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Na hora do show esportivo, problemas tiram brilho do Brasil

Estagnação econômica, alta da inflação e um aumento na criminalidade, estão trazendo de volta dúvidas sobre se o Brasil deixará de ser um país emergente

Problemas levaram a popularidade da ​​presidente Dilma Rousseff, que estava com altos índices de aprovação desde que ela assumiu o cargo em 2011, a cair em duas pesquisas recentes (Ueslei Marcelino/Reuters)
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Da Redação

Publicado em 12 de junho de 2013 às 18h57.

Rio de Janeiro - Sem contar os fanáticos por futebol, qualquer pessoa pode ser perdoada por não conhecer, muito menos se importar, com a Copa das Confederações, uma competição de duas semanas que começa no Brasil no sábado.

Para o país, no entanto, o torneio é o primeiro de uma série de grandes eventos que vão dizer muito sobre a ambição brasileira de alcançar o primeiro mundo e a capacidade do governo, apesar de uma perda de confiança na economia, de cumprir a promessa de transformar o Brasil.

A Copa das Confederações, uma competição de oito equipes, servirá como um ensaio geral para dois eventos muito maiores em solo brasileiro -- a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro.

Quando conquistou o direito de sediar esses eventos, o Brasil estava em alta. A Copa e a Olimpíada deveriam mostrar um país que na primeira década do século tinha enorme receita da exportação em expansão, um aumento da demanda do consumidor e programas sociais ambiciosos para o crescimento econômico, que retiraram mais de 30 milhões de pessoas da pobreza.

Mas agora, na hora do show, o Brasil perdeu o brilho.

Estagnação econômica, alta da inflação e um aumento na criminalidade, que deveria ter diminuído com a prosperidade, estão trazendo de volta dúvidas, que existiam décadas atrás, sobre o quão longe o Brasil tem realmente caminhado para deixar de ser um país emergente e se tornar desenvolvido.

Com o início da Copa das Confederações em seis das 12 cidades que sediarão a Copa do Mundo, muitos brasileiros temem que os visitantes não vejam nada além de uma nação ainda com seus mesmos problemas.

"Estamos comendo mortadela e arrotando caviar", disse o comentarista esportivo Juca Kfouri, um dos críticos da preparação brasileira para os grandes eventos. "Esses eventos estão agora em cima da gente e estamos no mesmo Brasil de sempre".

Os torcedores, diz o governo, podem ficar tranquilos.


Os pessimistas, afinal, rotineiramente preveem desastres antes de cada grande evento esportivo, seja no Brasil ou em países mais ricos. Mas o show, invariavelmente, continua.

"Nós não temos medo de não estarmos prontos", disse o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, nesta semana, citando o trabalho em curso para terminar as obras nos estádios remanescentes da Copa do Mundo e para expandir terminais de aeroportos lotados a tempo de receber os visitantes.

Oportunidade perdida

Ainda assim, críticos estão indignados com custos excessivos, atrasos nas construções, falta de transparência e aumento nos preços do turismo relacionado aos eventos.

A reforma do Maracanã levou tanto tempo que o estádio ainda passa por obras do lado de fora a apenas quatro dias de receber seu primeiro jogo da Copa das Confederações -- o duelo Itália x México, no domingo.

Ainda há a questionável utilização após o Mundial de alguns estádios novos em cidades sem clubes de futebol de tradição, como Cuiabá, Manaus e Brasília.

Em um relatório recente, o Tribunal de Contas da União calculou que os custos da Copa do Mundo já ultrapassaram um orçamento inicial de cerca de 24 bilhões de reais em pelo menos 15 %.

Os organizadores dos Jogos Olímpicos do Rio ainda nem sequer divulgaram um orçamento oficial, apesar de admitirem que será bem acima dos 29 bilhões de reais estimados quando o Rio lançou sua candidatura olímpica.

O que incomoda mais a muitos é que o Brasil, apesar das grandes ambições do início, abandonou grandes projetos que estavam previstos para os grandes eventos -- do trem-bala entre São Paulo e Rio, que agora só ficará pronto depois das competições, a sistemas rápidos de trânsito em cidades menores.

