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Na reta final, CPI expõe dramas das vítimas da pandemia

Por três horas e meia, nesta segunda-feira, 18, senadores ouviram relatos dramáticos de homens e mulheres que viveram uma batalha contra a covid-19

 Nesta segunda (18) a CPI do COVID-19, ouviu os depoimentos de pessoas que foram atingidas com perdas de familiares durante a pandemia ou contrariam o novo coronavírus. Na foto, Katia Castilho dos Santos durante relado na CPI. (ANTONIO MOLINA/FOTOARENA/FOTOARENA/Estadão Conteúdo)

Nesta segunda (18) a CPI do COVID-19, ouviu os depoimentos de pessoas que foram atingidas com perdas de familiares durante a pandemia ou contrariam o novo coronavírus. Na foto, Katia Castilho dos Santos durante relado na CPI. (ANTONIO MOLINA/FOTOARENA/FOTOARENA/Estadão Conteúdo)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 18 de outubro de 2021 às 21h16.

No dia em que o bate-boca político deu lugar à vida real na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, depoimentos de quem perdeu parentes pela doença provocaram emoção na sala de sessões do Senado onde durante seis meses opositores do governo e aliados do presidente Jair Bolsonaro se engalfinharam. Por três horas e meia, nesta segunda-feira, 18, senadores ouviram relatos dramáticos de homens e mulheres que viveram uma guerra, mas foram derrotados pelo coronavírus.

Os depoimentos demonstraram a dor da impotência diante da doença que já tirou mais de 600 mil vidas no País. Em comum, todos apontaram a responsabilidade do governo Bolsonaro pela falta de vacinas, que levou o Brasil a uma situação de descontrole no combate à pandemia.

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Giovanna Gomes Mendes da Silva, estudante de 19 anos, perdeu o pai e a mãe em apenas duas semanas e teve de virar chefe de família, cuidando da irmã oito anos mais nova que ela. "Eu, meus pais e minha irmã éramos muito unidos. Quando meus pais faleceram, a gente perdeu as pessoas que a gente mais amava. A gente não perdeu só os pais, a gente perdeu uma vida. Uma vida de alegria”, disse ela, com a voz embargada.

Ao ouvir Giovanna contar que pediu a guarda da irmã, após a morte dos pais, o intérprete de Libras (Língua Brasileira de Sinais), que fazia a tradução daquele depoimento, chorou e foi substituído por um colega.

O taxista Márcio Antônio do Nascimento Silva, que perdeu um filho para o coronavírus, afirmou ter sentido "no coração" ao ouvir o presidente Jair Bolsonaro perguntar "E daí? Quer que eu faça o quê?”, em abril do ano passado, quando as mortes por covid haviam ultrapassado a marca de 5 mil.

"Eu escutei lá no meu coração: 'E daí que seu filho morreu?'. Isso me gerou muita raiva, muito ódio. Isso me fez muito mal", desabafou Márcio Antônio. "Eu daria a minha vida para o meu filho ter chance de ter se vacinado. Não tinha perspectiva de vacina ainda. Sabe, não tinha ainda máscara”, completou o taxista, que também viu a irmã morrer de covid.

A exemplo de Márcio Antônio, a enfermeira Mayra Pires Lima, do Amazonas, perdeu a irmã para a doença. À CPI, Mayra lembrou o drama vivido com a escassez de equipamentos durante a crise de oxigênio em Manaus, em janeiro deste ano. "Eu tinha um grande sonho de ajudar as grandes calamidades, conhecer outros países que precisam de ajuda e talvez atender pacientes em situações de guerra", afirmou. "Hoje eu falo que eu vivi uma guerra, porque atendi pacientes muitas vezes sem proteção nenhuma, assim como os meus colegas da maternidade".

Leia os principais trechos dos depoimentos:

Giovanna Gomes Mendes da Silva: "Foi uma diferença de 14 dias do meu pai e da minha mãe. Quando meus pais faleceram, a gente não perdeu só os pais, a gente perdeu uma vida. Uma vida de alegria. Eu, meus pais e minha irmã, nós éramos muito unidos, quem conhece sabe. Onde a gente estava, nós estávamos juntos. Então, quando meus pais faleceram, a gente perdeu as coisas que a gente mais amava. Eu precisava da minha irmã e ela precisava de mim. Eu me apoiei nela, e ela se apoiou em mim".

Márcio Antônio do Nascimento Silva: "O que que eu daria, meu Deus, na minha vida? O que eu daria na minha vida? Eu daria a minha vida para o meu filho ter chance de ter se vacinado. Não tinha perspectiva de vacina ainda. Sabe, não tinha ainda máscara. Aí é outra reclamação que eu faço, porque, até hoje, eu não recebi do Ministério da Saúde uma informação correta. Sabe? Eu tive que ter minhas informações através da imprensa, através de pessoas. Meu Deus, o que é isso? O Ministério da Saúde... Eu não sei... Sabe, não me deram informação. Eles tinham que me dizer: "Você tem que usar máscara, você tem que se vacinar". Não é esse o protocolo? Não é isso que a ciência manda? Por que eles não falam? Entendeu?

Agora, outro caso também muito assim... É que dói muito, dói muito! Sabe, eu tenho que falar. Não dá para ver um Ministro da Saúde... Desculpe, Excelência! Mas não dá para vê-lo dando risinho de deboche. Não dá para ver deboche, porque nós perdemos! Eu perdi um filho, não só o filho. Minha irmã morreu no mesmo dia em que sua mãe... Minha irmã morreu no mesmo dia da mãe dela, no dia 26 de abril de 2021. Um ano depois do meu filho ela não tinha se vacinado ainda, tendo vacina. E aí a gente descobre que as vacinas não chegaram”.

Mayra Pires Lima: "A minha irmã deixou quatro crianças, entre elas um casal de gêmeos, que fizeram, no dia 8 de outubro, um ano. Só em Manaus nós temos mais de 80 órfãos da covid. Só na minha família são quatro. O que está se fazendo pelos órfãos das vítimas?”

Katia Shirlene Castilho dos Santos: "Não são só números. São pessoas, são vidas, são sonhos, são histórias que foram encerradas por negligências, por tantas negligências e nós queremos justiça. O sangue dessas mais de 600 mil vítimas escorre nas mãos de cada um que subestimou esse vírus. A vacina é a única solução para vencermos". (Ela perdeu pai e mãe. Acompanhou a mãe em sua internação na Prevent Senior, em São Paulo, e o tratamento recebido pelo kit covid).

Rosane Maria dos Santos Brandão: "Eu costumo dizer que ele (marido) foi assassinado. Os primeiros sintomas, o Bola teve no dia 11 de abril; foi hospitalizado no dia 16, e esse foi o último dia em que eu vi o meu companheiro de 21 anos de vida juntos. Ele morreu no dia 26 de abril (de 2021)".

Arquivaldo Leão Leite: "Nós fomos, em vários momentos, hostilizados por setores da sociedade que eram levados pela liderança presidencial". (Ele perdeu dois primos, um tio e um irmão para o coronavírus. Afirmou ter sido hostilizado por seguir medidas de isolamento social).

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