Nova York: Alexandre Pinto foi preso nesta terça-feira, 23, na Operação Mãos à Obra (Yuri Gripas/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 23 de janeiro de 2018 às 18h51.
Última atualização em 23 de janeiro de 2018 às 18h51.
São Paulo e Rio - O Ministério Público Federal, no Rio, aponta que o ex-secretário de Obras do Rio Alexandre Pinto (Gestão Eduardo Paes - MDB) gastou parte de sua propina em lojas de grifes internacionais em Nova York. Em cinco dias de viagem, Alexandre Pinto pagou mais de US$ 7 mil a marcas como Lacoste, Gucci e Chanel.
As informações foram repassadas à força-tarefa da Operação Lava Jato fluminense pelo operador financeiro e delator Celso Reinaldo Ramos Júnior. Ele entregou aos investigadores recibo dos gastos do ex-secretário no exterior.
Alexandre Pinto foi preso nesta terça-feira, 23, na Operação Mãos à Obra, desdobramento da Lava Jato. Ele já havia sido capturado em agosto do ano passado na Operação Rio 40 Graus.
Foram expedidos mandados de prisão preventiva contra o ex-subsecretário Vagner de Castro Pereira e contra o doleiro Juan Luis Bertran Bitllonch e três mandados de prisão temporária contra investigados ligados à empresa Dynatest Engenharia, além de 18 mandados de busca e apreensão e seis intimações para depoimento. A Lava Jato identificou que ex-secretário de Paes cobrou propina de pelo menos seis obras e que usou a mãe e filhos para ocultar propina.
Em sua delação, Celso Reinaldo Ramos Júnior relatou, segundo a Procuradoria da República, um "sofisticado esquema" de evasão de divisas e lavagem de dinheiro do ex-secretário. O delator disse aos investigadores que auxiliou Alexandre Pinto a abrir a offshore Centovali em nome de terceiros, com ações ao portador, para que a empresa tivesse contas bancárias em instituições financeiras no exterior que não poderiam estar em nome do ex-secretário.
O operador contou que a conta da offshore recebeu três transferências de propina: US$ 375 mil, US$ 1 milhão e R$ 500 mil. Os valores, de acordo com o delator, foram mantidos em um banco em Mônaco até outubro de 2015. Os investigadores afirmam que, naquele ano, o banco "decidiu encerrar as contas ao portador e solicitou aos correntistas que informassem os reais beneficiários de cada uma delas".
"Como o nome de Alexandre Pinto da Silva não podia vir à tona, em 9 de outubro de 2015, todos os recursos que estavam na conta da Centovali no CFM Mônaco foram transferidos para a corretora de valores uruguaia Hordeñana y Asociados Corredor de Bolsa S.A. no total de US$ 1.185.813,19, transação operacionalizada por Celso Júnior, que figurava como representante da Centovali perante a instituição bancária", indicou a Procuradoria.
O delator declarou aos investigadores que disponibilizou um cartão de crédito para que Alexandre Pinto "pudesse gastar os recursos mantidos de forma oculta no exterior na corretora de valores em uma viagem que o ex-secretário fez a Nova York com a esposa".
"A pedido de Alexandre, o colaborador solicitou a emissão de um cartão de crédito de US$ 20 mil em seu próprio nome, e o entregou para que pudesse ser usado por Alexandre Pinto na referida viagem", relatou a força-tarefa da Lava Jato.
"O colaborador apresentou, como prova de corroboração de suas declarações, o extrato da fatura do referido cartão de crédito no mês de outubro de 2015, que demonstra gastos de US$ 7.750,44, efetuados de 27 de outubro de 2015 a 31 de outubro de 2015 em lojas de grifes internacionais como Lacoste, Gucci, Michael Kors, Chanel, entre outras."
Celso Ramos Júnior afirmou à Lava Jato que não teria como ele próprio fazer os gastos pois estava no Brasil "cursando uma especialização (MBA)".
A Lava Jato consultou os registros do Sistema de Tráfego Internacional e identificou que o delator realmente estava no Brasil. Já o ex-secretário e a mulher, afirmaram os investigadores, "estavam efetivamente no exterior, tendo saído do Brasil em 26 de outubro de 2015 e retornado em 3 de novembro de 2015, período que coincide com as datas dos gastos efetuados no cartão de crédito emitido em nome de Celso Ramos Júnior a partir da conta da Centovali na corretora Hordeñana y Asociados".
A reportagem está tentando contato com a defesa do ex-secretário Alexandre Pinto, mas ainda não obteve retorno.