Brasil

Ministério promete 46,2 milhões de testes, mas só entregou 2,5 milhões

Maioria dos testes para covid-19 enviados aos Estados são testes rápidos, que têm "limitações importantes" na eficácia

Coronavírus: ministério da Saúde planeja dobrar a meta de testes, anunciou novo ministro (Andressa Anholete/Getty Images)

Coronavírus: ministério da Saúde planeja dobrar a meta de testes, anunciou novo ministro (Andressa Anholete/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 22 de abril de 2020 às 12h20.

Última atualização em 22 de abril de 2020 às 12h28.

Mesmo atrasado para entrega da primeira leva de testes para covid-19 prometidos, de 23,9 milhões de unidades, o Ministério da Saúde quase dobrou a meta e quer distribuir 46,2 milhões de exames durante a crise. Até agora, no entanto, a pasta só enviou aos Estados 2 milhões de testes rápidos, recomendados para aplicação em profissionais de saúde, e 524,3 mil testes do tipo RT-PCR - mais caro, rápido e preciso.

A ideia de dobrar a meta de testes foi anunciada na segunda-feira pelo novo ministro da Saúde, Nelson Teich. Ele afirmou que a medida é um pilar do projeto "que já está sendo feito" de revisão do distanciamento social. O fim das quarentenas é uma bandeira do presidente Jair Bolsonaro. Opor-se a ideia foi um dos motivos para a demissão do ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM).

"Teste em massa não significa testar a população toda. A gente vai usar teste de forma que pessoas examinadas vão refletir a população brasileira", disse Teich em vídeo enviado pela equipe de comunicação do ministério. O ministério também ampliou a capacidade de análise de testes. Em contrato com o Grupo Dasa, a pasta espera processar 30 mil exames por dia. A Coreia do Sul realiza de 10 a 15 mil testes diários.

Técnicos da pasta dizem que mesmo com maior capacidade de processamento no Brasil, há dificuldade para encontrar exames confiáveis no mercado. Outro ponto que dificulta a entrega é o atraso da Fiocruz na produção. Em boletim epidemiológico divulgado no fim de semana, o ministério afirma que recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) para testagem em massa, sem alerta para os países se equiparem, fez sumir o produto do mercado.

Os testes rápidos já entregues pelo governo foram doados pela mineradora Vale. Já exames do tipo RT-PCR distribuídos são de compras feitas com a Fiocruz, o Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP) e doação da Petrobras.

O governo fechou recentemente também uma compra de 10 milhões de testes RT-PCR por meio de parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). A previsão é de que cerca de 500 mil testes comecem a chegar na próxima semana e, depois, cerca de 800 mil a cada semana.

Segundo integrantes do ministério, há forte pressão do Palácio do Planalto para ampliar o número de testes no País. A Saúde tem sinalizado que pretende ampliar o público-alvo para exames de diagnóstico rápido. Antes a pasta recomendava apenas a aplicação de testes rápidos para quem atua na "linha de frente" do combate à covid-19, como profissionais da saúde. Em boletim publicado no fim de semana, no entanto, o ministério afirma que deseja "progressivamente" incluir idosos, portadores de condições de risco para complicações da covid-19 e a população economicamente ativa na rotina de testagem. A ideia seria também aumentar a "carteira" de curados e imunes à doença que poderiam retornar ao trabalho, dizem integrantes do governo.

Os testes rápidos, porém, têm "limitações importantes", reconhece o próprio ministério em nota. O produto doado pela Vale, por exemplo, pode errar 75% dos diagnósticos negativos, segundo análise do Grupo Dasa feita a pedido do governo federal. Como este exame detecta a presença de anticorpos, o ministério orienta aplicá-lo sete dias após o começo de sintomas da doença.

O Ministério da Saúde confirmou ontem mais 166 mortes ocasionadas pelo novo coronavírus, totalizando 2.741 óbitos. O total de casos soma 43.079.

Drive-thru

O governo do Distrito Federal começou nesta terça-feira a realizar testes na população para covid-19 por meio de serviço de drive-thru, aplicação no estacionamento. A ideia é chegar a 450 mil exames até maio, segundo o governador do Ibaneis Rocha (MDB).

A primeira fase dos testes, com 100 mil exames, está sendo feita no Plano Piloto e em Águas Claras, regiões com mais casos da covid-19. Houve filas de carros em pontos de coleta de amostras, como no Estádio Mané Garrincha e nos estacionamentos de cinco pontos em Águas Claras.

Para decidir quem está apto ao exame, o Corpo de Bombeiros mede a temperatura dos passageiros com câmeras térmicas. Apenas quem apresentar febre é selecionado. O governo realizou testes rápidos, que apresentam resultados em até 30 minutos, mas têm menor grau de precisão, e do tipo RT-PCR, com resultado em 48 horas. Ibaneis Rocha tem dito que os dados de infectados no Distrito Federal servirão para auxiliar em decisões sobre flexibilizar a quarentena.

Recomendação

A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) recomendou nesta terça-feira que os países-membros elevem a capacidade de testes para identificar os casos de coronavírus e tomem cuidado ao flexibilizar as restrições à circulação. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acompanhe tudo sobre:CoronavírusEstados brasileirosGovernadoresMinistério da Saúde

Mais de Brasil

STF mantém prisão de Daniel Silveira após audiência de custódia

Suspeitas de trabalho análogo à escravidão em construção de fábrica da BYD na Bahia

PF abre inquérito para apurar supostas irregularidades na liberação de R$ 4,2 bilhões em emendas

Natal tem previsão de chuvas fortes em quase todo o país, alerta Inmet