Mulher honesta será deposta por chantagista, diz Jean Wyllys
Ao HuffPost Brasil, o deputado Jean Wyllys evitou entrar na polêmica do cuspe, mas marcou posicionamento firme sobre o que defende.
Da Redação
Publicado em 24 de abril de 2016 às 10h29.
Na última semana, o deputado Jean Wyllys (PSol-RJ) protagonizou um dos momentos mais falados da sessão que aprovou a continuidade do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff .
Após ter sido ofendido, o deputado tentou cuspir no deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ). O filho de Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro (PSC-SP) também revidou com um cuspe.
Por trás desta cena, dois pólos políticos opostos. Um contra e outro a favor do afastamento de Dilma. Ao HuffPost Brasil, Jean evitou entrar na polêmica do cuspe, mas marcou posicionamento firme sobre o que defende:
“Se o golpe for consumado, vai ser muito ruim para os trabalhadores, os mais pobres, as mulheres, os negros e negras, LGBTs e todos os setores oprimidos da sociedade”.
Apesar da previsão negativa, o deputado promete resistir. “Espero que o Judiciário ajude, colocando limites e fazendo cumprir a Constituição Federal. E espero também que a maioria da sociedade acorde e se dê conta do que essa gente quer fazer com o nosso país.”
Jean Wyllys ressalta que a presidente está sendo "tirada do cargo por um réu da justiça, e isso é absurdo".
Para ele, caso o vice Michel Temer assuma o governo, o país deveria convocar novas eleições. Já se a presidente Dilma permanecer, ele a aconselha a “romper definitivamente as alianças com os partidos fisiológicos e de direita, com o fundamentalismo evangélico e com as corporações econômicas e governar para aqueles que a elegeram”.
Leia a entrevista completa do deputado ao HuffPost Brasil:
HuffPost Brasil - Em um eventual governo Temer, a bancada evangélica fará pautas conservadoras avançarem no Congresso. O que o senhor poderia fazer para barrar esse processo?
Jean Wyllys - Se o golpe for consumado, vai ser muito ruim para os trabalhadores, os mais pobres, as mulheres, os negros e negras, LGBTs e todos os setores oprimidos da sociedade. É só analisar quais são os setores que estão apoiando o golpe para a gente antecipar o que pode vir: a bancada evangélica fundamentalista, a bancada da bala, os grupelhos fascistas, a FIESP, as elites, as corporações econômicas e a quadrilha de deputados envolvidos na Lava Jato, liderados pelo réu Eduardo Cunha, investigado pelos crimes de lavagem de dinheiro, corrupção e evasão de divisas.
Essa gente tem uma agenda que é pública. Em primeiro lugar, enterrar a Lava Jato, para que as investigações não ameacem sua liberdade. Em segundo lugar, aprofundar o ajuste fiscal e as medidas anti-trabalhistas: se o governo Dilma foi muito ruim nesse sentido, o programa de governo lançado meses atrás pelo PMDB sob a liderança de Michel Temer deixa claro que o ajuste que eles pretendem fazer será ainda mais duro para os trabalhadores.
Em terceiro lugar, eles vão querer avançar com a agenda conservadora e contrária aos direitos humanos que começou a ser impulsionada na Câmara dos Deputados desde que o réu conquistou a presidência da casa: estatuto do nascituro contra os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, estatuto homofóbico contra as famílias, "cura gay", "orgulho hétero", mais criminalização da juventude, dos mais pobres e dos usuários de drogas, revogação do estatuto do desarmamento, etc.
O que nós faremos será enfrentar essa agenda no parlamento, nas ruas e nas redes, ainda mais forte porque será a agenda de um governo ilegítimo, nascido de um golpe contra a democracia. Não vai ser fácil, mas não vamos nos calar e estaremos unidos com os movimentos sociais para defender os direitos humanos de todos e todas.
HuffPost Brasil - Teme retrocesso nos direitos das minorias, como LGBT, mulheres e trabalhadores? Quais?
Jean Wyllys - Eles vão tentar, como fizeram até agora. E nós vamos resistir, como fizemos até agora. Eu espero que o Judiciário ajude, colocando limites e fazendo cumprir a Constituição Federal. E espero também que a maioria da sociedade acorde e se dê conta do que essa gente quer fazer com o nosso país. Espero, também, que os veículos de comunicação de massas investiguem, informem e denunciem.
