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Militares fazem cerco à Rocinha com 950 homens

Mais três batalhões do Exército, que somam quase 3 mil homens, estão prontos, caso a situação se agrave

Operação policial na Favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, em 22/09/2017 (Bruno Kelly/Reuters)

Operação policial na Favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, em 22/09/2017 (Bruno Kelly/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 23 de setembro de 2017 às 08h44.

Última atualização em 23 de setembro de 2017 às 08h45.

Rio - Depois de quase uma semana de tiroteios no Rio de Janeiro, as Forças Armadas foram chamadas ontem, 22, para cercar a Rocinha - a mais conhecida comunidade da capital -, diante do reconhecimento de que o Estado perdeu o controle na guerra deflagrada pelo crime.

Ao todo, 950 homens do Exército, da Marinha e da Aeronáutica estão mobilizados, além de dezenas de blindados e helicópteros. Mais três batalhões do Exército, que somam quase 3 mil homens, estão prontos, caso a situação se agrave.

Não há previsão de quanto tempo deve durar essa operação. Ela é uma demonstração de força do Estado e de apoio à Polícia Militar após o confronto declarado entre Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157, escondido na favela, e Antonio Bonfim Lopes, o Nem, que está no presídio federal de Rondônia. Os traficantes dos dois grupos, ligados à facção Amigo dos Amigos, disputam à bala o domínio da comunidade, invadida no domingo, com saldo de pelo menos três mortes.

A ação dos militares começou após as 16 horas de ontem. Àquela altura, a cidade, principalmente a zona sul, vivera horas de caos, pânico e boatos. A Auto-Estrada Lagoa-Barra e os Túneis Zuzu Angel e Acústico Rafael Mascarenhas foram fechados das 10 às 14 horas, depois que os confrontos entre PMs e criminosos, iniciados às 8 horas, recrudesceram. A operação policial na Rocinha começara às 5 horas, com o objetivo de cumprir mandados de prisão. À noite, a polícia solicitou um mandado de busca coletivo.

Por causa dos confrontos, cerca de 3 mil alunos ficaram sem aula na Rocinha. As unidades de saúde também não funcionaram. Colégios privados, como a Escola Teresiano, a Escola Americana e a Escola Parque, na Gávea, também não tiveram aulas. Na Gávea, a Pontifícia Universidade Católica (PUC) suspendeu as atividades. No dia, tiroteios também foram registrados nas comunidades do Alemão, na zona norte, São Carlos, perto da região central, e Dona Marta, na zona sul.

Moradores da Rocinha ficaram acuados em suas casas. Muitos foram impedidos por criminosos armados de sair para trabalhar. "A ordem foi ninguém sair de casa para nada", disse uma moradora. Residente em um condomínio em São Conrado, bairro da zona sul do Rio onde fica a favela, a empresária Helena Duarte contou que por volta das 10h30 os tiros assustavam as crianças. "Todas subiram correndo para casa."

A movimentação dos militares foi recebida por alguns moradores da Rocinha com naturalidade. "Já vi isso tantas vezes que me acostumei", contou um eletricista que se identificou apenas como Carlos, de 34 anos, morador da parte baixa da favela. "Ruins foram esses últimos dias, quando teve tiro a noite toda. Agora vem aquela parte de a polícia entrar, os traficantes fugirem e a situação se acalmar até o próximo capítulo."

"A gente não devia se acostumar com isso porque indica que alguma coisa está muito errada. Mas vivemos assim, de tiroteio em tiroteio, de operação em operação", resumiu a faxineira Maria Helena, de 59 anos, 28 deles vividos na Rocinha.

Críticas

Especialistas em segurança criticaram duramente a demora da ação das autoridades. "Só hoje (ontem, 22) foi criado um gabinete de crise", apontou a cientista social Sílvia Ramos, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes.

"O cenário é de caos e desorganização", resumiu o sociólogo Ignácio Cano, do Laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Para a coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania, a socióloga Julita Lemgruber, as ações de ontem, 22, revelam "que o Rio não tem uma política de segurança e o governo federal não tem plano de segurança".

O problema causou desconforto em Brasília. O presidente Michel Temer fez questão de discutir a situação, também preocupado com o que pode acontecer no Estado e as repercussões disso para sua imagem - o temor era de que alguma situação mais violenta acontecesse no período de Rock in Rio.

Embora sempre achem que as forças de segurança locais é que têm de estar à frente da segurança pública, oficiais-generais ouvidos pelo Estado estavam acompanhando o problema crescer dia a dia e estranhavam o fato de nenhum pedido de ajuda ser feito. Se surpreenderam, mais ainda, quando, por meio do Twiter, o governo do Rio pediu às Forças Armadas nesta semana o patrulhamento de 103 pontos, trabalho que consideravam ineficaz e desgastante para as tropas federais.

Esses mesmos militares lembravam que havia mais de 30 dias o Estado do Rio não apresentava nenhuma demanda às Forças Armadas. Eles cobram mudanças na política de segurança, com foco no crime organizado, incluindo a realização de vistorias em presídios. No caso do Rio, essa proposta nunca teria sido acolhida pelo Estado.

Ainda ontem, 22, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, se reuniu com a procuradora-geral, Raquel Dodge, e sugeriu uma força-tarefa federal, com o Ministério Publico e Polícia Federal, para combater a criminalidade crescente no Rio. Na conversa, Raquel fez a sugestão de instalar parlatórios nos presídios para dificultar a comunicação dos detentos com a parte externa das cadeias.

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