Miller teria sido avisado um dia antes de operação da PF, diz FSP
Ex-procurador da República que atuava para JBS alertou colega sobre ação da Lava Jato que aconteceria no dia seguinte
Talita Abrantes
Publicado em 21 de fevereiro de 2018 às 12h57.
Última atualização em 21 de fevereiro de 2018 às 13h12.
São Paulo – Ex-procurador da República apontando como braço direito do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, o advogado Marcello Miller teria sido avisado ao menos com um dia de antecedência de operação da Polícia Federal que prendeu a Andréa Neves e Frederico Pacheco, respectivamente irmã e primo do senador Aécio Neves.
As informações são do jornal Folha de S. Paulo, que teve acesso a mensagens de WhatsApp trocadas por Miller com a advogada Esther Flesh, do escritório Trench Rossi Watanabe – onde ele já atuava como advogado do grupo J&F.
Segundo as mensagens divulgadas pela publicação, na manhã do dia 17 de maio, Miller e Esther conversavam sobre detalhes do acordo firmado com a JBS. O ex-procurador, então, afirma que a proposta deveria ser readequada e avisa que a operação poderia ocorrer no dia seguinte.
“Vamos correr, porque a informação insider é a de que a operação pode ser deflagrada amanhã”, ele teria escrito, de acordo com a Folha de S. Paulo.
Na noite daquele mesmo dia, o jornal O Globo divulgou a informação de que Joesley Batista, da J&F, tinha fechado um acordo de delação premiada com a Procuradoria Geral da República no âmbito da Lava Jato.
No dia seguinte, de fato, a PF deflagrou a operação Patmos, que levou os parentes de Aécio e um assessor do senador Zezé Perrela (MDB-MG) à prisão.
Em 20 de maio, quando as relações de Miller com o grupo J&F começaram a ser questionadas, o ex-procurador da República avisou Esther que Eduardo Pellela, então chefe de gabinete de Janot, teria confirmado que a PGR soltaria uma nota negando a participação de Miller nas tratativas para o acordo de delação dos executivos do grupo J&F. A mensagem do advogado foi enviada as 10h57 — a nota só foi divulgada as 13h45.
Miller foi procurador da República durante 13 anos e conhecido por atuar próximo de Rodrigo Janot, então procurador-geral, nas investigações da operação Lava Jato entre 2014 e 2016. Sua função era negociar acordos de delação premiada, incluindo os de Sergio Machado, ex-diretor da Transpetro, e de Delcídio do Amaral, ex-senador.
Ele deixou o cargo em abril de 2017 para trabalhar no escritório Trench, Rossi e Watanabe, que representava a J&F nas negociações do acordo de leniência do grupo. O acordo de leniência é empresarial, mas também negociado com o Ministério Público.
Em setembro, os irmãos Batista anexaram mais documentos à delação. Em um dos áudios, Joesley afirma que Miller estava atuando para influenciar Janot nas decisões sobre o acordo. Essa reviravolta, levou Janot a determinar a revisão do acordo de colaboração da J&F.
Com a palavra, Miller
Procurada por EXAME, a defesa de Miller afirma que as mensagens foram enviadas quando Miller estava desligado dos quadros do MPF há mais de 40 dias. Além disso, segundo a nota, "o conteúdo da mensagem não adveio de nenhum órgão estatal, tendo origem na sua atuação como advogado, o que o obriga a preservar o sigilo profissional".
Sobre a menção ao chefe de gabinete de Janot, a defesa afirma que "diante das inverdades que se veiculavam na imprensa sobre a participação de Miller em negociações de delação premiada, houve necessidade de resposta enérgica das partes envolvidas".