HuffPost Brasil - Você apoiou a candidatura da presidente Dilma Rousseff, se disse decepcionado com a gestão da petista, mas fez uma defesa do governo dela no discurso contra o impeachment. Por que?
Jean Wyllys - Eu apoiei e fiz campanha pela candidatura de Luciana Genro, que foi a candidata do meu partido, o PSOL. No segundo turno, eu votei e apoiei a Dilma porque havia duas opções: ela ou Aécio. Nos sistemas eleitorais com segundo turno, como é o caso do Brasil, há dois momentos diferentes que impõem escolhas diferentes. No segundo turno, todas as pessoas que votaram em algum dos candidatos ou candidatas que não passaram para essa segunda fase do processo eleitoral têm que escolher entre as duas opções que foram escolhidas, na primeira fase, pela maioria da população. E isso é democrático; a gente tem que aprender a jogar o jogo da democracia.
O governo Dilma me decepcionou, sim, eu não achava que ela fosse fazer o governo que eu gostaria (se achasse isso, teria apoiado a Dilma no primeiro turno), mas esperava que houvesse pelo menos algumas mudanças. Não houve e o caminho escolhido, com o programa econômico dos tucanos, aprofundou a crise.
Contudo, eu não me arrependo de tê-la escolhido no segundo turno, porque não tenho dúvidas de que um governo de Aécio Neves teria sido muito pior. De fato, a conduta antidemocrática dele, que desde o dia seguinte das eleições buscou um terceiro turno e hoje faz parte da conspiração golpista junto a Temer e Cunha, reafirma meu voto contra esse homem naquele segundo turno.
HuffPost Brasil - Caso os senadores aprovem o impeachment, o que o senhor acredita que deve ser feito?
Jean Wyllys - Será um governo ilegítimo, antidemocrático, nascido de uma conspiração. Por isso, eu acredito que devemos defender a convocação a eleições diretas para devolver ao povo o direito de eleger seu governo.
HuffPost Brasil - Vale apostar em novas eleições?
Jean Wyllys - Eu sempre defendi e continuo defendendo que a presidente Dilma deve concluir seu mandato, já que foi eleita pelo povo para ser Presidenta da República até 2018 e, não havendo crime de responsabilidade, não pode haver impeachment. Eu não gosto do governo dela, mas a gente tem que aprender a respeitar as regras do jogo democrático.
Não tenho dúvidas de que esse processo foi ilegítimo do início ao fim, pior ainda porque foi conduzido por um gângster, um chantagista que colocou o país à beira do abismo para se proteger da cassação do mandato e da possibilidade de ser preso por corrupção. Uma mulher honesta está sendo tirada do cargo por um réu da justiça, e isso é absurdo.
Por isso, eu defendi e defendo que o mandato dela deve ser respeitado, e por isso fui contra a ideia do "recall". Contudo, se ela for impedida pelo Senado e Michel Temer for empossado como novo Presidente sem votos, a gente precisa corrigir essa ilegitimidade, e a única forma de corrigi-la é fazendo novas eleições e que o povo decida.
HuffPost Brasil - Caso o impeachment seja enterrado no Senado, o que o senhor acredita que o governo Dilma deve fazer com relação às pautas de direitos humanos, uma vez que há uma demanda dos movimentos sociais de minorias, como negros e a comunidade LGBT?
Jean Wyllys - Se o impeachment não passar no Senado, a Dilma terá uma última oportunidade para fazer o que deveria ter feito depois da reeleição, quando foi apoiada, no segundo turno, pela maioria da esquerda e dos movimentos sociais e de direitos humanos. Ela deveria romper definitivamente as alianças com os partidos fisiológicos e de direita, com o fundamentalismo evangélico e com as corporações econômicas e governar para aqueles que a elegeram.
A única forma que ela terá de recuperar o apoio popular é fazendo aquilo para o qual foi eleita pela maioria. Ela deveria recomeçar seu governo com outra direção, mudando a política econômica, promovendo uma ampla reforma política democrática e chamando a sociedade para apoiar uma agenda de defesa dos direitos humanos e das liberdades individuais.
