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Na Comissão da Verdade, a ordem é que militares se calem

Advogado de grande parte dos militares envolvidos em crimes durante o período militar afirma: "eles vão se manter em silêncio"

Comissão da Verdade: militares se recusam a falar e advogado vai tentar barrar investigações do MP (José Cruz/Agência Brasil)
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Da Redação

Publicado em 9 de setembro de 2014 às 13h53.

São Paulo - O caso do oficial da reserva que se negou a comparecer ao seu depoimento na Comissão Nacional da Verdade (CNV) alegando "não colaborar com o inimigo " esquentou o clima por lá. Segundo Pedro Dallari, coordenador da comissão, esta foi a primeira vez que receberam uma resposta agressiva, mas a resistência em colaborar não é novidade.

Tanto a CNV quanto o Ministério Público têm enfrentado resistência dos militares. Muitos oficiais estão se mantendo em silêncio quando chamados para prestar depoimento na comissão. A postura é uma orientação do advogado Rodrigo Roca, que defende grande parte dos militares envolvidos no caso da explosão no Rio Centro e todos os envolvidos na investigação do desaparecimento de Rubens Paiva.

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"Todos os militares que eu defendo sempre colaboraram com as Comissões da Verdade, com o Ministério Público. Acontece que a palavra deles nunca foi considerada para nada, como se nem tivessem dito", disse o advogado.

Segundo ele, a palavra deles é inútil para o convencimento da CNV e do MP. "Então, a minha orientação é para que não falem nada", explica.

A Comissão da Verdade foi instituída em maio de 2012 para apurar violações de direitos humanos praticadas por agentes públicos entre 1946 e 1988.

"Eu penso que do ponto de vista estratégico, não tem razão para falar mais nada. Até poque a maioria já foi lá, já prestou declarações e continuam sendo chamados", reclamou o advogado.

Além disso, Roca quer tentar barrar todas as investigações do Ministério Público sobre tortura e mortes de presos políticos no período do regime militar.

"Eu pretendo ingressar com um Habeas Corpus para suspendertodas as investigações empreendidas pelo Ministério Público Federal sobre desaparecimento e mortes de presos políticos entre 1964 e 1985. A ideia é, ao invés de ficar nos defendendo, bloquear as investigações logo no nascedouro", disse.

Ele afirma que a justiça tem declarado constantemente as ações do MP como inviáveis. "Se a ação não é possível, a investigação muito menos", justifica.

Silêncio

O Ministério Público também vem tendo problemas com o silêncio das Forças Armadas.Segundo o Procurador da República Sérgio Suiama, do Ministério Público Federal do Rio de Janeiro (MPF-RJ), toda vez que pede ao Exército qualquer documento sobre a Ditadura Militar, recebe uma resposta padrão dizendo que a solicitação deve ser feita ao comando geral do Exército pelo Procurador Geral da República.

A ordem vem docomandante do Exército, general Enzo Peri, que instruiu os quartéis a redirecionarem todos os posicionamentos sobre o período militar para seu gabinete.

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