O ex-atacante e atual deputado Romário (PSB-RJ) é um dos maiores críticos dos recursos desperdiçados.

"Os brasileiros vão ficar desapontados por terem perdido mais uma boa oportunidade de fazer deste país um lugar melhor para se viver", disse recentemente.


Confiança prejudicada

A avaliação acontece em meio a uma enxurrada de más notícias que têm diminuído a confiança de que o Brasil gozava apenas alguns anos atrás.

Depois de registrar um crescimento econômico de 7,5 % em 2010, o país cresceu apenas 0,9 % no ano passado. A perspectiva de agravamento para 2013, combinada com o aumento da inflação e uma deterioração das contas públicas, levou a agência de classificação de risco Standard & Poor's a avisar, na semana passada, que poderia rebaixar a dívida do Brasil.

Os problemas levaram a popularidade da ​​presidente Dilma Rousseff, que estava com altos índices de aprovação desde que ela assumiu o cargo em 2011, a cair em duas pesquisas recentes.

Enquanto isso, uma série de crimes violentos no Rio e em São Paulo, onde a violência subiu mais de 10 % em três anos, está levando os cidadãos a se perguntarem se a segurança está diminuindo também.

No entanto, o Brasil se esforça para mostrar uma boa cara para os visitantes. O governo lançou recentemente uma campanha publicitária que pediu aos brasileiros para exibir sua diversidade, criatividade e hospitalidade e "mostrar o que significa ser brasileiro".

Ainda assim, algumas pessoas temem que o Brasil esteja fechando a porta sobre si mesmo.

A alta demanda por quartos de hotel e assentos de avião significa que muitos brasileiros não poderão se dar ao luxo de viajar durante os eventos. E a necessidade de recuperar os investimentos em estádios caros deve elevar os preços dos ingressos, excluindo os torcedores mais pobres de um esporte que é paixão nacional.

Após a reinauguração do Maracanã no início deste mês, muitos torcedores de longa data comentaram sobre o comportamento homogêneo da torcida, sem a emoção e o barulho de jogos do passado no ex-maior estádio do mundo.

Após a partida, o ex-jogador e agora colunista Tostão lamentou "a elitização do futebol em todo o Brasil".

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Rio de Janeiro - Sem contar os fanáticos por futebol, qualquer pessoa pode ser perdoada por não conhecer, muito menos se importar, com a Copa das Confederações, uma competição de duas semanas que começa no Brasil no sábado.

Para o país, no entanto, o torneio é o primeiro de uma série de grandes eventos que vão dizer muito sobre a ambição brasileira de alcançar o primeiro mundo e a capacidade do governo, apesar de uma perda de confiança na economia, de cumprir a promessa de transformar o Brasil.

A Copa das Confederações, uma competição de oito equipes, servirá como um ensaio geral para dois eventos muito maiores em solo brasileiro -- a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro.

Quando conquistou o direito de sediar esses eventos, o Brasil estava em alta. A Copa e a Olimpíada deveriam mostrar um país que na primeira década do século tinha enorme receita da exportação em expansão, um aumento da demanda do consumidor e programas sociais ambiciosos para o crescimento econômico, que retiraram mais de 30 milhões de pessoas da pobreza.

Mas agora, na hora do show, o Brasil perdeu o brilho.

Estagnação econômica, alta da inflação e um aumento na criminalidade, que deveria ter diminuído com a prosperidade, estão trazendo de volta dúvidas, que existiam décadas atrás, sobre o quão longe o Brasil tem realmente caminhado para deixar de ser um país emergente e se tornar desenvolvido.

Com o início da Copa das Confederações em seis das 12 cidades que sediarão a Copa do Mundo, muitos brasileiros temem que os visitantes não vejam nada além de uma nação ainda com seus mesmos problemas.

"Estamos comendo mortadela e arrotando caviar", disse o comentarista esportivo Juca Kfouri, um dos críticos da preparação brasileira para os grandes eventos. "Esses eventos estão agora em cima da gente e estamos no mesmo Brasil de sempre".

