensar daqui pra frente", desconversou.
O candidato voltou a criticar a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de barrar a implementação do voto impresso no Brasil. Na visão do presidenciável, a medida coloca sob suspeição a eleição deste ano. "Lamento que a (procuradora-geral da República) Raquel Dodge tenha atuado para derrubar o voto impresso. Você não tem como comprovar que não haverá fraude, nem eu que haverá. Não consigo entender como a impressão do voto prejudica (o eleitor), como ela argumentou", disse.
Bolsonaro disse ter hoje mais votos que o ex-presidente Lula, que figura em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, mas que não conseguirá saber se o resultado é correto. "As eleições de qualquer forma estão sob suspeição", disse.
Questionado sobre sua aliança com o ex-deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ), que foi cassado e está preso por corrupção, Bolsonaro citou delatores que mencionaram que foi um dos poucos a não aceitar dinheiro de propina. "Não é porque andei na companhia de corruptos que sou corrupto", disse.
Num dos blocos do programa, o presidenciável foi questionado pelo ex-ministro da Justiça de Fernando Henrique Cardoso, José Gregori, sobre a veracidade de uma frase que o deputado teria dito: “o deputado teria dito na tribuna da Câmara que um dos erros da revolução (dita revolução por ele) dos militares de 1964 teria sido não ter fuzilado Fernando Henrique e José Gregori, é verdade? O candidato disse que sim, se enrolou na hora de desenvolver a resposta e concluiu: "não me referia a você não, tá ok?"
Bolsonaro foi questionado sobre como gostaria de ser ser lembrado na história, se fosse eleito. A resposta dele foi uma economia mais liberal.