Se o impeachment não passar no Senado e o governo fizer uma repactuação com a mesma "base" que a traiu para continuar a mesma política que levou a esta situação, daqui a pouco teremos uma nova tentativa de golpe e, dessa vez, não vamos poder fazer nada para impedi-lo.
Na última semana, o deputado Jean Wyllys (PSol-RJ) protagonizou um dos momentos mais falados da sessão que aprovou a continuidade do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff .
Após ter sido ofendido, o deputado tentou cuspir no deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ). O filho de Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro (PSC-SP) também revidou com um cuspe.
Por trás desta cena, dois pólos políticos opostos. Um contra e outro a favor do afastamento de Dilma. Ao HuffPost Brasil, Jean evitou entrar na polêmica do cuspe, mas marcou posicionamento firme sobre o que defende:
“Se o golpe for consumado, vai ser muito ruim para os trabalhadores, os mais pobres, as mulheres, os negros e negras, LGBTs e todos os setores oprimidos da sociedade”.
Apesar da previsão negativa, o deputado promete resistir. “Espero que o Judiciário ajude, colocando limites e fazendo cumprir a Constituição Federal. E espero também que a maioria da sociedade acorde e se dê conta do que essa gente quer fazer com o nosso país.”
Jean Wyllys ressalta que a presidente está sendo "tirada do cargo por um réu da justiça, e isso é absurdo".
Para ele, caso o vice Michel Temer assuma o governo, o país deveria convocar novas eleições. Já se a presidente Dilma permanecer, ele a aconselha a “romper definitivamente as alianças com os partidos fisiológicos e de direita, com o fundamentalismo evangélico e com as corporações econômicas e governar para aqueles que a elegeram”.
Leia a entrevista completa do deputado ao HuffPost Brasil:
HuffPost Brasil - Em um eventual governo Temer, a bancada evangélica fará pautas conservadoras avançarem no Congresso. O que o senhor poderia fazer para barrar esse processo?
Jean Wyllys - Se o golpe for consumado, vai ser muito ruim para os trabalhadores, os mais pobres, as mulheres, os negros e negras, LGBTs e todos os setores oprimidos da sociedade. É só analisar quais são os setores que estão apoiando o golpe para a gente antecipar o que pode vir: a bancada evangélica fundamentalista, a bancada da bala, os grupelhos fascistas, a FIESP, as elites, as corporações econômicas e a quadrilha de deputados envolvidos na Lava Jato, liderados pelo réu Eduardo Cunha, investigado pelos crimes de lavagem de dinheiro, corrupção e evasão de divisas.
Essa gente tem uma agenda que é pública. Em primeiro lugar, enterrar a Lava Jato, para que as investigações não ameacem sua liberdade. Em segundo lugar, aprofundar o ajuste fiscal e as medidas anti-trabalhistas: se o governo Dilma foi muito ruim nesse sentido, o programa de governo lançado meses atrás pelo PMDB sob a liderança de Michel Temer deixa claro que o ajuste que eles pretendem fazer será ainda mais duro para os trabalhadores.
Em terceiro lugar, eles vão querer avançar com a agenda conservadora e contrária aos direitos humanos que começou a ser impulsionada na Câmara dos Deputados desde que o réu conquistou a presidência da casa: estatuto do nascituro contra os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, estatuto homofóbico contra as famílias, "cura gay", "orgulho hétero", mais criminalização da juventude, dos mais pobres e dos usuários de drogas, revogação do estatuto do desarmamento, etc.
O que nós faremos será enfrentar essa agenda no parlamento, nas ruas e nas redes, ainda mais forte porque será a agenda de um governo ilegítimo, nascido de um golpe contra a democracia. Não vai ser fácil, mas não vamos nos calar e estaremos unidos com os movimentos sociais para defender os direitos humanos de todos e todas.
HuffPost Brasil - Teme retrocesso nos direitos das minorias, como LGBT, mulheres e trabalhadores? Quais?
Jean Wyllys - Eles vão tentar, como fizeram até agora. E nós vamos resistir, como fizemos até agora. Eu espero que o Judiciário ajude, colocando limites e fazendo cumprir a Constituição Federal. E espero também que a maioria da sociedade acorde e se dê conta do que essa gente quer fazer com o nosso país. Espero, também, que os veículos de comunicação de massas investiguem, informem e denunciem.
