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MPF chama de "retrocesso" fim da força-tarefa da Lava Jato

Os procuradores que formam a força-tarefa da Lava Jato no Ministério Público Federal disseram que a mudança prejudicará as investigações

PF: a mudança, que também afeta o grupo que era dedicado à operação Carne Fraca, acontece após a recente troca do ministro da Justiça (Sergio Moraes/Reuters)
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Reuters

Publicado em 6 de julho de 2017 às 21h19.

São Paulo/Brasília/Rio de Janeiro - O grupo de trabalho da Polícia Federal dedicado exclusivamente à Lava Jato em Curitiba será incorporado pela Delegacia de Combate à Corrupção e Desvio de Verbas Públicas (Delecor), informou a PF em nota nesta quinta-feira, na qual nega que a alteração afetará as investigações.

A decisão, no entanto, foi criticada pelos procuradores que formam a força-tarefa da Lava Jato no Ministério Público Federal, que disseram que a mudança prejudicará as investigações, já que a PF e a Receita Federal são indispensáveis para esses trabalhos.

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"A medida visa priorizar ainda mais as investigações de maior potencial de dano ao erário, uma vez que permite o aumento do efetivo especializado no combate à corrupção e lavagem de dinheiro e facilita o intercâmbio de informações", afirmou a nota divulgada pela Polícia Federal.

"O modelo é o mesmo adotado nas demais superintendências da PF com resultados altamente satisfatórios, como são exemplos as operações oriundas da Lava Jato deflagradas pelas unidades do Rio de Janeiro, Distrito Federal e São Paulo, entre outros", acrescenta o documento.

De acordo com a PF, a iniciativa da integração partiu do delegado regional de combate ao crime organizado do Paraná, Igor Romário de Paula, coordenador da operação Lava Jato no Estado, e foi corroborada pelo superintendente regional da PF, delegado Rosalvo Franco.

A nova sistemática de trabalho reduzirá a carga de trabalho dos delegados atuantes na Lava Jato em função da incorporação de novas autoridades policiais, disse a Polícia Federal, acrescentando que cada delegado da Lava Jato possuía cerca de 20 inquéritos sob sua responsabilidade cada.

"O atual efetivo na Superintendência Regional no Paraná está adequado à demanda e será reforçado em caso de necessidade", afirmou a PF.

O comunicado diz ainda que a Polícia Federal "reafirma o compromisso público de combate à corrupção, disponibilizando toda a estrutura e logística possível para o bom desenvolvimento dos trabalhos e esclarecimento dos crimes investigados".

A mudança, que também afeta o grupo que era dedicado à operação Carne Fraca, acontece após a recente troca do ministro da Justiça. O presidente Michel Temer, que é alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) e que tem ministros e aliados investigados na Lava Jato, tirou Osmar Serraglio do comando da pasta, substituindo-o por Torquato Jardim.

Uma fonte ligada ao comando da Polícia Federal disse que a decisão foi tomada porque a quantidade de serviço para o grupo da Lava Jato no Paraná tem diminuído. A fonte disse ainda que outras superintendências da PF têm operações especiais e não contam com equipes específicas.

"Retrocesso"

Na nota divulgada pela força-tarefa da Lava Jato no MPF, os procuradores afirmaram que o efetivo que atua na operação foi reduzido no governo Temer e que não atende à demanda de trabalho das investigações. Dizem ainda que a nova medida é um "retrocesso" e que os procuradores esperam que ela seja revista.

"O efetivo da Polícia Federal na Lava Jato, reduzido drasticamente no governo atual, não é adequado à demanda. Hoje, o número de inquéritos e investigações é restringido pela quantidade de investigadores disponível", diz a nota.

"Há uma grande lista de materiais pendentes de análise e os delegados de polícia do caso não têm tido condições de desenvolver novas linhas de investigação por serem absorvidos por demandas ordinárias do trabalho acumulado", continua o texto.

"A redução e dissolução do grupo de trabalho da Polícia Federal não contribui para priorizar ainda mais as investigações ou facilitar o intercâmbio de informações. Pelo contrário, a distribuição das investigações para um número maior de delegados e a ausência de exclusividade na Lava Jato prejudicam a especialização do conhecimento e da atividade, o desenvolvimento de uma visão do todo, a descoberta de interconexões entre as centenas de investigados e os resultados."

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