Os torcedores, diz o governo, podem ficar tranquilos.


Os pessimistas, afinal, rotineiramente preveem desastres antes de cada grande evento esportivo, seja no Brasil ou em países mais ricos. Mas o show, invariavelmente, continua.

"Nós não temos medo de não estarmos prontos", disse o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, nesta semana, citando o trabalho em curso para terminar as obras nos estádios remanescentes da Copa do Mundo e para expandir terminais de aeroportos lotados a tempo de receber os visitantes.

Oportunidade perdida

Ainda assim, críticos estão indignados com custos excessivos, atrasos nas construções, falta de transparência e aumento nos preços do turismo relacionado aos eventos.

A reforma do Maracanã levou tanto tempo que o estádio ainda passa por obras do lado de fora a apenas quatro dias de receber seu primeiro jogo da Copa das Confederações -- o duelo Itália x México, no domingo.

Ainda há a questionável utilização após o Mundial de alguns estádios novos em cidades sem clubes de futebol de tradição, como Cuiabá, Manaus e Brasília.

Em um relatório recente, o Tribunal de Contas da União calculou que os custos da Copa do Mundo já ultrapassaram um orçamento inicial de cerca de 24 bilhões de reais em pelo menos 15 %.

Os organizadores dos Jogos Olímpicos do Rio ainda nem sequer divulgaram um orçamento oficial, apesar de admitirem que será bem acima dos 29 bilhões de reais estimados quando o Rio lançou sua candidatura olímpica.

O que incomoda mais a muitos é que o Brasil, apesar das grandes ambições do início, abandonou grandes projetos que estavam previstos para os grandes eventos -- do trem-bala entre São Paulo e Rio, que agora só ficará pronto depois das competições, a sistemas rápidos de trânsito em cidades menores.

O ex-atacante e atual deputado Romário (PSB-RJ) é um dos maiores críticos dos recursos desperdiçados.

"Os brasileiros vão ficar desapontados por terem perdido mais uma boa oportunidade de fazer deste país um lugar melhor para se viver", disse recentemente.


Confiança prejudicada

A avaliação acontece em meio a uma enxurrada de más notícias que têm diminuído a confiança de que o Brasil gozava apenas alguns anos atrás.

Depois de registrar um crescimento econômico de 7,5 % em 2010, o país cresceu apenas 0,9 % no ano passado. A perspectiva de agravamento para 2013, combinada com o aumento da inflação e uma deterioração das contas públicas, levou a agência de classificação de risco Standard & Poor's a avisar, na semana passada, que poderia rebaixar a dívida do Brasil.

Os problemas levaram a popularidade da ​​presidente Dilma Rousseff, que estava com altos índices de aprovação desde que ela assumiu o cargo em 2011, a cair em duas pesquisas recentes.

Enquanto isso, uma série de crimes violentos no Rio e em São Paulo, onde a violência subiu mais de 10 % em três anos, está levando os cidadãos a se perguntarem se a segurança está diminuindo também.

No entanto, o Brasil se esforça para mostrar uma boa cara para os visitantes. O governo lançou recentemente uma campanha publicitária que pediu aos brasileiros para exibir sua diversidade, criatividade e hospitalidade e "mostrar o que significa ser brasileiro".

Ainda assim, algumas pessoas temem que o Brasil esteja fechando a porta sobre si mesmo.

A alta demanda por quartos de hotel e assentos de avião significa que muitos brasileiros não poderão se dar ao luxo de viajar durante os eventos. E a necessidade de recuperar os investimentos em estádios caros deve elevar os preços dos ingressos, excluindo os torcedores mais pobres de um esporte que é paixão nacional.

Após a reinauguração do Maracanã no início deste mês, muitos torcedores de longa data comentaram sobre o comportamento homogêneo da torcida, sem a emoção e o barulho de jogos do passado no ex-maior estádio do mundo.

Após a partida, o ex-jogador e agora colunista Tostão lamentou "a elitização do futebol em todo o Brasil".

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