HuffPost Brasil - Você apoiou a candidatura da presidente Dilma Rousseff, se disse decepcionado com a gestão da petista, mas fez uma defesa do governo dela no discurso contra o impeachment. Por que?
Jean Wyllys - Eu apoiei e fiz campanha pela candidatura de Luciana Genro, que foi a candidata do meu partido, o PSOL. No segundo turno, eu votei e apoiei a Dilma porque havia duas opções: ela ou Aécio. Nos sistemas eleitorais com segundo turno, como é o caso do Brasil, há dois momentos diferentes que impõem escolhas diferentes. No segundo turno, todas as pessoas que votaram em algum dos candidatos ou candidatas que não passaram para essa segunda fase do processo eleitoral têm que escolher entre as duas opções que foram escolhidas, na primeira fase, pela maioria da população. E isso é democrático; a gente tem que aprender a jogar o jogo da democracia.
O governo Dilma me decepcionou, sim, eu não achava que ela fosse fazer o governo que eu gostaria (se achasse isso, teria apoiado a Dilma no primeiro turno), mas esperava que houvesse pelo menos algumas mudanças. Não houve e o caminho escolhido, com o programa econômico dos tucanos, aprofundou a crise.
Contudo, eu não me arrependo de tê-la escolhido no segundo turno, porque não tenho dúvidas de que um governo de Aécio Neves teria sido muito pior. De fato, a conduta antidemocrática dele, que desde o dia seguinte das eleições buscou um terceiro turno e hoje faz parte da conspiração golpista junto a Temer e Cunha, reafirma meu voto contra esse homem naquele segundo turno.
HuffPost Brasil - Caso os senadores aprovem o impeachment, o que o senhor acredita que deve ser feito?
Jean Wyllys - Será um governo ilegítimo, antidemocrático, nascido de uma conspiração. Por isso, eu acredito que devemos defender a convocação a eleições diretas para devolver ao povo o direito de eleger seu governo.
HuffPost Brasil - Vale apostar em novas eleições?
Jean Wyllys - Eu sempre defendi e continuo defendendo que a presidente Dilma deve concluir seu mandato, já que foi eleita pelo povo para ser Presidenta da República até 2018 e, não havendo crime de responsabilidade, não pode haver impeachment. Eu não gosto do governo dela, mas a gente tem que aprender a respeitar as regras do jogo democrático.
Não tenho dúvidas de que esse processo foi ilegítimo do início ao fim, pior ainda porque foi conduzido por um gângster, um chantagista que colocou o país à beira do abismo para se proteger da cassação do mandato e da possibilidade de ser preso por corrupção. Uma mulher honesta está sendo tirada do cargo por um réu da justiça, e isso é absurdo.
Por isso, eu defendi e defendo que o mandato dela deve ser respeitado, e por isso fui contra a ideia do "recall". Contudo, se ela for impedida pelo Senado e Michel Temer for empossado como novo Presidente sem votos, a gente precisa corrigir essa ilegitimidade, e a única forma de corrigi-la é fazendo novas eleições e que o povo decida.
HuffPost Brasil - Caso o impeachment seja enterrado no Senado, o que o senhor acredita que o governo Dilma deve fazer com relação às pautas de direitos humanos, uma vez que há uma demanda dos movimentos sociais de minorias, como negros e a comunidade LGBT?
Jean Wyllys - Se o impeachment não passar no Senado, a Dilma terá uma última oportunidade para fazer o que deveria ter feito depois da reeleição, quando foi apoiada, no segundo turno, pela maioria da esquerda e dos movimentos sociais e de direitos humanos. Ela deveria romper definitivamente as alianças com os partidos fisiológicos e de direita, com o fundamentalismo evangélico e com as corporações econômicas e governar para aqueles que a elegeram.
A única forma que ela terá de recuperar o apoio popular é fazendo aquilo para o qual foi eleita pela maioria. Ela deveria recomeçar seu governo com outra direção, mudando a política econômica, promovendo uma ampla reforma política democrática e chamando a sociedade para apoiar uma agenda de defesa dos direitos humanos e das liberdades individuais.
Se o impeachment não passar no Senado e o governo fizer uma repactuação com a mesma "base" que a traiu para continuar a mesma política que levou a esta situação, daqui a pouco teremos uma nova tentativa de golpe e, dessa vez, não vamos poder fazer nada para impedi-lo.