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Moro: Brasil está entrando em espiral negativa de perspectivas econômicas

Pré-candidato à Presidência, o ex-juiz afirmou que o cenário fica ainda pior diante da possibilidade de que Bolsonaro ou Lula sejam eleitos

Ex-juiz Sergio Moro, pré-candidato à Presidência (Ueslei Marcelino/Reuters)
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Alessandra Azevedo

Publicado em 11 de janeiro de 2022 às 20h32.

O pré-candidato à Presidência Sergio Moro (Podemos) disse em palestra apresentada nesta terça-feira, 11, que a economia brasileira “não vai bem” e que não tem bons prognósticos. No evento Money Week, organizado pela EQI, pela Empiricus e por outros parceiros, o ex-juiz ressaltou que o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) são nomes "muito ruins" para o mercado.

Segundo Moro, o prognóstico é de estagnação ou até recessão, "tudo isso muito provocado pela perda da credibilidade fiscal da política do governo federal”, observou. O ex-juiz criticou novamente a aprovação da PEC dos Precatórios, que, apesar de viabilizar o pagamento do Auxílio Brasil, permitiu o aumento de verbas para emendas de relator, também conhecidas como orçamento secreto.

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“O aumento do benefício (Auxílio Brasil) é necessário, mas juntamente com a PEC estão sendo aumentadas despesas de duvidosa necessidade no presente momento. Um exemplo é o aumento do espaço orçamentário para as chamadas emendas do relator”, apontou Moro. Para ele, o problema é a falta de transparência nos repasses, além de resultar em “pulverização dos investimentos públicos”.

A PEC dos Precatórios, acrescentou o ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro, “leva ao fim do teto de gastos ou a uma reformatação do teto, que coloca em xeque a credibilidade fiscal do governo”. O resultado é aumento da inflação e fuga de investidores, “que ficam na dúvida a respeito da capacidade futura do governo de honrar seus compromissos”.

“Com aumento da inflação e percepção negativa dos investidores, o Banco Central se vê forçado a aumentar os juros, o que também gera incremento dos encargos da dívida pública. Ou seja, retira também recursos do orçamento para honrar a dívida”, disse Moro. “Isso acaba gerando um ciclo vicioso, porque também afeta o setor privado. Estamos entrando em uma espiral negativa das nossas perspectivas econômicas”, afirmou.

Para Moro, o quadro realista mostra que “as perspectivas e prognósticos não são favoráveis”. A situação também deve levar a uma redução da massa salarial e mais depreciação do real frente ao dólar, o que gera distorções na economia. “O cenário não é bom, não é positivo, e esse cenário acaba sendo ainda mais negativo em decorrência da perspectiva eleitoral do próximo ano”, disse.

Eleições

Moro afirmou que as duas opções colocadas hoje para a presidência da República, Bolsonaro e Lula, são “muito ruins” e afetam as perspectivas econômicas. A primeira seria uma continuidade de um “governo que não tem projeto para o país” e que tem “contrariado promessas de estabilidade fiscal e de redução paulatina da dívida pública”. Já Lula representa um governo que “não acabou bem”.

“Tivemos no final desse governo (Lula) a grande recessão dos anos de 2014 a 2016”, lembrou o ex-juiz. Ele ressaltou que a recessão aconteceu no governo de Dilma Rousseff, mas pontuou que a “semente dessa recessão” foi gerada ainda durante o governo Lula, pela adoção da nova matriz econômica.

Na visão do ex-ministro, as perspectivas econômicas podem melhorar caso cresçam outras alternativas eleitorais, “com políticas econômicas mais responsáveis, mais baseadas na ciência e evitando ideologias equivocadas ou apelos populistas”. Ele ressaltou que, como o mercado antecipa expectativas positivas, o ambiente pode melhorar já em 2022, se houver sinalizações de um governo economicamente responsável.

Privatizações

Moro disse que acredita no livre mercado e que é a favor de privatizações, sem citar empresas. “Os países que prosperaram são aqueles que apostaram no crescimento a partir do investimento privado”, ressaltou. Segundo ele, o investimento público tem papel relevante, mas não é possível basear a prosperidade de um país no setor público.

“Queremos aprofundar a bandeira das privatizações”, disse Moro. A presença do Estado, segundo ele, é necessária em áreas como educação, saúde e segurança pública, com objetivo de universalizar os serviços, mas em outras áreas é possível reduzi-la. O resultado, segundo ele, seria “o incremento da eficiência da economia, na medida em que se transfere esse papel ao setor privado”.

Moro defendeu um modelo consistente de privatizações. “Não adianta fazer algo mal feito, como fez o governo federal na privatização da Eletrobras”, criticou, citando os “verdadeiros jabutis” incluídos na proposta. “Eu sou favorável a privatizações, o que temos que avaliar é o modelo, o que e como vamos privatizar, para não transformar eventualmente um monopólio público em um monopólio privado.”

Erradicação da pobreza

Moro também voltou a defender a criação de uma agência nacional, uma espécie de força-tarefa, voltada para a erradicação da pobreza. “Precisamos ter programas especiais para visar a eliminação da pobreza, algo que já deveríamos ter feito há muito tempo e ainda estamos patinando nessa área”, disse.

O ex-ministro se disse favorável a programas de transferência de renda, mas afirmou que eles não são suficientes para permitir que as pessoas escapem da “armadilha da pobreza”. Por isso, é preciso garantir um atendimento específico a famílias, pessoas e comunidades vitimadas pela pobreza.

“O que estávamos cogitando é a formação de uma espécie de força-tarefa de erradicação da pobreza, com uma agência nacional. A proposta seria a criação de uma agência, com missão específica que permitisse uma atuação transversal, usando capacidade de vários ministérios para enfrentamento”, disse Moro.

Segundo ele, a proposta não envolve necessariamente a realização de novos concursos públicos e aumento da burocracia estatal. “A nossa ideia é utilizar o que temos de melhor dentro do serviço público, dos vários ministérios e órgãos já existentes”, explicou. “É difícil, é complexo. Ainda precisa ser construída essa governança”, observou.

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