Moro diz que foro privilegiado é "escudo"
Decisão do STF marcada para o dia 2 de maio deverá reduzir abrangência do foro, mas sua total eliminação só será possível por meio de emenda constitucional
Estadão Conteúdo
Publicado em 16 de abril de 2018 às 17h51.
Cambridge (EUA) - O juiz federal Sérgio Moro , responsável pelos principais casos da Lava Jato , defendeu nesta segunda-feira, 16, a aprovação de uma emenda constitucional que acabe com o foro privilegiado de todas as autoridades, incluindo os magistrados. Em sua opinião, o privilégio funciona como um "escudo" contra a responsabilização perante a lei.
A decisão do Supremo Tribunal Federal ( STF ) sobre o assunto, marcada para o dia 2 de maio, deverá reduzir a abrangência do foro privilegiado, mas sua total eliminação só será possível por meio de uma emenda constitucional. Questionado se o fim do instituto não traria o risco de pressão política sobre decisões de juízes de primeira instância, Moro disse que outros atores atuam no processo, como o Ministério Público, e manifestou esperança de que a "sociedade civil" fiscalize o Judiciário.
"Toda mudança tem benefícios e, eventualmente, efeitos colaterais", afirmou, ressaltando que o foro privilegiado não funciona na prática. "A vida é um experimento. Governar também é, e leis também são", afirmou em entrevista durante simpósio legal realizado na Faculdade de Direito da Universidade de Harvard.
A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, também defendeu o fim do foro privilegiado, que violaria o princípio constitucional de que todos são iguais perante a lei. Para ela, o instituto é um dos elementos que contribuíram para o sistema de corrupção existente no Brasil. Dodge afirmou que a extinção do privilégio aumentará a credibilidade dos juízes de primeira instância.
"Uma das grandes lições da Lava Jato é que as respostas mais efetivas e firmes contra a corrupção vieram de juízes que estão no primeiro grau da carreira e, não por acaso, dois deles estão aqui neste evento", declarou Dodge no mesmo evento, referindo-se a Moro e a Marcelo Bretas, juiz da Lava Jato no Rio de Janeiro.